Wednesday, February 27, 2019

Adeus, Pantufa

quase 10 anos, estava-te a treinar na caça aos ratos; hoje foste-te embora.

Os perigos de invadir a Venezuela

With U.S. military action, Venezuela could become the Libya of the Caribbean, por Francisco Toro, no Washington Post:

As a result, vast swaths of Venezuela are controlled not by President Nicolás Maduro’s government but by a baffling proliferation of armed nonstate actors that include powerful prison gangs, Colombian guerrillas from the ELN or from splinter groups of the disbanded FARC, various ideologically infused “colectivos” — in effect, paramilitary groups subscribing to a vaguely Marxist ideology and allied with the government. These groups make a handsome living from any number of illegal activities: trafficking cocaine, illegal gold mining, extortion, human trafficking, smuggling — you name it. (...)

And yet, if the United States does go on the offensive, it’s clear it’s the Venezuelan military they’ll target first. Dysfunctional as it is, the armed forces have fixed installations — radar positions, air force bases, barracks — that could be targeted by a cruise-missile-guidance system.

The paramilitary gangs who actually control the territory, for their part, operate from civilian quarters. No U.S. military plan would be able to target them, even if it set out to do that. (...)

Actual U.S. military action to destroy the Venezuelan military would be a catastrophe. It would remove the one actor that might eventually be able to regain control over the country and deliver it instead into the hands of a wild variety of criminal gangs. Libya in the Caribbean.
[Via Outside the Beltway]

Monday, February 25, 2019

Há muitos ativistas de esquerda a viver em casa dos pais?

Há dias, numa discussão no Facebook regressou à vida a notícia de 2017 de que 92% dos ativistas de esquerda detidos em manifestações em Berlim viviam em casa dos pais. Já na altura a veracidade desses números foi muito posta em causa - ver, por exemplo, estes comentários no Marginal Revolution ("That figure is almost certainly due to bad data. In Germany, you are legally required to register your new place of residence with the municipal authorities when you move, but in practice this requirement is not enforced. For ideological reasons, people on the radical left are unlikely to comply with it (other people, who move often - e.g. students - may not comply with it out of laziness). Since all of them were registered as children with their parents (for schooling, etc.), they will simply remain registered there as long as they don't report their new place of residence to the authorities.") ou este artigo no Tagesspiegel, um jornal que até penso ser bastante para a direita (o artigo está em alemão, e mesmo passando pelo Google Translate não se percebe quase nada, mas parece que a maioria dos casos afinal são pessoas em que não se conseguiu apurar onde moravam, e esses 92% serão 92% da minoria em que se sabe onde moram).

No entanto, talvez seja interessante ver se na realidade "ativistas de esquerda" são mais, menos ou igualmente dados a viver com os pais em comparação com a população em geral (o meu primeiro instinto foi assumir "menos", partindo do principio que pessoas de direita terão mais aquela mentalidade de só sair de casa dos pais quando se casam, mas depois lembrei-me que por outro lado provavelmente também se casam mais); não faço a mínima ideia de como ver isso para a Alemanha (a origem da conversa) ou para Portugal, mas nos EUA temos sempre o GSS, portanto vamos lá.

Tuesday, February 12, 2019

Posts que quase por acaso reli esta manhã

Esta manhã, como estava a ver se encontrava um link antigo, ao fazer uma busca aqui no blogue acabei por reler alguns posts antigos que tinha escrito - dois foram estes: A saída do "Fórum Manifesto" do BE (sobre a saída da Ana Drago e mais uns quantos do BE)  e  Aliança PS/BE? (neste o relevante não é post em si, totalmente desatualizado, mas sobretudo a pergunta nos comentários feita pela "Tárique", sobre «o que é que a facção "revolucionária" ainda anda a fazer atrelada ao bloco.»). Quando ao fim da tarde fui ao facebook e vi as notícias, lembrei-me dos posts que tinha estado a ler mesmo de manhã.

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

Sobre greves, fundos de greve, etc.

Em defesa do direito à greve dos Enfermeiros, de Jonas Van Vossole (Praxis Magazine):

Que a direita ataque o direito à greve, é natural; faz parte da sua matriz ideológica e do seu interesse de classe. Que o centro político, quando está no poder, ataque o direito à greve; já nos acostumá-mos. Isso faz parte da sua manutenção no poder na gestão da economia capitalista. Mas que a esquerda, e as lideranças sindicais, ataquem os direitos básicos da luta dos trabalhadores, isso já me assustou. (...)

Comecemos pela questão dos fundos de greve e a sua transparência. Na Bélgica todos os sindicatos têm fundos de greve. Os fundos são utilizados para financiar a luta social, as greves e as manifestações. Os fundos de greve cobram as perdas de salários e eventuais custos de transporte e alimentação para manifestações nacionais.

Friday, February 08, 2019

Os saltos na definição de "socialismo"

Trump Versus the Socialist Menace, por Paul Krugman:

What do Trump’s people, or conservatives in general, mean by “socialism”? The answer is, it depends.

Sometimes it means any kind of economic [interventionism]. Thus after the SOTU, Steven Mnuchin, the Treasury secretary, lauded the Trump economy and declared that “we’re not going back to socialism” — i.e., apparently America itself was a socialist hellhole as recently as 2016. Who knew?

Other times, however, it means Soviet-style central planning, or Venezuela-style nationalization of industry, never mind the reality that there is essentially nobody in American political life who advocates such things.

The trick — and “trick” is the right word — involves shuttling between these utterly different meanings, and hoping that people don’t notice. You say you want free college tuition? Think of all the people who died in the Ukraine famine!
Eu até acho que AMBAS as definições estão erradas (e há algum tempo que penso fazer um post sobre isso...), mas de qualquer maneira há anos que me passeio por fóruns e caixas de comentários de blogues liberais e há muito que noto essa ambiguidade: por um lado, chamam a qualquer intervenção estatal na economia de "socialismo" (exceção - quando querem negar que os países nórdicos sejam socialistas), e depois dizem que Mises já demonstrou que o socialismo não funciona (quando me parece que o argumento de Mises sobre a "impossibilidade do cálculo económico num regime socialista" só se aplica a um sistema económico em que os preços sejam fixados pelo Estado, ou em que nem haja preços).

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

Thursday, February 07, 2019

Redes sociais, esquerda e direita

Há uma teoria de que a internet e as redes sociais (e antes os blogues) estariam a dar força à direita, e seria o responsável pelas recentes vitórias desta (Trump, Brexit, Bolsonaro)  - e essa teoria vem tanto da direita (e aí a variante é qualquer coisa envolvendo o "legacy media" que estaria ao lado da esquerda e que estaria a ser curto-circuitado pelas redes sociais) como da esquerda (e aí o alvo são inevitavelmente as fake news).

Mas isso fará algum sentido? A parte das fake news penso que não tem grande ponta por onde se lhe pegar (pelo menos na variante que terão eleito o Trump); e de qualquer maneira está confirmado que o eleitorado de Trump foram as pesssoas que menos passam na internet. Vamos puxar um bocadinho pela cabeça - é mais ou menos sabido que Trump, o Brexit, o FPOe austríaco, etc., têm tido as suas maiores votações nas pequenas localidades, entre as pessoas mais velhas e com menos instrução (a parte das localidades é sabido - basta ver os resultados; a parte do "pessoas mais velhas e com menos instrução" pode não ser assim tão linear, mas é o que as sondagens indicam); parecem-lhes mesmo o tipo de pessoa que passa o dia no Facebook, talvez com um intervalinho para jogar no Farmville ou para ver um filme no Netflix? Eu imagino-os mais facilmente no café do bairro a queixarem-se que "os miúdos de hoje estão sempre agarrados à máquina e já não fazem desporto nem convivem".

[Atenção que o Bolsonaro parece ser um caso à parte, com os melhores resultados entre a população mais instruída, e com o Nordeste rural - em contracorrente ao Deep South dos EUA e ao norte de Inglaterra no Brexit - a votar PT].

Wednesday, February 06, 2019

O verdadeiro islamo-fascismo?

Dutch former anti-Muslim politician converts to Islam (Politico.eu):

A former member of Geert Wilders’ far-right Dutch party announced Monday that he has converted to Islam.
Joram Van Klaveren said he made the switch from critic to convert while writing a book about Islam.

“During that writing I came across more and more things that made my view on Islam falter,” he told Dutch radio. (...)

Arnoud van Doorn, a former PVV official, was an earlier convert to Islam. Van Doorn congratulated Van Klaveren on his decision via Twitter, writing: “[I] never thought that the PVV would become a breeding ground for converts.”
Far-right AfD member converted to Islam in protest at acceptance of gay marriage in the church (The Telegraph):
A politician from the nationalist Alternative for Germany party (AfD) who shocked colleagues by converting to Islam says he did so because he was unhappy with the church’s acceptance of gay marriage.

Arthur Wagner made headlines around the world last week after it emerged that he had become a Muslim.

The AfD, which last year became the first nationalist party to win seats in the German parliament since the sixties, campaigns on an openly anti-Muslim platform. One of its elections slogans was “Islam has no place in Germany.”
[Ver esta thread no Twitter]

Venezuela e socialismo

Eu não concordo com muito do que o autor (o diretor do jornal oposicionista venezuelano em língua inglesa Caracas Chronicles) escreve aí em baixo (nomeadamente acho que ele está a usar uma definição muito alargada de "socialismo" - note-se que o argumento dele não é "a Venezual não é socialista" mas sim "o Equador, Bolívia, Brasil, etc. também são ou foram socialistas"), mas...

No, Venezuela doesn’t prove anything about socialism, por Francisco Toro, no Washington Post:

Venezuela is clearly having its moment in the American conservative mediasphere. The country’s catastrophic collapse is, we’re told, all we need to know about the terrifying dangers of socialism. (...)

I’ve spent two decades chronicling every agonizing twist and turn in the decay of Venezuela’s democracy, economy and society. You’d think I’d be on board with these takes. Think again. I’m revulsed. It’s appalling to see my country’s suffering leveraged for cheap partisan point-scoring. (...)

It bothers me because it’s lazy. But it bothers me more because it’s wrong.

Since the turn of the century, every big country in South America except Colombia has elected a socialist president at some point. Socialists have taken power in South America’s largest economy (Brazil), in its poorest (Bolivia) and in its most capitalist (Chile). Socialists have led South America’s most stable country (Uruguay) as well as its most unstable (Ecuador). Argentina and Peru elected leftists who, for various reasons, didn’t refer to themselves as socialists — but certainly governed as such.

Mysteriously, the supposedly automatic link between socialism and the zombie apocalypse skipped all of them. Not content with merely not-collapsing, a number of these countries have thrived.

1687?

Ask the Queen to suspend parliament, Rees-Mogg urges May (The Times):

Theresa May should demand that the Queen suspends parliament to halt plans to stop a no-deal Brexit, Jacob Rees-Mogg has said.

The chairman of the European Research Group of backbench Conservatives warned that “vestigial constitutional means” could be necessary to stop a no-deal Brexit being taken off the table, and that if the government did not use them they will have “connived” in the rebels’ actions.
Esta noticia é de 23 de janeiro e já perdeu a atualidade, mas mesmo assim acho relevante.

Tuesday, February 05, 2019

Venezuela: há alternativa ao madurismo e à direita?

Num comentário ao post anterior, um comentador escreve:

Na medida em que se perguntarem aos cidadãos outrora chavistas que medidas deve o governo tomar, duvido que haja um consenso sobre privatizacoes, fim de servicos gratuitos de saúde e educação e etc que foram as bandeiras do chavismo e que também eram defendidas pelos que derrubaram o muro de Berlim. E no entanto a haver eleições terá de ser esse o programa vencedor, duvido que haja alternativa. E daqui a 5 ou 10 anos haverá mais mercadorias nas prateleiras mas provavelmente haverá uma certa frustração quanto ao resto, e o resto não é coisa pouca.
Caso o regime de Maduro caia (a minha previsão - o mais provável é que caia num mês ou menos, e sem intervenção militar estrangeira direta), haverá alguma alternativa à oposição de direita (onde estou, no contexto venezuelano, a incluir os partidos ligados à Internacional Socialista, como o do proclamado "presidente interino" Guaidó)? Isto é, um movimento político que preserve as políticas sociais lançadas por Chavez e ou mesmo pelo menos parte das nacionalizações mas sem o autoritarismo?

Já agora, a respeito das nacionalizações, convém lembrar que muito do que foi nacionalizado durante o chavismo (sobretudo antes de terem entrado na linha de nacionalizar padarias por venderam acima do preço tabelado) foram empresas que já tinham sido estatais e depois tinham sido privatizadas nos anos 90 (p.ex., a companhia telefónica, e creio que também muitas concessões de exploração petrolífera), o que indicia que o elas estarem nacionalizadas não é só por si razão para haver uma catástrofe económica.

Há efetivamente uma vasta gama de "chavistas críticos", representados nomeadamente pela "Plataforma Cidadã em Defesa da Constituição", que poderiam servir de pólo a uma terceira via; a questão é saber se terão mesmo um nicho potencial de apoiantes; ou, por outras palavras, será que os sectores da população que apoiavam Chavez e agora estão contra Maduro (e quase de certeza que esses sectores existem, já que tudo indica - até os resultados das eleições parlamentares com um e o outro - que Chavez tinha muito mais popularidade, logo alguma transferência deve ter havida) estarão em modo "o Chavez era bom, o mal é este agora" ou em modo "onde estávamos com a cabeça quando apoiámos o Chavez?"? Se for o primeiro caso, é possível que procurem uma alternativa anti-madurista mas que não rompa totalmente com a herança do chavismo.

Outras possíveis terceiras vias poderiam partir partidos oposicionista, como a Avançada Progressista, de Henri Falcón, ou o Movimento Progressista, que têm origem em partidos da coligação chavista (o Podemos e o Pátria Para Todos) que entretanto romperam com o regime e que acabaram por se dividir em facções pró- e anti-governamentais (com os tribunais a atribuírem o controlo dos partidos aos grupos pró-governo e os oposicionistas a criarem estas novas organizações), mas esses estão muito mais alinhados com a oposição tradicional.

Há também alguns grupos de extrema-esquerda anti-regime, como os trotskistas do Partido Socialismo e Liberdade e da Maré Socialista e os "hoxhaistas" da Bandeira Vermelha, mas duvido que tenham qualquer implantação real (e a Bandeira Vermelha também estará demasiado comprometida com a oposição tradicional).