Na criação do Sirocco, uma dificuldade que me apareceu pela frente foi como copiar os blogrolls do Vento Sueste (claro que podia ter copiado só alguns blogs, mas isso ia dar ainda mais trabalho).
Na net, encontrei uma semi-solução, mas não iria criar uma "lista de links" ou uma "lista de blogs", simplesmente uma sequência de código HTML, que teria que ser sempre actualizada à mão.
No entanto, uma maneira de copiar a lista de blogues de um blog do Blogger para outro pode ser esta - para quem use o Firefox e a extensão Greasemonkey, copiar este script:
Thursday, October 31, 2013
Copiar a lista de links de um blogue para outro
Publicada por Miguel Madeira em 23:12 0 comentários
Novo blogue
Entretanto, decidi criar um novo blog, o Sirocco, que consistirá simplesmente em traduções para inglês de posts do Vento Sueste que eu ache que (imodéstia?) possam interessar a um público internacional.
Em principio no Sirocco não irá ser publicado nenhum material original.
Uma observação - o URL acabou por ficar um bocado manhoso (http://sirocowind.blogspot.com/, misturando grafia olhanense e língua inglesa), porque quase todos os endereços que tentei já estavam ocupados, quase sem excepção por blogs de um post... (vamos lá ver se este chega a ter mais).
Publicada por Miguel Madeira em 22:01 0 comentários
As "escolas independentes geridas por comunidades de professores"
Os defensores da "gestão democrática das escolas" e críticos dos directores impostos pelo Ministério não deveriam ser a favor?
Publicada por Miguel Madeira em 10:23 1 comentários
Saturday, October 26, 2013
Sintomas de más criticas aos economistas
18 signs you’re reading bad criticism of economics, por Chris Auld:
Here, then, are some symptoms of bad critiques of economics:
Treats macroeconomic forecasting as the major or only goal of economic analysis.
Frames critique in terms of politics, most commonly the claim that economists are market fundamentalists.
Uses “neoclassical” as if it refers to a political philosophy, set of policy prescriptions, or actual economies. Bonus: spells it “neo-classical” or “Neo-classical.”
Refers to “the” neoclassical model or otherwise suggests all of economic thought is contained in Walras (1874).
Uses “neoclassical economics” and “mainstream economics” interchangeably. Bonus: uses “neoliberal economics” interchangeably with either.
Uses the word “neoliberal” for any reason.
Refers to “corporate masters” or otherwise implies economists are shills for the wealthy or corporations.
Claims economists think people are always rational.
Claims financial crisis disproved mainstream economics.
Explicitly claims that economics is not empirical, or does so implicitly by ignoring empirical economics.
Treats all of economics as if it’s battling schools of macroeconomics.
Misconstrues jargon: “rational.”
Misconstrues jargon: “efficient” (financial sense) or “efficient” (Pareto sense).
Misconstrues jargon: “externality“.
Claims economists only care about money.
Claims economists ignore the environment. Variant: claims economics falters on point that “infinite growth on a finite planet is impossible.”
Goes out of its way to point out that the Economics Nobel is not a real Nobel.
Cites Debunking Economics.
Publicada por Miguel Madeira em 18:02 0 comentários
Thursday, October 24, 2013
Os vários tons dos ciganos
The Roma have multitudes, por Razib Khan:
There was a recent case in Ireland of a young Roma girl who was blonde haired and blue eyed being removed from her home, on the suspicion that she was not in fact the biological child of the presumed parents (who, like most Roma, are reportedly of dark complexion, hair, and eye). I even saw a report that a hospital was consulted on the probability of such an outcome, and they said it would be “extremely unusual”. It turns out that DNA tests confirmed that this girl was the biological child of the putative parents. And of course all this has be understood in light of the case of “Maria” in Greece; a little blonde girl who turned out not to be the biological child of the two Roma who claimed her as their daughter (it looks like there was welfare fraud in that case).
My initial response to the Irish case was that consultant should be fired, because in an admixed population like the Roma it shouldn’t be that unusual to have offspring who deviate a great deal from the parental phenotype. This prompted some interesting reactions. First, there were those who seem blissfully ignorant of the fact that the Roma are an admixed population. That’s easy enough to resolve, as there have been scientific papers published on this issue using genome-wide data. Second, there are claims that very small fraction of Roma have blonde hair and blue eyes (on the order of less than 1%). The latter may be a defensible claim, though not indisputably so.
Publicada por Miguel Madeira em 22:07 0 comentários
Wednesday, October 23, 2013
A Irlanda não é a Grécia
Ireland Shocked As DNA Test Shows Blonde Girl Taken From Roma Family To Be Their Daughter, no Business Insider.
Publicada por Miguel Madeira em 21:56 0 comentários
Direitos fundamentais não se referendam?
A respeito da proposta da JSD de levar a referendo a co-adopção e a adopção por casais homossexuais, Isabel Moreira terá dito que "[r]eferendar direitos fundamentais é a negação da democracia".
Essa conversa de que "direitos fundamentais não se referendam" é recorrente quando se fala de referendos sobre certos assuntos, mas não me parece fazer grande sentido, por duas razões:
Em primeiro lugar, parece-me que, se "direitos fundamentais não se referendam", então isso também significaria que "direitos fundamentais não se votam na Assembleia da República"; afinal, se admitirmos que há certos princípios que estão acima da vontade popular, então a legitimidade dos representantes do povo para decidir sobre eles é tão nula como a do povo em pessoa (afinal, a autoridade dos deputados é supostos ser concedida pelo povo, através da eleição; logo, se o povo não tem autoridade para decidir sobre certos assuntos, também não pode delegar essa autoridade - inexistente - em ninguém). Nessa perspectiva, perante uma lei que violasse "direitos fundamentais", só haveria uma atitude possivel - a desobediência civil pura e dura.
Em segundo, a posição que "direitos fundamentais não se referendam" tornaria na prática quase impossível qualquer referendo, já que quase todas as questões politicas mexem nalguma coisa que alguém algures considera "direitos fundamentais".
Nota - se o referendo proposto fosse para frente, o meu voto seria de certeza "sim" à primeira pergunta e provavelmente também "sim" à segunda.
Publicada por Miguel Madeira em 00:10 0 comentários
Monday, October 21, 2013
"Hackers" vs "fatos"
Hackers vs. suits: Why nerds become leakers, por Timothy B. Lee (Washington Post):
When The Guardian unveiled its profile of Edward Snowden, it included a picture of the 29-year-old contractor with his laptop. On its back were stickers for the Electronic Frontier Foundation, a digital civil liberties group, and Tor, software that allows people to browse the Internet anonymously.
Laptops with EFF or Tor stickers are common at technology conferences, and people who have them tend to have a lot in common. They tend to be technically-savvy, skeptical of authority, and comfortable defying social conventions. Like Snowden, a high school dropout, they tend to have unconventional career paths.
These personality traits describe Bradley Manning, the young soldier who is accused of leaking secret documents to the WikiLeaks Web site. They also describe WikiLeaks founder Julian Assange. And that probably isn't a coincidence.
The Silicon Valley investor Paul Graham has argued that the same personality traits that make people good at programming also cause them to have a disobedient attitude toward authority figures and social conventions. These programmers, who often describe themselves as hackers, are experts at examining complex systems and finding ways to make them work better. They tend to think about society as just another complex system in need of optimization, and this sometimes leads them to conclusions starkly at odds with conventional wisdom. (...)
Obviously, hackers' curiosity and penchant for unconventional thinking can create tensions with authority figures, who hackers derisively refer to as "suits." They are sometimes viewed as prickly loners, and may not observe the social niceties that make offices function smoothly. But while hackers' disobedient tendencies give bosses heartburn, organizations can't get along without them. Their intellectual curiosity and knack for finding creative solutions to hard technical problems make them indispensable.
Publicada por Miguel Madeira em 15:03 0 comentários
A estrutura remuneratória da função pública
[Regressando e aprofundando este tema]
No Relatório [pdf] do Orçamento de Estado proposto, o alargamento dos cortes salariais é justificado com o seguinte argumento (página 32)..
Refira-se que a redução do limite inferior, a partir do qual as medidas são aplicáveis, teve o único propósito de, mantendo embora a isenção absoluta dos rendimentos ilíquidos inferiores a 600 euros, dirimir uma inadequada política de rendimentos na Administração Pública. Com efeito, o estudo solicitado pelo Governo a uma consultora internacional demonstra que as práticas salariais da Administração Pública diferem substancialmente do padrão que é observado no sector privado, sugerindo um padrão de iniquidade entre o público e o privado. Depreende-se que no sector público existe um prémio salarial superior para funções de menor exigência e/ou responsabilidade e que as remunerações associadas a funções de maior complexidade e exigência tenderão a ser inferiores às do sector privado. Também recentemente a OCDE reconheceu a existência de um elevado diferencial entre salários no sector privado e salários no sector público.O estudo deve ser este, "Análise Comparativa das Remunerações Praticadas no Sector Público e no Sector Privado" [pdf], da consultora Mercer, publicado em fevereiro de 2013.
[Via Pedro Romano]
E, realmente, lá há uma passagem (página 3), em que pode ser lido:
Em termos gerais, conclui-se que as práticas salariais da Administração Pública diferem do padrão que é observado no sector privado, podendo assumir-se que, no sector público, existe uma prática salarial superior para funções de menor exigência e/ou responsabilidade e que as remunerações pagas para funções de maior complexidade e exigência tenderão a ser inferiores às do sector privado.Mas creio que esta passagem ganha um outro significado se for lida no contexto geral:
Em termos gerais, conclui-se que as práticas salariais da Administração Pública diferem do padrão que é observado no sector privado, podendo assumir-se que, no sector público, existe uma prática salarial superior para funções de menor exigência e/ou responsabilidade e que as remunerações pagas para funções de maior complexidade e exigência tenderão a ser inferiores às do sector privado. Todavia, esta análise macro não dispensa uma apreciação mais analítica por tipo de função/profissão, que este relatório apresenta.Isto é, quem leio, não só a proposta do Orçamento, mas sobretudo muitos artigos de jornal que se têm publicado nos últimos tempos sobre os salários da função pública, fica com a ideia que profissionais mais qualificados são mal pagos na administração pública e os pouco qualificados bem pagos; quando na verdade os profissionais menos qualificados ganham na AP largamente o mesmo que no privado, sendo as grandes diferenças dentro do grupo dos "mais qualificados” - com os “dirigentes” a ganharem mal em comparação com o privado e os “especialistas” a ganharem aparentemente bem (deixando de lado a tal questão das remunerações variáveis...).
Para funções de topo (direcção superior de 1.º e 2.º nível) verifica-se que as remunerações (ganho) praticadas no sector privado poderão exceder, em média, cerca de 30% as praticadas no sector público. Ao nível das funções de direcção intermédia, constata-se que o sector privado tende ainda a ser mais competitivo em termos remuneratórios que o sector público, embora com um diferencial menor e que se tende a esbater (ou mesmo a reverter) quando se desce na hierarquia e nos níveis de responsabilidade atribuídos.
Ao nível das funções técnicas (v.g. Técnico Superior e Informático) constata-se que a média salarial praticada na Administração Pública excede, ainda que de forma moderada, a que é praticada no sector privado, identificando-se um diferencial salarial que poderá chegar, em média, aos 14%. Importa, todavia, ter presente que este estudo não entrou em consideração com componentes remuneratórias de natureza variável, que tendem a assumir alguma expressão no sector privado.
O factor antiguidade de serviço será também relevante para justificar as diferenças encontradas ao nível da carreira técnica superior, porquanto no sector público esta variável é muito determinante para a construção da remuneração mensal auferida, o que não acontece de forma tão vincada no sector privado.
Relativamente ao grupo dos assistentes técnicos e demais pessoal administrativo, que é extremamente heterogéneo no sector público, verifica-se que a diferença em termos salariais face ao sector privado é reduzida, embora ainda ligeiramente favorável ao primeiro.
Para as funções de assistentes operacionais e auxiliares, que assumem uma grande dimensão no conjunto da Administração Pública ao contrário do que, em geral, se verifica no sector privado observado, constata-se que as remunerações praticadas no sector público tendem a ser ligeiramente inferiores às do sector privado. Importa, contudo, ter em consideração que a utilização deste tipo de trabalhadores no sector privado tende a estar associada a funções de carácter produtivo e/ou operacional, sobretudo em empresas de pendor industrial, e no sector público está maioritariamente associado a tarefas administrativas e/ou auxiliares, normalmente não inseridas na cadeia de valor produtiva da organização, sem prejuízo do papel relevante que possam desempenhar.
Ora, creio que isto muda muito os termos com que a questão é geralmente posta.
P.ex., o programa de rescisões "voluntárias", destinado a Assistentes Técnicos (empregados administrativos) e Assistentes Operacionais (operários) - creio que nenhum membro do governo, ao lançar esse programa, veio com a conversa de que esses grupos eram comparativamente bem pagos na função pública; mas muitos jornais disseram isso (lembro-me perfeitamente de o artigo no Expresso sobre o programa de rescisões dizer isso), deixando implicito que era um dos motivos para as rescisões serem dirigidas a esses grupos.
Mas o ponto mais importante é que se dá uma imagem distorcida da "luta de classes" em causa - a conversa habitual dá a ideia que é uma questão de distribuição de rendimento entre trabalhadores com menos e com mais qualificações. E, infelizmente, a ideia de que é expectável (e se calhar até desejável...) uma grande desigualdade de rendimentos entre as pessoas conforme o seu nível de qualificações parece ter assentado arraiais na nossa sociedade (frequentemente as mudanças tecnológicas costumam ser apresentadas como a causa disso, mas acho essa tese muito fraquinha), pelo que a conversa de que é desejável aumentar a desigualdade salarial na função pública até consegue passar sem grande resistência. Já dizer abertamente de que é preciso baixar os vencimentos aos "especialistas" e subir aos "dirigentes" seria mostrar demasiado o jogo e assumir que a luta pela repartição do rendimento não é entre menos e mais qualificados, mas sim entre os "dirigentes" e o resto; e atendendo à indignação que no mundo ocidental tem vindo a crescer contra as elevadas remuneração dos gestores, se calhar um discurso dizendo "temos que subir os salários dos dirigentes e baixar os dos técnicos para estarmos em linha com o privado" talvez provocasse uma resposta "não será o privado que está mal?" (e, já agora, haveria também a resistência motivada pela convicção dominante - seja ela fundada ou infundada - de que grande parte dos dirigentes na administração pública são-no mais por ligações políticas do que por competência profissional).
[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]
Publicada por Miguel Madeira em 09:53
Monday, October 14, 2013
A "hipotese da eficiência dos mercado" - reloaded
Na sequência da atribuição do Prémio "Nobel" da Economia a Eugene Fama e mais uns quantos, re-posto isto que escrevi há dois anos sobre o "mercado eficiente":
Uma teoria económico que me parece frequentemente mal interpretada é a chamada "hipótese do mercado eficiente".
Em que consiste essa teoria? Basicamente, que o preço de um activo financeiro num dado momento reflecte toda a informação disponível nesse momento sobre esse activo; a ideia é que qualquer "bom negócio" que surja desaparece em poucos instantes (talvez numa questão de minutos ou segundos), já que os investidores, ao saberem disso, vão investir nesse titulo, fazendo subir o seu preço e , portanto, deixa de ser um "bom negoócio"; p.ex., mal se sabe que uma empresa descobriu petróleo, o preço das suas acções sobe nesse preciso momento, fazendo com que esse investimento deixe de ser especialmente rentável (apenas durante uma fracção muito escassa de tempo é que alguém pode ganhar dinheiro na bolsa com isso, talvez apenas a primeira pessoa a ter ouvido a noticia "a Gasosas & Gasolinas, Lda. descobriu petróleo na Praia da Rocha"). Ou seja, a HME sustenta que, se uma acção (ou outro investimento qualquer; vou falar em "acções" por comodidade) estivesse barata face às suas perspectivas de rentabilidade e risco esperadas, já alguém a teria comprado, fazendo subir o seu preço (mutatis mutandis para "cara") - por isso, o preço das acções deve reflectir exactamente o que se sabe sobre a sua potencial rentabilidade.
Uma metáfora clássica dada para ilustrar a HME é de que não há notas de 50 euros (bem, a metáfora costuma ser com dólares...) na calçada - se houvesse, já alguém as teria visto e apanhado.
Agora, vamos ao equívoco que me parece comum na interpretação do que é a HME (ver, p.ex., alguns comentários a este post d'O Insurgente) - o "eficiente" aqui significa apenas "eficiente a traduzir a informação disponível em preços"; não tem nada a ver com "eficiente a garantir o bem-estar económico e social" - os mercados podem dar origem a crashs, recessões, desemprego em massa, poluição, etc., etc. que não é por isso que deixam de ser "eficientes" no sentido específico que a HME dá à palavra (dizer "a crise de 1929/1987/2000/2008/etc. deita por terra a hipótese do mercado eficiente" é um pouco como dizer "como é que alguém pode defender a família nuclear depois de Three Mile Island, Chernobil e Fukushima?") .
A HME tem algumas implicações:
- Uma é que só por sorte se pode fazer "bons negócios"; em média, investir em mercados como a bolsa dará um rendimento que só será maior do que, p.ex., um depósito a prazo para compensar o investidor do risco corrido (bem, não sei bem se isto é um implicação da HME ou se é apenas a HME explicada por outras palavras)
- A mais conhecida é a do "caminho aleatório", de que a evolução futura do preço de um título é imprevisível. A ideia é de que, se o preço actual de um título já reflecte toda a informação disponível, o preço só será afectado por nova informação ainda desconhecida. Como a informação futura é, por definição, actualmente desconhecida, é impossível prever como o preço do título vai evoluir ao longo do tempo - essa evolução vai forçosamente ser aleatória e imprevisível (um ponto fundamental para perceber a diferença entra a HME e o que normalmente se entende por "eficiência" - à partida soa algo contra-intuitivo chamar "eficiente" a um mercado aleatório e imprevisível)
- Outra poderá ser a de que a chamada "gestão passiva" (isto é, uma estratégia de investimentos que se limita a seguir uma regra pre-estabelecida - estilo "ter uma carteira com uma composição idêntica à do PSI20" - em vez de activamente escolher onde investir e tentar fazer previsões) pode ser mais rentável que a "gestão activa": afinal, se só por sorte se consegue fazer "bons negócios", mais vale seguir uma regra pré-estabelecida do que estar a pagar a gestores, analistas, etc. para tentar descobrir como o mercado vai evoluir (mesmo que a rentabilidade antes de despesas seja um bocadinho menor, é compensado com o que se poupa em salários, comissões e prémios de desempenho)
- numa linha semelhantes (ou talvez isto seja um subponto do ponto anterior), que escolher onde investir jogando dardos para um lista de títulos e comprar os escolhidos tenderá a dar os mesmos ou melhores resultados do que contratar especialistas (o raciocínio é o mesmo; é impossivel prever como vai evoluir o mercado, e pelo menos assim poupa-se dinheiro em comissões)
- que tanto faz entregar a gestão dos nossos investimentos no mercado de capitais a analistas com um MBA, uma pós-graduação em Matemáticas Avançadas e uma licenciatura em Economia ou a uma gata siamesa; afinal, é impossível prever como as acções vão evoluir, e os custos de manutenção do felino até são menores (de novo, poupa-se dinheiro em comissões)
- ocorre-me também que a HME pode implicar que cobrar impostos altos aos trabalhadores da banca de investimentos pode aumentar a eficiência (no sentido usual da palavra) da economia - o meu raciocinio: em termos globais, pouco diferença faz as empresas do ramo terem super-génios ou super-trabalhadores ou apenas pessoas ligeiramente acima da média; cada empresa individual pode ter interesse em ter os melhores trabalhadores (isso pode fazer a diferença de segundos que permite ser a empresa A em vez da B a fazer um bom negócio antes que ele desapareça), mas para a indústria no seu todo pouco diferença fará ter trabalhadores altamente produtivos em vez de apenas medianamente produtivos (o mercado pode ser uns segundos mais rápido a identificar - e eliminar - bons negócios, mas isso mal se notará no conjunto da economia, ou mesmo para os lucros do conjunto das empresas de investimento); e esses impostos altos, ao desencorajar os trabalhadores potencialmente mais produtivos de ir trabalhar para os mercados bolsistas, iriam levá-los a ir trabalhar para áreas onde as suas capacidades efectivamente façam uma diferença relevante (em vez de serem utilizadas num jogo de soma quase nula). Admito que na prática seria provavelmente díficil (ou quase impossível) aplicar impostos específicos a ramos empresariais específicos.
[penso que as duas últimas "implicações" não aparecem em nenhum manual de economia - embora alguns textos falem de babuínos - mas parecem-me conclusões lógicas da HME]
Uma nota final - a HME não poderá ser uma profecia auto-destruída? Afinal, a ideia é que, como há centenas/milhares/dezenas de milhares de investidores à cata de bons negócios, qualquer bom negócio que exista será imediatamente identificado e deixará de existir. Mas se os investidores agirem de acordo com a HME, não irão perder tempo à procura de bons negócios (limitar-se-ão em investir em fundos passivos, ou seguir os conselhos de investimento dos seus gatos), logo as tais potenciais oportunidades de bons negócios não serão identificadas, haverão muitas possibilidades de ganhar dinheiro não-aproveitadas, e os preços acabarão por não reflectir toda a informação disponível (mas talvez a HME tenha implícito a premissa que haverá sempre um núcleo considerável de pessoas que não vai investir de acordo com a HME, tal como as teorias que dizem que votar é irracional têm implícita a ideia que haverá sempre muita gente a votar).
Publicada por Miguel Madeira em 14:31 0 comentários