Luciano Amaral, no seu artigo no DN, "O cisma económico" (também citado aqui), repete a tese que a presente prosperidade norte-americana foi "inaugurada pelas reformas económicas de Reagan há 25 anos".
Olhe-se para este gráfico, extraido de uma publicação[pdf] do FED de Nova Iorque, representado a taxa de crescimento da produtividade nos EUA nas últimas décadas:
E eu pergunto, aonde é que Reagan (81-88) inaugurou alguma prosperidade por aí além? A taxa de crescimento da produtividade (a variável que, a longo prazo, determina a prosperidade de um país) não me parece ter sido significativamente maior no seu mandato no que no periodo anterior. Só nos anos 90 é que a produtividade começou a crescer de forma continuada (e o próprio Luciano Amaral implicitamente diz isso, quando fala "do crescimento da economia americana nos últimos dez a 15 anos"). Assim, se fossemos atribuir a "prosperidade americana" a um presidente, faria mais sentido a Clinton ou a Bush pai (ou, mais provavelmente, a circunstâncias alheias à politica).
Já agora, no seu artigo, Luciano Amaral comete o que penso ser uma incorrecção, quando argumenta que a poupança norte-americana não será tão baixa como parece, porque "a poupança na sociedade americana é muito significativa, só que feita de forma não convencional, através da aquisição de activos, como acções bolsistas ou casas novas"; ora, creio que nas estatisticas económicas a compra de habitação não é considerada "consumo" mas sim "investimento" (e tenho certeza quase absoluta que a compra de acções não é considerada "consumo"). Assim, como essas despesas (casas e acções) não são, estatisticamente, consideradas como "consumo", não faz sentido dizer que a poupança passa despercebida por ser feita "de forma não convencional" - essa poupança, apesar de "não convencional", já é contabilizada como "poupança", não como "consumo" (p.ex, se os habitantes de um país aplicassem 5% do seu rendimento em depósitos bancários, 10% em acções, 15% em compra de casa e gastassem 70%, as estatisticas já iriam revelar uma poupança de 30%, não de 5%).
Não que eu ache que a baixa poupança seja uma fragilidade da economia norte-americana, por duas razões: por um lado, um país com baixa poupança pode sempre recorrer à poupança estrangeira para financiar o seu investimento (p.ex., através de empréstimos); por outro, a importância da acumulação de capital (e, portanto, da poupança) para o crescimento económico é relativamente reduzido, comparado, p.ex., com o progresso técnico-cientifico ou o grau de qualificação da mão-de-obra.
Olhe-se para este gráfico, extraido de uma publicação[pdf] do FED de Nova Iorque, representado a taxa de crescimento da produtividade nos EUA nas últimas décadas:
E eu pergunto, aonde é que Reagan (81-88) inaugurou alguma prosperidade por aí além? A taxa de crescimento da produtividade (a variável que, a longo prazo, determina a prosperidade de um país) não me parece ter sido significativamente maior no seu mandato no que no periodo anterior. Só nos anos 90 é que a produtividade começou a crescer de forma continuada (e o próprio Luciano Amaral implicitamente diz isso, quando fala "do crescimento da economia americana nos últimos dez a 15 anos"). Assim, se fossemos atribuir a "prosperidade americana" a um presidente, faria mais sentido a Clinton ou a Bush pai (ou, mais provavelmente, a circunstâncias alheias à politica).
Já agora, no seu artigo, Luciano Amaral comete o que penso ser uma incorrecção, quando argumenta que a poupança norte-americana não será tão baixa como parece, porque "a poupança na sociedade americana é muito significativa, só que feita de forma não convencional, através da aquisição de activos, como acções bolsistas ou casas novas"; ora, creio que nas estatisticas económicas a compra de habitação não é considerada "consumo" mas sim "investimento" (e tenho certeza quase absoluta que a compra de acções não é considerada "consumo"). Assim, como essas despesas (casas e acções) não são, estatisticamente, consideradas como "consumo", não faz sentido dizer que a poupança passa despercebida por ser feita "de forma não convencional" - essa poupança, apesar de "não convencional", já é contabilizada como "poupança", não como "consumo" (p.ex, se os habitantes de um país aplicassem 5% do seu rendimento em depósitos bancários, 10% em acções, 15% em compra de casa e gastassem 70%, as estatisticas já iriam revelar uma poupança de 30%, não de 5%).
Não que eu ache que a baixa poupança seja uma fragilidade da economia norte-americana, por duas razões: por um lado, um país com baixa poupança pode sempre recorrer à poupança estrangeira para financiar o seu investimento (p.ex., através de empréstimos); por outro, a importância da acumulação de capital (e, portanto, da poupança) para o crescimento económico é relativamente reduzido, comparado, p.ex., com o progresso técnico-cientifico ou o grau de qualificação da mão-de-obra.
2 comments:
não foi no tempo de ronald reagan que houveram protestos por causa da situação dos mais pobres?
muito bem observado, acreditar demasiado na mão invisivel do mercado (como o ronald, o principio do neoliberalismo!?) leva a cometer gafs.
por outro lado, acredita-se piamente que o aumento da produtividade e do crescimento, diminui o desemprego, ora as coisas não são assim tão lineares.
"por outro lado, acredita-se piamente que o aumento da produtividade e do crescimento, diminui o desemprego, ora as coisas não são assim tão lineares"
Na verdade, o aumento da produtividade, por si só, até pode aumentar o desemprego: se a produtividade dos trabalhadores aumentar 5% mas a economia apenas crescer 4%, o desemprego vai aumentar, já que são necessários menos trabalhadores.
Um artigo sobre o assunto:
http://www.wws.princeton.edu/pkrugman/jobs.html
Além disso, se a economia crescer mas a desigualdade dos rendimentos também aumentar, até é possível que a maioria das pessoas fique pior.
Nesse aspecto, a performance das administrações Reagan-Bush pai foi péssima: não só a economia continuou a crescer a uma taxa reduzida (2.3% ao ano nos anos 80, contra 2.8% nos anos 70), como a desigualdade aumentou: entre 1977 e 1989, o rendimento dos 1% norte-americanos mais ricos duplicou, enquanto o rendimento de uma familia "média" apenas cresceu 4.2% - nesses 13 anos, não 4.2% por ano![poder-se-á perguntar: que culpa tem o Reagan do que se passou entre 1977 e 1980? Realmente, não tem, mas as estatisticas que tenho à mão são de 77/89 - mas é duvidoso que estatisticas de 81/89 fossem muito diferentes]
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