A proposta do PP de criar um "portal de preços" tem sido muito criticada, sobretudo pelo que supostamente seria o público-alvo desse partido.
A mim parece-me que não seria uma má ideia - a verdade é que ninguém sabe como o INE calcula a taxa de inflacção, e muita gente suspeita que os números são cozinhados. Se o INE divulgasse periodicamente a evolução dos preços de várias mercadorias padrão (e não apenas a taxa de inflacção em bruto), isso tornaria possivel:
- aos consumidores saberem se vale a pena perder tempo a procurar outro fornecedor ou não: se o INE indicasse um valor médio para o preço das costoletas de borrego e no sitio onde eu as compro o preço fosse muito superior eu ficava a saber que era uma boa ideia fazer uma ronda pelos supermercados de Portimão à procura de preços mais baratos
- saber se os dados do INE são de confiança: se os preços anunciados de vários produtos fossem muito diferentes dos preços observados no mundo real (mesmo depois de fazer a ronda aos supermercados), era sinal que a taxa de inflacção é calculada a aprtir dos preços de alguma mercearia ao pé da sede do INE
- criar "taxas de inflacção alternativas": quem achasse que as poderações usadas no cálculo do IPC não reflectem verdadeiramente o padrão de consumo do português típico (ou de determinado grupo social), poderia usar os dados do "observatório de preços" para calcular a sua própria "taxa de inflacção"
Quanto ao argumento que "a evolução dos preços e a comparação deles, já agora, não cabe ao estado, que nisso gastaria recursos pagos pelo contribuinte", convém lembrar que o Estado já recolhe essa informação para calcular o IPC - seria apenas uma questão de divulgar os dados.
O único ponto negativo que vejo é que essa informação talvez facilitasse tentativas de cartelização informal.
[A partir do momento em que um radical de esquerda defende uma ideia do Paulo Portas é que a Ala Liberal do CDS/PP vai mesmo ter certeza que "não é este o caminho"]
3 comments:
O cabaz de quantificação do índice de preços decorre de uma directiva comunitária, e é confidencial.
E percebe-se porquê.
Quanto à sua idoneidade suponho que ninguém,responsavelmente, a colocou em causa até hoje.
Excelente post, Miguel Madeira.
Especialmente isto: "a verdade é que ninguém sabe como o INE calcula a taxa de inflacção, e muita gente suspeita que os números são cozinhados."
Além de não ir contra a liberdade ter uma instituição que faça o estudo dos preços. (a não ser que seja governamentalizada, e aí entramos outra vez na suspeição sobre os dados)
Não é possível uma entidade privada ou alguem por sua conta, recolher dados nacionais sobre preços, construir uma base de dados, e fazer o que bem entendesse com os resultados(publicar,vender,etc.)?
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