Saturday, November 30, 2019

Já agora, mais um foco de confusão na América do Sul

Atenção ao Suriname, onde o presidente (em visita à China) foi condenado por homicídio.

Contexto:

The December murders (Dutch: Decembermoorden) were the murders on 7, 8, and 9 December 1982, of fifteen prominent young Surinamese men who had criticized the military dictatorship then ruling Suriname. Thirteen of these men were arrested on December 7 between 2 AM and 5 AM while sleeping in their homes (according to reports by the families of the victims). The other two were Surendre Rambocus and Jiwansingh Sheombar who were already imprisoned for attempting a counter-coup in March 1982. Soldiers of Dési Bouterse, the then dictator of Suriname, took them to Fort Zeelandia (the then headquarters of Bouterse), where they were heard as 'suspects in a trial' by Bouterse and other sergeants in a self-appointed court. After these 'hearings' they were tortured and shot dead. The circumstances have not yet become completely clear; on December 10, 1982, Bouterse claimed on national television that all of the detainees had been shot dead 'in an attempt to flee'.(Wikipedia).

Governo alemão à beira de cair?

 SPD alemão elege dois novos líderes que parecem querer acabar com a coligação.

Germany's SPD elects Walter-Borjans and Esken as new leaders (DW):

Party members elected Norbert Walter-Borjans and Saskia Esken to head Germany's center-left Social Democrats (SPD) on Saturday.

Some 425,630 members of the center-left party were eligible to take part in the vote. The election result still needs to be confirmed at a party conference slated to run from December 6 – 8.

Should the two be confirmed as party leaders, their first order of business will be deciding whether to stay in a coalition government with Chancellor Angela Merkel's conservative Christian Democrats(...).

Opposition to remaining in the coalition came from the ultimately victorious opposition candidates Norbert Walter-Borjans, a former state finance minister, and SPD lawmaker Saskia Esken. The two said they would be willing to leave the coalition unless Merkel's conservatives renegotiated their coalition agreement — something the CDU has rejected.

Tuesday, November 26, 2019

A influência dos boots russos afinal é pouco mais que fake news

Assessing the Russian Internet Research Agency’s impact on the political attitudes and behaviors of American Twitter users in late 2017, por Christopher A. Bail, Brian Guay, Emily Maloney, Aidan Combs, D. Sunshine Hillygus, Friedolin Merhout, Deen Freelon, e Alexander Volfovsky:

While numerous studies analyze the strategy of online influence campaigns, their impact on the public remains an open question. We investigate this question combining longitudinal data on 1,239 Republicans and Democrats from late 2017 with data on Twitter accounts operated by the Russian Internet Research Agency. We find no evidence that interacting with these accounts substantially impacted 6 political attitudes and behaviors.

Friday, November 22, 2019

N-ésima prova de que a extrema-direita não se baseia nas redes sociais

Right-Wing Populism, Social Media and Echo Chambers in Western Democracies[pdf], por Shelley Boulianne, Karolina Koc-Michalska, and Bruce Bimber (via Tyler Cowen):

Many observers are concerned that echo chamber effects in digital media are contributing to the polarization of publics and in some places to the rise of right-wing populism. This study employs survey data collected in France, the United Kingdom, and United States (1500 respondents in each country) from April to May 2017. Overall, we do not find evidence that online/social media explain support for right-wing populist candidates and parties. Instead, in the USA, use of online media decreases support for right-wing populism. 
Isto é mais ou menos o que eu já tinha dito aqui;
Vamos puxar um bocadinho pela cabeça - é mais ou menos sabido que Trump, o Brexit, o FPOe austríaco, etc., têm tido as suas maiores votações nas pequenas localidades, entre as pessoas mais velhas e com menos instrução (a parte das localidades é sabido - basta ver os resultados; a parte do "pessoas mais velhas e com menos instrução" pode não ser assim tão linear, mas é o que as sondagens indicam); parecem-lhes mesmo o tipo de pessoa que passa o dia no Facebook, talvez com um intervalinho para jogar no Farmville ou para ver um filme no Netflix? Eu imagino-os mais facilmente no café do bairro a queixarem-se que "os miúdos de hoje estão sempre agarrados à máquina e já não fazem desporto nem convivem".
[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

A policia lançando gás lacrimogénio sobre a marcha com os mortos nos protestos bolivianos

Thursday, November 21, 2019

Os robots estão a substituir os trabalhadores humanos?

No, data doesn’t support theory that robots are replacing human workers, por Noah Smith:

If firms are adding robots to production, it should show up as accelerating productivity. But labour productivity growth has slowed to a crawl since 2010.

Tuesday, November 19, 2019

Os arquivos secretos da "guerra suja" na Argentina

Secret US Intelligence Files Provide History’s Verdict on Argentina’s Dirty War, por Peter Kornbluh (The Nation):

Recently declassified documents constitute a gruesome and sadistic catalog of state terrorism.

José Mário Branco - "Nada os Salvará"

Sunday, November 17, 2019

Governo boliviano ameaça prender deputados "subversivos" ou "sediciosos"

El nuevo Gobierno boliviano detendrá a diputados del partido de Evo Morales responsables de "subversión y sedición" (Europapress).

A presidente "interina" da Bolívia comportando-se como se fosse definitiva

In Bolivia, Interim Leader Sets Conservative, Religious Tone, por (New York Times):

The leader, Jeanine Añez, promised to unify a nation in turmoil. But her initial steps, taking the country rightward and injecting religious themes, risk deepening the divide. (...)

“Without a popular mandate, they are pushing forward some of the most objectionable aspects of their agenda,” Javier Corrales, a Latin American politics professor at Amherst College in Massachusetts, said of the country’s new leaders. “They seem to be thinking that what Bolivia needs right now is a purge, and not conciliation.”

A maior vaga de movimentos de protesto na história da humanidade?

This may be the largest wave of nonviolent mass movements in world history. What comes next? (Monkey Cage - Washington Post)

Friday, November 15, 2019

O Gulag era diferente de Auschwitz

Anne Applebaun, em Gulag - Uma História dos Campos de Prisioneiros Soviéticos, (páginas 23-25):

Nada  disso  significa  que  os  campos  soviéticos  e  nazistas  fossem  idênticos. Conforme   qualquer   leitor   com   algum   conhecimento   geral   do   Holocausto  descobrirá  no  decorrer  deste  livro,  a  vida  no  sistema  de  campos  soviético  diferia  de  muitas  maneiras  (quer  sutis,  quer  óbvias) da  vida  no  sistema  de  campos  nazista.  Havia  diferenças  na  organização  do  cotidiano  e  do  trabalho,  diferentes  tipos  de  guardas  e  punições,  diferentes  tipos  de  propaganda.  O Gulag  durou  muitíssimo  mais  e  passou  por  ciclos  de  relativa  crueldade  e  relativa humanidade. A história dos campos nazistas é mais curta e apresenta  menos  variações:  eles  simplesmente  se  tornaram  cada vez  mais  cruéis,  até  serem  destruídos  pelos  alemães  em  retirada  ou  libertados  pelos  Aliados.  O Gulag  também  continha  variedade  maior  de  campos,  desde  as  letais  minas  auríferas  da  região  de  Kolyma  até  os "luxuosos"  institutos  secretos  nas  cercanias  de  Moscou,  onde  cientistas  aprisionados  projetavam  armas  para  o Exército  Vermelho.  Embora  existissem  diferentes  espécies  de  campo  no  sistema nazista, a gama era muitíssimo menor.

Sobretudo,  duas  diferenças  entre  os  sistemas  me  parecem  fundamentais.  Em  primeiro  lugar,  a  definição  de  "inimigo"  na  URSS  sempre  foi  muito  mais  vaga  que a de "judeu" na Alemanha nazista. Nesta, com número muito pequeno de  exceções  incomuns,  nenhum  judeu  podia  alterar  sua  condição,  nenhum  judeu  preso num campo podia ter esperança racional de escapar à morte, e todos os  judeus  estavam  cientes  disso  o  tempo  todo.  Embora  milhões  de  prisioneiros  soviéticos  temessem  pela  própria  vida  -  e  milhões  deles  tenham  realmente  morrido -,  não  havia  nenhuma  categoria  de  prisioneiro  cuja morte  estivesse  absolutamente  garantida.  Por  vezes,  certos  presos  podiam  melhorar  sua  situação   em postos de trabalho relativamente   confortáveis, como os de engenheiro ou geólogo. Em cada campo, havia uma hierarquia de prisioneiros, na  qual  alguns  eram  capazes  de  subir  à  custa (ou  com a ajuda) de  outros.

Outras vezes - quando o Gulag se via sobrecarregado de mulheres, crianças e  idosos,  ou  quando  se  necessitava  de  soldados  para  a frente  de  batalha  -,  os  presos  era  soltos  graças  a  anistias  maciças.  Em  certos  momentos,  acontecia  que  categorias  inteiras  de  "inimigo"  se  beneficiavam  subitamente  de  uma  mudança de condição. Em 1939, por exemplo, no começo da Segunda Guerra Mundial,  Stalin  prendeu  centenas  de  milhares  de  poloneses  -  e  depois,  em 1941,  ele  os  libertou  de  chofre,  quando  a  Polônia  e a  URSS  se  tornaram  temporariamente aliadas. O oposto também se aplicava: na URSS, os próprios  opressores  podiam  virar  vítimas.  Guardas  e  administradores  do  Gulag  e  até  altos  funcionários  da  polícia  secreta  também  podiam  ser  aprisionados  e  condenados   aos   campos.   Em   outras   palavras,   nem   todas as "víboras"  conseguiam  manter  as  presas  -  e  não  havia  nenhum  grupo  específico  de  prisioneiros soviéticos que vivesse na expectativa  constante da morte.

Em segundo lugar (conforme, mais uma vez, ficará claro no decorrer do livro), o  propósito  primordial  do  Gulag,  segundo  tanto  a  linguagem  privada  quanto  a  propaganda  pública  daqueles  que  o  fundaram,  era  econômico.  Isso  não  significa  que  o  sistema  fosse  humanitário.  Nele,  os prisioneiros  eram  tratados  como  gado,  ou  melhor,  como  pedaços  de  minério  de  ferro.  Os  guardas  os  faziam ir para lá e para cá a seu bel-prazer, embarcando-os e desembarcando- os  de  vagões  de  gado,  pesando-os  e  medindo-os,  alimentando-os  se  parecia  que poderiam vir a ser úteis, deixando-os à míngua  quando não o eram. Para  usarmos  a  linguagem  marxista,  os  prisioneiros  eram  explorados,  reificados  e  mercantilizados. A menos que fossem produtivos, suas vidas não valiam nada  para seus senhores.

Sua  vivência,  porém,  era  muito  diferente  daquela  dos  judeus  e  dos  outros  prisioneiros que os nazistas enviavam para um grupo especial de campos que  se  chamavam  não  Konzentrationslager,  mas  Vernichtungslager  -  campos  que  não  era  realmente  "campos  de  trabalhos  forçados",  e  sim  usinas  da  morte. Havia  quatro  deles:  Belzec,  Chelmno,  Sobibor  e  Treblinka.  Já  Majdanek  e Auschwitz  continham  tanto  campos  de  trabalhos  força dos  quanto  campos  de  extermínio.  Ao  entrarem  nesses  campos,  os  prisioneiros  passavam  por  uma "seleção".   Um   número   ínfimo   era   designado   para   algumas   semanas   de  trabalhos  forçados.  O  restante  era  mandado  direto  para  as  câmaras  de  gás,  onde os assassinavam e então cremavam de imediato.

Até  onde  pude  comprovar,  essa  forma  específica  de  homicídio,  praticada  no  auge do Holocausto, não teve equivalente na URSS. É bem verdade que esse último  país  encontrou  outras  maneiras  de  chacinar  centenas  de  milhares  de  cidadãos.  Geralmente,   eles   eram   conduzidos  à   noite  para   uma  floresta,  alinhados,  baleados  na  nuca  e  enterrados  em  sepulturas  coletivas  antes  mesmo  de  chegarem  perto  de  um  campo  de  concentração -  modalidade  de  homicídio  não menos  "industrializada"  e  anônima  que a usada  pelos  nazistas. Há   mesmo   histórias   de   que   a   polícia   secreta   soviética   usou   gás   de  escapamento  (uma  forma  primitiva  de  gás  venenoso)  para  matar  prisioneiros,  da   mesma   forma   que   os   nazistas   fizeram   no   começo. No   Gulag,   os  prisioneiros também morriam, em geral graças não à  eficiência dos captores, e  sim  à  incompetência  e  à  negligência  crassas. Em  certos  campos  soviéticos em   determinadas   épocas,   a   morte   era   praticamente   certa   no   caso   dos escolhidos  para  cortar  árvores  nas  florestas  hibernais  ou  trabalhar  nas  piores minas  auríferas  de  Kolyma.  Prisioneiros  também  eram trancados  em  celas punitivas  até  morrerem  de  frio  ou  inanição,  largados  sem  tratamento  em hospitais  subaquecidos  ou  simplesmente  baleados  por  "tentativa  de  fuga" quando dava na telha dos guardas. Entretanto, o sistema soviético de campos como um todo não era propositalmente organizado para produzir cadáveres em escala industrial - mesmo que às vezes o resultado fosse esse.

São distinções sutis, mas importantes. Embora o Gulag e Auschwitz realmente  pertençam  à  mesma  tradição  intelectual  e  histórica,  eles  ainda  assim  são  fenômenos separados e diferentes, tanto um do outro quanto dos sistemas de  campos  estabelecidos  por  outros  regimes.  A  idéia  de campo  de  concentração  talvez seja genérica o bastante para que a usem em  culturas e situações muito  diversas,  mas  até um estudo  superficial  da história transcultural  desse  tipo  de  campo revela que os detalhes específicos - como se  organizava a vida, como o  estabelecimento   se   desenvolvia   no   decorrer   do   tempo, quão rígido ou  desorganizado  se  tornava,  quão  cruel  ou  liberal  permanecia  -  dependiam  do  país, do regime político e da cultura. Para quem estava encurralado atrás do arame farpado, esses detalhes eram cruciais para a vida, a saúde e a sobrevivência.
[Post publicado no Vias de Facto, podem comentar lá]

A nova nova extrema-direita nos EUA (II)

Charlie Kirk's Culture War, Groypers, Nickers and Q&A-trolling (Diggit Magazine):

The Culture War college tour started on 7 October at the University Of Nevada in Reno, after which the show moved to Grand Canyon University in Phoenix on 21 October, the Colorado State University in Fort Collins and the University of Iowa on 23 and 24 October. The next day, the tour stopped at the University of New Hampshire. During these last stops of the tour a new phenomenon became visible. More and more new self-declared ‘dissident right’ activists used the opportunity of the Q&A sessions of the show to frame Kirk and what they see as 'The Conservative, Inc.’ as imposters and fake conservatives. (...)

In 2019, the Groypers can best be understood as a (new) network of young radical Christian conservative activists, shitposters and trolls circling around the Twitter account of @thatgroyper. Many of them use ‘Groyper’ in their profile name. They are white nationalist, deeply conservative, Christian new right revolutionaries opposing the US alliance with Israel, LGBTQs and the left in General. The Groyper network is know as to coordinate targeted harassment against 'cucks' and 'faggots'.

O terror policial nos bairros pobres da Venezuela

Elite police force spreads terror in the barrios of Venezuela por Sarah Kinosian e Angus Berwick (Reuters).

Thursday, November 14, 2019

Ainda as recordações da queda do Muro de Berlim

Depois das minhas memórias e das do POUS, temos também as da Tendência Comunista Internacionalista (na altura "Instituto Internacional para o Partido Revolucionário"), um grupo derivado das facções que Lenin criticou em "O Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo":

9 November 2019

Crisis of Communism or Crisis of Capitalism?

(...) By the beginning of the Twenties then, the revolutionary state was almost completely devoid of the political content it had had in 1917. The state had now taken on the form of a bureaucratic administration that was now subsumed to a centralised, planned, capitalism where every single productive energy had to be channelled towards the accumulation of capital which, even though it was no longer private, was still capital. (...)

But if socialisation is to become more than a mere precondition and have a working 'juridical' structure, the latter has to be connected to a real social content, that is to a socialist development of the forces of production and distribution. In this case, and only in this case, "juridical form" and social content come together and influence each other to give life to a new social dimension. In this collective management from below leads to economic development while the productive apparatus in turn satisfies the needs of the collectivity. In every other case the only thing that can emerge is an insurmountable division between the first and the second (i.e. juridical and productive relations) which removes any meaningful content from either.
[Via Libcom]


Estar contra o novo regime boliviano não significa estar a favor de Morales

They are not Evo supporters! They are Alteños, dammit!, texto do Colectivo El Curva publicado no Libcom:

Statement from Colectivo Curva on the resistance of the people of El Alto in response to the ongoing coup attempt in Bolivia. Based in El Alto themselves, Colectivo Curva argue that the native peoples of El Alto remember their history of struggle against the Morales government: they do not fight for him and his party, but against an attack on their communities from the far-right coup plotters.

Wednesday, November 13, 2019

A nova "presidente" da Bolívia

Jeanine Añez Chavez tomou posse como presidente da Bolívia ("presidente constitucional", como ela se proclama no Twitter); diga-se que a constituição boliviana não é muito clara sobre o que acontece se o presidente, o vice-presidente, o presidente do senado e o presidente da câmara dos deputados se demitirem[pdf] (e de qualquer maneira a reunião do parlamento em que ela assumiu o cargo não tinha quorom porque os deputados do MAS não participaram):

En caso de impedimento o ausencia definitiva de la Presidenta o del Presidente del Estado, será reemplazada o reemplazado en el cargo por la Vicepresidenta o el Vicepresidente y, a falta de ésta o éste, por la Presidenta o el Presidente del Senado, y a falta de ésta o éste por la Presidente o el Presidente de la Cámara de Diputados. En este último caso, se convocarán nuevas elecciones en el plazo máximo de noventa días (artº 169º, ponto 1).

Parece que o tribunal constitucional da Bolívia disse que a posse dela era legítima, mas a esse respeito já alguém escreveu "A constitutional court also said Morales could run again in spite of an obvious constitutional prohibition against it. I'm not sure Bolivia's constitutional court is doing the best job checking the power of the presidency."

Alguns comentários que li por aí à sua posse:

Além disso, consta que ela terá publicado isto no Twitter (e posteriormente apagado):

É possível que isto seja fake, já que não se encontra o original em lado nenhum; num entanto, usando a Wayback Machine é possivel recuperar este tweet dela, também apagado, onde ela me parece associar o ano novo aymara ao satanismo:


[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

Muros a proibir de sair são assim tão diferentes de muros a proibir de entrar?

The Berlin Wall: In or Out?, por Bryan Caplan:

Almost everyone sees the Berlin Wall as an unmistakable sign of evil.  So do I.  What puzzles me, though, is why so few people wonder, “Why aren’t other countries’ walls morally comparable?”  The standard answer, of course, is that decent countries build walls to keep people “out,” while East Germany built the Berlin Wall to keep people “in.”  But this is a lot of moral work to hang on two prepositions. (...)

To make the hypothetical even starker: Imagine the East Germany government legally granted independence to a one-mile strip of land along its entire border.  Call it Mauerland.  All of the citizens of Mauerland are former officers of the East German border guard; their country is just one big, deadly wall.  East Germany then abolishes all laws against emigration; everyone is free to leave.  Unfortunately, the sovereign state of Mauerland refuses to grant visas or overflight permission to anyone without the East Germans’ approval.  When challenged, they say, “Mauerland, like the United States, has every right to keep foreigners out.  You keep out Mexicans.  We keep out East Germans.”
Já agora, uma coisa que me ocorreu - se Trump realmente conseguir que o México pague o tal muro, nesse caso contará como um muro para não entrar ou para não sair?

A teoria litio → queda de Morales é duvidosa

Bolivia: lithium interests at play in Evo's ouster?, por Bill Weinberg (CounterVortex):

Bolivia's government issued a decree cancelling a massive joint lithium project with German multinational ACI Systems Alemania (ACISA)—just days before the ouster of President Evo Morales. The move came in response to protests by local residents in the southern department of Potosí, where the lithium-rich salt-flats are located. Potosí governor Juan Carlos Cejas reacted to the cancellation by blaming the protests on "agitators" seeking to undermine development in the region. (DW, Nov. 4)

(...)

Which is why the breathless headlines implying a cause-and-effect relationship between the deal's cancellation and Evo's ouster (e.g. CommonDreams' "Bolivian Coup Comes Less Than a Week After Morales Stopped Multinational Firm's Lithium Deal") are missing some important context—and arguably reading things almost backwards. The anti-mining protests in Potosí were part of the general upsurge against Morales, and the deal's cancellation came two weeks into the national protest campaign demanding his ouster. (...)

So avoid the temptation of conspiracy theory. Lithium may be a piece of the overall scenario in Bolivia, but nothing suggests it was the central one. Evo's cancellation of the project was a capitulation to protests—so it isn't like the protests were being inflamed by the lithium interests or local brokers who stood to profit. On the contrary, the local brokers were MAS politicians and Evo's allies.

Tuesday, November 12, 2019

Golpes versus revoltas populares?

Bolivia Crisis Shows the Blurry Line Between Coup and Uprising, por Max Fischer (New York Times):

President Evo Morales’s resignation has provoked international debate about how to characterize the turmoil in Bolivia: Is it an uprising or a coup? (...)

But the coexistence of the two interpretations hints at an important truth, scholars say: The line between coups and revolts can be blurry, even nonexistent.

Often, they are one and the same: mass public uprisings alongside military defections that compel the resignation or removal of a country’s leader.

Thatcher, heroína eco-animalista?

Pelo menos muitos vegans hoje em dia deveriam adorar a sua política como ministra da Educação - isso para não falar no seu papel no combate aos CFCs e na defesa da camada do ozono (o ela ter sido uma espécie de química antes de se tornar política ajudou).

O "estado social" foi criado por reação ao comunismo? (III)

Talvez (ou muito provavelmente); mas não me parece que se possa concluir daqui uma relação inversa - de que foi o colapso dos regimes comunistas em 1989-91 que abriu caminho ao desmantelamento do "estado social"; Reagan, Thatcher e afins puseram as suas políticas em prática ainda a URSS estava aparentemente de pedra e cal.

Mais, arrisco-me a dizer que, a partir de certa altura, a existência da URSS (quando já toda a gente via a monstruosidade que esses regimes eram) começou a funcionar como um argumento a favor do liberalismo económico, apresentando tímidas medidas redistributivas como um prólogo do comunismo ("Querem leite à borla nas escolas? Vocês devem querer é um regime como a Rússia, em que quem não concorda ou é morto ou é mandado para a Sibéria! Se gostam tanto disso, porque é que não vão para lá?!"). Suspeito até que a pequena viragem ao centro-esquerda que as democracias ocidentais tiveram nos anos 90 (começada com a eleição de Clinton em 1992) foi potenciada por a direita já não ter o papão comunista para agitar.

O "estado social" foi criado por reação ao comunismo? (II)

Rorming to Survive:The Bolshevik Origins of Social Policies, por Magnus Bergli Rasmussen e Carl Henrik Knutsen:

The Bolshevik Revolution brought profound social changes to the modern world. This worker-led revolution, with aspirations far beyond the country of origin, became a threat and symbol of revolution to ruling elites around the world. We develop a theory of how elites provide policy concessions when they face credible threats of revolution, highlighting how motivation and capacity of opposition groups influence threats, but also how elites’ absorption and interpretation of information signals matters. The Bolshevik Revolution and the formation of Comintern effectively enhanced elites’ perceptions of a credible revolutionary threat, as it affected both the capacity and motivation of labor movements, but also the nature and interpretation of information signals, thus incentivizing policy concessions such as reduced working hours and expanded social transfer programs. We assess our argument by using original qualitative and quantitative data. First, using extensive archival resources, we document a change in perceptions of revolution, but also explicitly strategic policy concessions. Second, we use party- and union representatives at the 1919 Comintern meeting as an indicator of the credibility of the domestic revolutionary threat in cross-national analysis. We find that states facing higher revolutionary threats expanded various social policies to a much greater extent.

O "estado social" foi criado por reação ao comunismo? (I)

A spectre has haunted the west: did socialism discipline income inequality?, por André Albuquerque Sant'Anna:

The aim of this paper is to discuss the role of the existence of a powerful socialist bloc as a disciplining device to inequality in western countries. The recent literature on top income inequality has emphasized explanations that go beyond the marginal productivity framework to explain top incomes. Usually the literature points to domestic factors such as top income tax rates and bargaining power. (...) In order to test our hypothesis, we run a panel of 18 OECD countries between 1960-2010. We find a robust and negative significant relation between Soviet Union’s relative military power and top income shares.

A nova nova extrema-direita nos EUA

Donald Trump Jr walks out of Triggered book launch after heckling – from supporters (The Guardian):

Donald Trump Jr ventured on to the University of California’s overwhelmingly liberal Los Angeles campus on Sunday, hoping to prove what he had just argued in his book – that a hate-filled American left was hell-bent on silencing him and anyone else who supported the Trump presidency.

But the appearance backfired when his own supporters, diehard Make America Great Again conservatives, raised their voices most loudly in protest and ended up drowning him out barely 20 minutes into an event scheduled to last two hours. (...)

At first, Trump and Guilfoyle tried to ignore the discontent, which originated with a fringe group of America Firsters who believe the Trump administration has been taken captive by a cabal of internationalists, free-traders, and apologists for mass immigration. (...)

The fiasco pointed to a factional rift on the Trump-supporting conservative right that has been growing rapidly in recent weeks, particularly among “zoomers” – student-age activists. On one side are one of the sponsors of Trump Jr’s book tour, Turning Point USA, a campus conservative group with a track record of bringing provocative rightwing speakers to liberal universities.

On the other side are far-right activists – often referred to as white supremacists and neo-Nazis, although many of them reject such labels – who believe in slamming the door on all immigrants, not just those who cross the border without documents, and who want an end to America’s military and diplomatic engagement with the wider world.

A number of the loudest voices at Sunday’s event were supporters of Nick Fuentes, a 21-year-old activist with a podcast called America First that has taken particular aim at Turning Point USA and its 25-year-old founder, Charlie Kirk. In a number of his own recent campus appearances, Kirk has faced questions accusing him of being more interested in supporting Israel than in putting America first.
A respeito disto, uma thread no Twitter por Matthew Sheffield, explicando em mais pormenor o conflito entre o mainstream trumpista e o grupo de Nick Fuentes (que têm como mascote um sapo ligeiramente diferente de Pepe the Frog). Também The American Conservative falou dele há uns tempos, no contexto de uma comparação com Marc Rubio - Rubio And The Rise Of The Neoreactionaries (por Michael Warren Davis):

There’s a certain Poundian mystique surrounding Nicholas J. Fuentes and the Groyper movement. The Groypers, apparently, are like the alt-right without the racism. They’re also much younger: they’re “Zoomers,” or Generation Z, not Millennials. According to the great Ben Sixsmith: “They focused on promoting themselves as ‘America First’ nationalists and valued ‘good optics,’ which entailed humor more than outrage, Old Glory and not Nazi flags, Christianity and not paganism, and clever trolling operations and not public rallies.”

Yet Mr. Fuentes’ humor hints strongly at Holocaust denial, and he’s expressed his wish that antifa was actually “fa” so he could join in. “If they were waving the banner of Falangism, if they were waving the banner of Franco, and they were saying ‘Catholic fascism now,’ I would join them,” he said. “I would become a part of antifa. I would welcome antifa. Yes: take over the country. Storm DC. Take over the Capitol.”>

This may hit a little too close to home for some of my fellow Millennials. Many reactionaries go through a phase where they feel the need to defend “good” fascists—Mussolini, Dollfuss, and Petain—as opposed to “bad” fascists like Hitler and Rockwell.

Monday, November 11, 2019

O que é um "golpe de estado"?

Golpes con adjetivos: no todo es lo que parece, por Andrés Malamud e  Leiv Marsteintredet.



Mais outro artigo sobre a Bolívia

Bolivia: The Extreme Right Takes Advantage of a Popular Uprising , por Raul Zibechi:

What caused the fall of the government of Evo Morales in Bolivia is an uprising by the people of Bolivia and their organizations. Their movements demanded his resignation before the army and police did. The Organization of American States sustained the government until the bitter end.(...)
The social mobilization and the refusal of movements to defend what in another moment they considered to be “their” government was what precipitated Morales’ resignation. That is made clear by the declarations by the Workers’ Central of Bolivia (COB), the teachers and authorities of the Public University of El Alto (UPEA), and dozens of other organizations, including Mujeres Creando, which has been perhaps the clearest of all. The Latin American left appears unable to accept that a considerable segment of popular movements demanded the resignation of the government, because they can’t see beyond the leaders (los caudillos).

(...)

We cannot forget that in this moment there is a serious danger that the racist, colonial and patriarchal right manages to take advantage of this situation to impose rule and provoke a bloodbath. The revanchist social and political desires of the dominant classes is as present as it has been over the last 500 years, and must be stopped without any hesitation.

E de novo a Bolívia (isto há de ser um tema muito badalado nos próximos dias)

Bolivia Government Change - November 2019, por James Bosworth;

The next week will shape the transition. If Bolivia fights over its interim president or if the military continues to involve itself in politics, a swift and smooth transition back to elected leadership becomes unlikely. If the new leadership targets Morales and his MAS supporters, it makes it more likely they will disavow the next election and question the legitimacy of the next government. Political retribution and violence also increases the potential the Morales and MAS work to toss out the next president and/or regain power in ways that go against democratic norms.

Ainda sobre a Bolívia e Evo Morales

Pelos vistos, as duas coisas

Golpe de Estado ou fraude eleitoral? Bolívia divide América latina

Sunday, November 10, 2019

A política da Rua Sésamo

O programa "Rua Sésamo" começou a ser transmitido nos EUA a 10 de novembro de 1969, faz hoje  50 anos (começou a dar em Portugal em 1989 já eu teria uns 15 ou 16 anos, pelo acho que nunca o vi). Ao contrário do que se poderia pensar, em certos quadrantes chegou a geral algumas polémicas:

The Way to Sesame Street, por Jesse Walker, na Reason (novembro de 2009):

The show emerged from the same Great Society milieu that had produced the Head Start preschool program. That guaranteed it would be a magnet for controversy. In his 2006 book Sesame Street and the Reform of Children's Television, the historian Robert Morrow notes that preschool in the '60s was frequently framed as a project for the impoverished, who were presumed to suffer from "cultural deprivation." Not surprisingly, many poor people found this attitude haughty and high-handed. The middle class, meanwhile, often saw the home as "a haven to be protected from intrusions by educators as well as by television." (...)

Inevitably, there were culture war controversies. Feminists complained that one human character, Susan, was too much of a traditional homemaker; conservatives grumbled that another woman, Maria, was too feminist. Morrow quotes a leftist viewer's complaint that the "cat who lives in the garbage can should be out demonstrating and turning over every institution, even Sesame Street, to get out of it." More broadly, there were the anxieties that always attach themselves to a centralized medium beaming unvetted images and ideas into the home. Marie Winn, author of the TV-bashing book The Plug-In Drug, spoke for many Americans when she warned that the program was "promoting television viewing even among parents who might feel an instinctive resistance to plugging such young children in." Monica Sims, an official at the BBC, felt the show's attempts to mold children's behavior were a form of "indoctrination" with "authoritarian aims."
E, para um artigo ainda mais antigo e claramente crítico, Big Bird, Meet Dick and Jane, de John Holt (o inspirador da que podemos chamar a "ala esquerda" do ensino doméstico), publicado em The Atlantic em maio de 1971:
The operating assumption of the program is probably something like this: poor kids do badly in school because they have a “learning deficit." Schools, and school people, all assume that when kids come to the first grade they will know certain things, be used to thinking and talking in a certain way, and be able to respond to certain kinds ul questions and demands. Rich kids on the whole know all this; poor kids on the whole do not. Therefore, if we can just make sure that the poor kids know what the rich kids know by the time they get to school, they will do just as well there as the rich kids. So goes the argument. I don’t believe it. Poor kids and rich kids are more alike when they come to school than is commonly believed, and the difference is not the main reason poor kids do badly when they get there. In most ways, schools are rigged against the poor; curing “learning deficits,” by Head Start, Sesame Street , or any other means, is not going to change that.
E uma polémica mais recente - a semi-privatização da série, em que os episódios agora passam primeiro na HBO e só depois em canal aberto, na rede pública de televisão, o que tem sido criticado porque irá exatamente contra o espírito de uma série criada com a intenção de dar apoio educacional às crianças pobres.

As eleições que não dão em nada

The age of democratic deadlock, por Gideon Rachman (Financial Times):

Spain will hold an election — for the fourth time in less than four years — on November 10. But there is little prospect that any party will emerge with enough seats to break the country’s political deadlock. There is a similar situation in Israel, where political parties are still struggling to form a government, after elections in September failed to resolve the stalemate that followed the April elections. So Israel now seems likely to end up staging three polls within one calendar year.

Welcome to the age of democratic deadlock. Countries call an election, only to find that it settles nothing.

Saturday, November 09, 2019

Ainda a queda do Muro de Berlim

Este artigo do Partido Operário de Unidade Socialista, «A queda do Muro de Berlim: “O povo somos nós!”», relembrando os comunicados dos seus camaradas alemães nos dias de antes da queda do muro; chamou-me a atenção exatamente porque sinto uma semelhança com as minhas próprias memórias de 89/90.

Polícia boliviana a abandonar o governo?

Bolivian police 'mutiny' in opposition to Evo Morales (The Guardian):

Police in at least three Bolivian cities have declared mutinies and joined anti-government protests – a possible indication that parts of the security forces may be withdrawing their backing for President Evo Morales after weeks of unrest over disputed election results.

Bolivia’s defence minister, Javier Zavaleta, said on Friday that no military action would be taken against the police involved for now and the government would not mobilise troops as tens of thousands of Bolivians took to the streets in cities across the country.

A reação de um extremista de esquerda de 16 anos à queda do Muro de Berlim

9 de novembro de 1989.

Cinco meses antes, em março e abril, tinha havido as primeiras eleições na URSS em que, desde o princípio dos anos 20, tinha havido algo parecido com candidatos da oposição; em abril tinham começado protestos na China, na sequência da morte de Hu Yaobang (um dirigente reformista do PC, demitido por alegadamente ter sido muito tolerante com outros protestos em 1986-87) e durante quase dois meses era tema central dos telejornais a enorme manifestação de estudantes na Praça Tienanmen (cantando, note-se, A Internacional). Mas, a 4 de junho, o mundo acordou com duas noticias (ou pelo menos foram as duas noticias que abriram o jornal das 13 da RTP desse domingo) - uma a morte do ayatollah Khomeini do Irão; outra que o exército tinha avançado sobre os manifestante de Pequim, provocando cerca de 4 mil mortos. Ao fim do dia, outra noticia - nas eleições polacas, nos poucos círculos eleitorais em que o governo comunista tinha permitido candidaturas oposicionistas, o Solidariedade teve uma vitória esmagadora e ganhou, penso todos os lugares - no entanto, aparentemente os comunistas (isto é, o Partido Operário Unificado Polaco - em muitos países de Leste, o partido comunista não se chamava Partido Comunista) e os seus dois partidos-fantoches (o ZSL - Partido Popular Unido, camponês, e a SD- Aliança dos Democratas) continuavam a ter a maioria do parlamento.

No entanto, em agosto dá-se uma reviravolta - o ZSL e a SD mudam de campo e aliam-se ao Solidariedade; a nova aliança tem a maioria no parlamento e pela primeira vez o partido comunista é afastado do governo de um país do bloco soviético; em outubro, uma segunda baixa - o Partido Socialista Operário Húngaro muda o nome para Partido Socialista Húngaro, o que é descrito por toda a gente como "os comunistas húngaros passaram a socialistas" (para falar a verdade, se ligarmos só à mudança de nome oficial, não me pareceu uma mudança muito grande, de "Socialista Operário" para "Socialista"); o governo húngaro já havia largamente aberto a fronteira com a Áustria,  e em breve os alemães orientais começam a fazer em massa o percurso RDA-Checoslováquia-Hungria-Áustria-RFA. Em outubro, o líder comunísta da RDA, Erich Honnecker, é substituído por Egon Krenz; no entanto, os cidadãos da RDA acham que é uma mudança cosmética e generalizam-se os protestos contra o regime, que atingem o seu pico na manifestação de 4 de novembro.

Finalmente, na manhã de 9 de novembro o governo da RDA dá ordens para abrir as portas do Muro de Berlim; e o resto é história, como se diz.

Após esta pequena introdução, vamos ao que interessa - o que é que um extremista de esquerda português, um estudante de 16 anos, que pouco antes se tinha convertido ao trotskismo (ou ao que ele considerava "trotskismo" - mais à frente explico), pensou dos acontecimentos.

Para começar, alguns estarão a pensar "trotskista aos 16 anos? Isso não é muito cedo para alguém lhe dar essas pancadas?"; mas penso que não - isto é, a maior parte das pessoas nunca lhes chega a dar para isso, mas os que andam ou andaram por esses caminhos acho que começam quase todos por essa idade, mais ano menos ano.

Em segundo lugar, uma coisa que logo na altura notei, e que continuo a notar hoje em dia, é enorme confusão que quase toda a gente da direita e do centro (e também os apolíticos) fazia e faz entre a extrema-esquerda e os Comunistas-com-C-grande; na verdade, sobretudo até 1989, a divisão era clara: os Comunistas-com-C-grande defendiam a URSS, enquanto a extrema-esquerda (pelo menos no sentido em que a expressão é normalmente usada nos países latinos) consideravam os governos de Moscovo e dos seus satélites como um grupo de contra-revolucionários traidores ao socialismo, que teriam que ser derrubados pela revolução dos trabalhadores. Hoje em dia uma complicação adicional é que a posição "a URSS não é/era o verdadeiro socialismo" deixou de ser uma posição defendida por grupúsculos obscuros que raramente chegavam aos 1% em eleições para passar a ser largamente o mainstream da esquerda, o que obscurece essa diferença de posições; mas já nessa altura acho que quase ninguém percebia essa diferença: alguns dos meus colegas na altura diziam-me "pensei que estivesses desmoralizado", quando eu andava era eufórico com a queda dos regimes "estalinistas", e era difícil tentar explicar-lhes que a queda do "estalinismo" era razão para um trotskista ficar contente, não triste (curiosamente, dos meus amigos da altura, o que mais percebia a lógica interna do meu raciocínio, o Luís A., era provavelmente o mais solidamente de direita e anti-socialista - ainda que achasse que o tal "verdadeiro socialismo" era impossível e condenado ao fracasso, era também quem percebia melhor o argumento que a URSS não era socialista). Para exemplos mais modernos de confusões similares, ver estes meus dois posts de 2006 -Re: A "Esquerda Florida" e Re: A "Esquerda Florida" (II) e o Muro de Berlin.

Bem, e além do meu entusiasmo pela queda do "estalinismo", o que é que eu julgava que ia ser o desfecho da queda do muro e acontecimento concomitantes? Estava (nos primeiros meses, ou pelo menos semanas) convencido que o resultado ia ser a implantação de um sistema económico de tipo autogestionário ou coisa parecida nesses países, e que tal iria servir de inspiração para os paises ocidentais,sendo o primeiro ato da revolução mundial que iria também acabar com o capitalismo (hei, o que é que queriam que alguém que, na altura, era um trotskista pensasse?) - o meu raciocínio: a privatização das empresas estatais iria originar despedimentos e uma quebra do nível de vida dos trabalhadores, logo isso seria impossível de impor a povos acabados de sair de revoluções (afinal, veja-se que, no Ocidente, os defensores do liberalismo económico tendem a ser também os maiores defensores de "governos fortes capazes de tomar medidas impopulares"), ainda mais atendendo o que os prováveis beneficiários dessas privatizações seriam os quadros do regime anterior (que era quem ainda teria algum dinheiro e contactos para conseguir adquirir essas empresas) - assim, o desfecho mais provável seria o que muitas vezes acontece em situações revolucionárias: os trabalhadores a criarem comités de empresas, sanearem os seus chefes e implantarem uma espécie de autogestão ou controle operário (e se isso acontece em revoluções em países capitalistas, ainda mais se esperaria que acontecesse num sistema de economia estatizada, em que por definição os administradores são representantes do regime, logo ainda mais faz sentido a formação de conselhos operários para assumirem a direção dos locais de trabalho, à maneira da Hungria em 1956).

Aliás, uns meses depois, já em 1990, cheguei a escrever um texto prevendo que isso iria acontecer na Polónia - um levantamento operário que oporia de um lado os sindicatos (nomeadamente o Solidariedade) e do outro o exército, os novos capitalistas e o PC (o texto não foi para ser publicado em lado nenhum - era mesmo eu que tinha que treinar a letra e portanto, já que tinha que escrever qualquer coisa, aproveitava para passar para o papel as minhas divagações mentais, mesmo que ninguém as fosse ler).

A partir de 90/91 (à medida que em todas as eleições que iam sendo feitas nesses países, quem ganhava era a direita e não a esquerda anti-estalinista), percebeu-se claramente que não era essa o rumo que as coisas iam levar; mas, mesmo hoje em dia não acho que as minhas previsões/esperanças fossem totalmente descabidas - havia efetivamente muita coisa no "ar do tempo" que levava que a saída autogestionária não parecesse completamente descabida:

a) Em primeiro lugar, era mesmo uma evolução em parte nesse sentido que estava a ser posta em prática na URSS, nos tempos de Gorbachov - entregar a gestão das empresas estatais aos coletivos de trabalhadores

b) Inicialmente, o movimento de protesto na RDA era largamente dinamizado (ou, pelo menos, era o único grupo oposicionista organizado que existia, além das igrejas) pelo Neues Forum, que depois veio a integrar-se com os Verdes da RFA, e que defendia a democracia política (com alguma ênfase a democracia de base) e as liberdades civis, mas sem grande entusiasmo pelo capitalismo - ou seja, praticamente o equivalente daquilo que no ocidente se chama de "esquerda alternativa" ou "esquerda folclórica"; em compensação os partidos de direita, nomeadamente a CDU, até à queda do regime eram partidos-fantoche (estilo PEV) do partido comunista na chamada "Frente Nacional"; claro que quando finalmente foram as eleições a CDU teve 40% e o Novo Fórum e os seus aliados tiveram 3%, apesar do passado colaboracionista da primeira e oposicionista do segundo

c) Na Checoslováquia, a ala trotskista (+ "companheiros de estrada") do Forum Cívico (a aliança oposicionista) até parecia ter alguma influência, já que o seu lider, Petr Uhl, foi um dos deputados mais votados (ou mesmo talvez o mais votado) nas primeiras eleições livres; mas esfumou-se completamente (os votos em Uhl devem ter tido mais a ver com o seu papel de intelectual oposicionista do que com simpatia ideológica por ele)

d) Isto até só soube há pouco tempo (não quando tinha 16, 17 ou 18 anos - nem os jornais que os meus pais compravam nem a revista trotskista - "Combate", que por qualquer razão se vendia no quiosque à frente da escola - que eu comprava falavam disto, ao contrário dos pontos anteriores), mas nalguns grupos oposicionistas soviéticos (ou pelo menos moscovitas) houve realmente mesmo um grande disputa entre liberais e  socialistas democráticos autogestionários

Ou seja, a queda do comunismo, ou do estalinismo, ou do que lhe queiramos chamar, veio acompanhada do aparecimento de movimentos autogestionários, eco-socialistas, trotskistas, etc suficiente para convencer quem quisesse ser convencido de a verdadeira revolução socialista vinha ai.

Agora, 30 anos depois, vamos lá rever isto:

Em primeiro lugar, ali atrás falei em «um estudante de 16 anos, que pouco antes se tinha convertido ao trotskismo (ou ao que ele considerava "trotskismo" - mais à frente explico)»; a verdade é que eu, supostamente um trotskista entusiasta, pouco mais sabia sobre o trotskismo do que tinha visto nalguns tempos de antena do PSR, da POUS e da FER (hei, não é que em 1989 fosse fácil obter informação sobre temas obscuros - não havia a Internet para ir ver à Wikipedia, ao Google ou ao Marxists.org; este tipo de assunto era conhecido lendo livros velhos à venda em quiosques e livrarias com ar decrépito, e normalmente só em Lisboa; mas consegui comprar um exemplar d'A Revolução Traída em Portimão); à medida que, anos mais tarde, foi conhecendo melhor o trotskismo, cheguei à conclusão que eu na verdade estaria mais na linha de dissidentes como Max Shachtman, Bruno Rizzi ou pelo menos Tony Cliff. Ou dito por outras palavras - a minha ideia (que era largamente o "senso comum" nos anos 80) era que a URSS tinha uma sociedade exploradora, em que os dirigentes do partido, do estado e das empresas públicas tinham substituído os capitalistas como uma classe dominante; já a posição trotskista é muito mais complexa e talvez ambígua - é de que esses dirigentes já eram uma casta privilegiada mas ainda não uma classe privilegiada, e portanto a sociedade soviética ainda não era bem uma nova forma de sociedade exploradora, mas uma sociedade a meio-caminho entre o capitalismo e o socialismo (mas isto é melhor explicado aqui e aqui). Mas  a minha evolução ideológica posterior fica para altura.

Em segundo lugar, no meio do falhanço total das minhas expetativas da altura, não deixa de ser verdade que nalguns países foram realmente os ex-comunistas (agora "socialistas") que mais entusiaticamente venderam as suas economias ao capitalismo global, e foi de movimentos com raiz na antiga oposição e grande apoio nas classes populares que ainda veio alguma resistência - só que essa resistência não veio da esquerda, como eu esperava, mas da direita, do nacional-conservadorismo do Fideszs húngaro ou da Lei e Justiça polaca, cuja ideologia combina um profundo nacionalismo e conservadorismo social com pelo menos alguma moderação no capítulo do liberalismo económico.

Em terceiro lugar, eu pertenço à ultima fornada de radicais de esquerda que aderiram a correntes dessa área quando ainda o modelo soviético do socialismo parecia relativamente sólido e para quem a oposição à URSS e ao comunismo ortodoxo era um aspeto quase tão fundamental da sua identidade política como a oposição ao capitalismo; interrogo-me se nas gerações mais novas de pessoas que aderem a ideologias à esquerda do comunismo ortodoxo a atitude não será diferente. P.ex., há dias, face ao abandono por grande parte da esquerda da greve dos camionistas, alguém de direita me dizia "estás a ter tempo de vida suficiente para constatares em directo e pessoalmente a hipocrisia e dualidade da esquerda real."; claro que para alguém cuja formação política ainda foi muito influenciada pela luta contra o estalinismo, isso não tem muito de especial: a ideia de os sindicatos oficiais e grande parte da intelectualidade de esquerda estarem do lado oposto (e provavelmente prontos a se aliarem à burguesia) era quase a ordem natural das coisas; será também assim para os mais novos?

Finalmente, há dias parece que se andou a falar muito de um artigo cujo autor foi descrito como "um beto de 17 anos"; se há 30 anos houvesse a tecnologia atual e se eu já pudesse publicar as minhas teorias na Internet, se calhar seria chamado de "um lunático de 16 anos" ou coisa parecida; já agora, a respeito desse artigo, vi comentários que estaria demasiado elaborado para um adolescente de 17 anos; perfeito disparate - se alguma coisa, até por experiência própria, creio que adolescentes que se interessem por um qualquer tema (sobretudo se for um tema que dependa largamente da reflexão, como filosofia, matemática ou política) provavelmente até têm mais capacidade que adultos para fazerem textos elaborados, já que têm mais disponibilidade para passarem muito tempo a pensar (já os adultos têm que pensar nos problemas da vida deles, e portanto não têm muito tempo para esses raciocínios teórico-abstratos).

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

Friday, November 08, 2019

Posts recorrentes no Europe Elects

Espanha: "Liberal Cs (RE) reaches a new record low." (exemplo)

Espanha: "National-conservative VOX (ECR) reaches a new record high." (exemplo)

Itália: "National-conservative FdI (ECR) reaches new record high" (exemplo)

Itália: "Forza Italia (EPP) reaches new record low" (exemplo)

Há quase um ano que esses tweets se repetem com regularidade mensal ou até semanal.

Revisitando o "imposto negativo"

Lessons from the Income Maintenance Experiments: An Overview[pdf], por Alicia Munnell:

Data from the four negative income tax experiments were used to analyze the effects of various combinations of guaranteed payments and tax rates on labor supply, family stability and a host of peripheral issues. The following papers show that the results for labor supply responses are quite robust across sites, populations, and treatments, whereas the widely publicized conclusions on marital stability fail to hold up under closer scrutiny. Although the experiments were not designed to yield high-quality data on consumption patterns and other factors, the suggestive results for these peripheral effects provide useful insights. (...)

Using Groeneveld, Hannan, and Tuma’s model and data, Cain was able to duplicate their dramatic results. He then made several modifications to the analysis: he eliminated couples without children (since they would presumably be excluded from any program passed by Congress); he separated the group who received only a negative income tax payment from those who received both the payment and training; and he included information on marital dissolutions even if they occurred after the couple left the experiment. The greatest difference between Cain’s analysis and the earlier work, however, was that he included the full five years of the five-year experiment, while Groeneveld, Hannan, and Tuma emphasized results from the first three years. With these modifications and timing differences, Cain found only small and inconsistent effects on marital stability
Este é o preâmbulo de uma conferência de 1986 sobre os resultados das experiências de imposto negativo - os artigos todos apresentados na conferência podem ser encontrados aqui (o artigo dizendo que o imposto negativo teve efeitos difíceis de avaliar sobre a estabilidade familiar -  "The lncome Maintenance Experiments and the Issues of Marital Stability and Family Composition" - está na página 60 e uma critíca a esse artigo na página 94).

De qualquer maneira, convém não extrapolar daqui para os possíveis efeitos de um eventual Rendimento Básico Incondicional - a maior parte das experiências de "imposto negativo" nos anos 70 tinham taxas marginais de imposto implícitas bastante elevadas (em que que aumentos do rendimento levavam a cortes no subsídio em montantes que chegavam a ir, creio, aos 70% - isto é, se ganhavas mais um dólar, tirarem-te 70 cêntimos do subsídio); já o RBI penso que só faz sentido ser considerado como tal se os seus beneficiários líquidos (isto é, as pessoas que recebem mais de RBI do que pagam de impostos) estiverem sujeitos a taxas marginais implícitas menores (ou, in extremis, iguais) à dos contribuintes líquidos.

Thursday, November 07, 2019

Boris Johnson, "red Tory"?

Ou um "One Nation Conservative", à Disraeli.

Boris Johnson is not Churchill but de Gaulle, por John McTernan (Financial Times):

In 1968, Richard Nixon had a “southern strategy” — he targeted the southern states of the US, and by swapping electorates with the Democrats ensured that the Republicans won five of the next six presidential elections. Boris Johnson, the UK’s new prime minister, has a similarly ambitious northern strategy — not just a reboot of George Osborne’s Northern Powerhouse, but a plan to win over Labour voters for a generation. (...)

The most foolish of the Labour party’s attacks on Mr Johnson has been that he is a rabid rightwinger. The problem is that the new prime minister is not the narrow nationalist depicted by the Corbynites, he is a globalist. Nor is he a small-state Thatcherite Tory. Expect spending on Crossrail 2 as well as HS3. A new Mersey bridge as well as London’s east river crossing. The state, as the prime minister’s senior adviser Dominic Cummings has made clear, needs to be reformed, not reduced in size.

Dirigisme is back. In addition to transport infrastructure, expect a revival of development corporations. These could be the emblem of Johnsonism — creations of Margaret Thatcher’s environment secretary Michael Heseltine, using powers established by a Labour prime minister, Clement Attlee. They will be vehicles for the transformation of “left behind” England. For the battle is not merely over the north, it is about the former coalfields too. Leading members of the Brexit party have always seen a huge potential in the coalfield community seats — particularly those held by metropolitan Labour MPs. In this analysis, Ed Balls losing his Morley and Outwood seat by 421 votes in 2015 was a harbinger rather than an outlier. The prime minister sees this opportunity too, and is likely to commit to a massive council housebuilding programme, delivered through new town corporations — more direct control.

Wednesday, November 06, 2019

Um estado norte-americano à beira de uma crise institucional?

Democrat Andy Beshear Leads In Tight Kentucky Governor’s Race e Senate president: Kentucky governor's race could be decided by state legislature.

Poderá-se perguntar o que é que interessa uma disputa eleitoral num dos mais obscuros estados dos EUA (que no resto do mundo quase só é conhecido pelo whisky ilegal); mas o cenário de o candidato Democrata sere os mais votado na eleição para governador e uma assembleia de maioria Republicana, pegando em cláusulas legais obscuras, anular o resultado e dar a vitória ao atual governador Republicano pode ser sinal que o jogo político no país mais poderoso da Terra está a ficar duro.

Também se poderá dizer que isso é a mesma coisa que a nossa geringonça - uma maioria parlamentar a impedir o candidato mais votado de subir ao poder; mas não acho que essa comparação faça sentido numa situação em que há eleições separadas para governador e para a assembleia (enquanto em Portugal a "eleição" para primeiro-ministro é simplesmente um aspeto informal da eleição para a Assembleia da República).

Sindicalismo "gig"?

Strike 2.0: how gig economy workers are using tech to fight back, no Guardian:

With this level of technological surveillance by bosses, what hope remains for workers’ attempts to challenge their decisions, especially when that technology is embedded within an employment system that classifies Deliveroo riders as self-employed contractors, shorn of many basic labour rights? The answer is: plenty. As Jamie Woodcock, a sociologist of work at Oxford University, puts it, the digital outsourcing model on which Uber and Deliveroo are built throws up a double precariousness: one for workers, and another for bosses – who, with virtually no human managers overseeing their workforce, have few tools at their disposal to deal with organised resistance. (...)

This kind of fightback can be found throughout the contemporary economy. New apps abound that allow workers to log abuse by managers, read up on their rights, organise their workplace and compare pay rates both with those in similar jobs in their industry and with their own company’s financial results, a powerful weapon for agitating colleagues and rejecting management explanations for low wages. The information asymmetry at the core of digital platforms such as Uber is gradually being undermined by a vibrant network of driver forums with hundreds of thousands of members sharing stories, advice, communications from Uber received through the app and payment details, including screenshots of receipts and monthly income tallies. These enable drivers to collectively gain an understanding of how the app’s secretive ratings systems and dispatch algorithms actually operate. Among other things, this sort of crowdsourced information provides drivers with the opportunity to game the system, for example by agreeing to log off from the app simultaneously, thereby tricking Uber’s algorithms into thinking there is a shortage of drivers and implementing surge pricing to tempt them back.

Tuesday, November 05, 2019

Proibição de divulgação de sondagens em Espanha


Os paradoxos dos "mercenários de fim de semana"

“Don’t Trust Civilization”: ‘Soldier of Fortune’ Magazine and the Masculine Myth (em We Are the Mutants):

It’s certainly not a coincidence that the first issue of Soldier of Fortune: The Journal of Professional Adventurers was published in spring 1975, mere months after the Fall of Saigon. The man behind the magazine, Robert K. Brown, was a U.S. Army veteran who had served in Vietnam as a Green Beret in Special Operations Group (SOG) from 1968 to 1969. Brown wanted to repair the “image of the warrior,” so tarnished in the public eye after Vietnam, and, to a large extent, he did: SOF was a massive success for over a decade, selling more than 180,000 copies a month by 1988. (...)

The first question it throws up to me, though, is, if it’s all about being a mercenary, why are there so many articles about the bloody army? All these “mavericks” who want to be beoutside the establishment—what’s more establishment than a fucking army? Though it makes sense, I suppose, given that another reason for SOF‘s existence was presumably the ready-made readership of ex-Vietnam personnel who, understandably, often felt that the awful things they’d been put through were being ignored by society, and found themselves with a trauma-embedded toolkit of skills that didn’t have much application in civilian life. (...)

Ultimately, the contemporaneous publication I’d most readily compare early Soldier of Fortune to is—and stay with me here—the early run of High Times. Each publication aims its content at a niche audience whose activities must remain nominally undetected by law enforcement. This audience therefore demands globe-trotting reporting that requires a modicum of quasi-libertarian, “gonzo,” go-anywhere-do-anything journalism. Before the internet, these varied crowds of liminal interest groups needed publications like these—available on any newsstand—to interact and to do business.
A High Times é uma revista dedicada à cannabis, provavelmente com uma audiência muito diferente da Soldiers of Fortune (mas, segundos os autores do artigo, se calhar com mais em comum do que se poderia pensar).

Quase como bónus, o artigo também fala sobre o realizador John Milius e alguns dos seus filmes.

Politica de integração das minorias étnicas

Male Chinese ‘Relatives’ Assigned to Uyghur Homes Co-sleep With Female ‘Hosts’(Radio Free Asia):

Male Han Chinese “relatives” assigned to monitor the homes of Uyghur families in northwest China’s Xinjiang Uyghur Autonomous Region (XUAR) regularly sleep in the same beds as the wives of men detained in the region’s internment camps, according to sources who have overseen the forced stayovers.

Since late 2017, Muslim—and particularly Uyghur—families in the XUAR have been required to invite officials into their homes and provide them with information about their lives and political views, while hosts are also subjected to political indoctrination.

Monday, November 04, 2019

Queixas dos professores no Império Assírio


Os EUA também já exportam para a China,

Made In America: For $9.50 An Hour, They Brew Tear Gas For Hong Kong (BuzzFeed News):

A BuzzFeed News investigation found low-paid American workers producing tear gas in potentially dangerous conditions. It's then shipped to Hong Kong, where it's used against pro-democracy protesters.

Friday, November 01, 2019

A "classe operária branca" é na verdade muita "pequena-burguesia branca" - de novo

Parece que no Reino Unido, o UKIP também é largamente um partido dos trabalhadores por conta própria.

Working class votes and Conservative losses: solving the UKIP puzzle, por Geoffrey Evans e Jonathan Mellon, no blog da LSE:

However, there is a further point also not previously noted. Not only is UKIP attracting, primarily, disaffected former Labour voters from the Conservatives and elsewhere, but the working class basis of UKIP has been markedly over-stated. Working class voters are a little more likely to support UKIP than other classes, but there is stronger support among the self-employed and business owners, who were Mrs Thatcher’s hard-core supporters, not Labour’s.Even within the working class, the strongest UKIPers are the lower supervisory category, who are not the disadvantaged semi- and unskilled workers that have been thought to provide the core of UKIP support.
O post é um resumo de um paper, que imagino seja mais aprofundado - Working Class Votes and Conservative Losses: Solving the UKIP Puzzle, por Geoffrey Evans e Jonathan Mellon, Parliamentary Affairs, Volume 69, Issue 2, April 2016, Pages 464–479

A este respeito, ver também  A "classe operária branca" é na verdade muita "pequena-burguesia branca" e Ainda a "classe operária".