O mau serviço de “Lincoln”, por Charlie Post (Esquerda.net; versão original):
[É] precisamente a “relutância” de Lincoln para liderar uma revolução profunda no Sul durante a Guerra Civil – e o papel decisivo da fuga em massa de escravos das plantações – que falta ao retrato hagiográfico de Spielberg e Kushner.
Não basta apenas argumentar que “Lincoln não é sobre tudo o que aconteceu durante a Guerra Civil”. A decisão de Spielberg e Kushner de focar apenas as maquinações parlamentares que envolveram a Décima-Terceira Emenda, fez um magnífico filme, mas criou uma visão de emancipação que tem profundas falhas. Em primeiro lugar, Lincoln é apresentado como um defensor consistente da abolição descompensada, imediata e permanente da escravatura – uma posição que ele só viria a abraçar em meados de 1862. Antes da sua decisão de emitir a Proclamação da Emancipação, Lincoln promoveu, sem sucesso, vários esquemas para a emancipação gradual, com a compensação dos proprietários dos escravos (em particular daqueles nos estados “fronteiriços”) e o envio de colonização de afro-americanos à América Central, às Caraíbas ou a África.
Em segundo lugar, o filme exagera muito quanto ao impacto da Décima Terceira Emenda. Muita da pesquisa histórica dos últimos 20 anos tem revelado que nos finais de 1864, a escravatura como base de produção no Sul estava morta.
Embora alguns dirigentes políticos Confederados possam ter acreditado que a “instituição singular” podia ser restabelecida, os próprios antigos escravos – através da sua ligação ao exército da União como espiões, trabalhadores e soldados e a auto-organização de sindicatos, apreensão de plantações abandonadas e outros – tinham destruído a escravatura. (...) Simplificando, a Décima Terceira Emenda reconheceu legalmente a realidade da luta de classes no Sul.
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