A esquerda incluindo a revolucionária, sempre mostrou uma boa capacidade de análise da realidade internacional, e da relação entre o Estado e as Guerras.
Aqui Marx primeiro e depois mais tarde Engels falam sobre os desenvolvimentos que levaram a França aos braços da Rússia (depois do conflito de Napoleão III com Bismarck que levou à federalização da Alemanha proclamando a Prússia como líder [e arrumando de vez com a possibilidade de serem os Habsburgos da Áustria a fazê-lo]). A favor de Bismarck, notar que nunca defendeu uma Grande Alemanha que incluiria o Império Austro-Húngaro (o que só viria a concretizar-se com Hitler dado que estupidamente o meio demente Woodrow Wilson insistiu na queda dos Habsburgos o que removia por completo o sentido de um povo de lingua alemã não fazer parte da Alemanha). A favor também que Bismarck sempre procurou manter boas relações com a Rússia.
Bem, podem ler nestas duas pérolas a antecipação exacta e clara do que aconteceu na Primeira Guerra Mundial: a república iluminista Francesa aliada (?!) da monarquia mais medieval da Europa insistem em ir em socorro da Sérvia cujos serviços secretos induziram o atentado (terrorista) do herdeiro do Império Austro-Húngaro. O Kaiser pediu primeiro ao Czar (seu primo) que não se metesse e pediu depois à França que não mobilizasse. Nada feito, perante duas frentes o plano [e todos concordarão que era o único possível] alemão era conhecido há muito tempo: derrotar em tempo recorde os franceses e deslocar as tropas depois para Leste, e para isso só passando pela Bélgica (um Estado meio artificial). E claro, isso dá a desculpa para o germano-fóbico Churchill entrar em mais uma guerra gloriosa (apesar da monarquia inglesa ser já de origem alemã e o Kaiser neto da Rainha Vitória!). O resto é a história que conduz ao pior século da civilização com Woodrow Wilson a impedir a negociação de uma paz honrosa entre as monarquias, conduzindo à sua queda (Wilson - o anti-monárquico - fez questão na abdicação do Kaiser e dos Habsburgos), e depois Versailles. E como digo sempre que posso, dando assim lugar ao estalinismo, fascismo e nazismo e uma nova guerra mundial ganha por Estaline e perdida pelo Império Britânico.
E assim, ironicamente uma (bem, duas... ou três com a guerra fria) guerra mundial porque a teoria das alianças determinou que os "aliados" ficassem do lado "terrorista". Existe outra teoria falsa, sobre as democracias que não fazem guerra, mas a Alemanha tinha eleições para uma das câmaras com voto universal desde 1871, bem antes dos ingleses.
Versailles parece ser uma maldição para a Europa. Foi o local onde a monarquia francesa se perdeu, onde a Prússia declara a vitória e coroa o seu imperador e onde um tratado desastroso é imposto.
Quanto a Mark e Engels:
1870 Karl Marx:
"As in 1865, promises were exchanged between Gorchakov and Bismarck. As Louis Bonaparte flattered himself that the War of 1866, resulting in the common exhaustion of Austria and Prussia, would make him the supreme arbiter of Germany, so Alexander [II of Russia] flattered himself that the War of 1870, resulting in the common exhaustion of Germany and France, would make him the supreme arbiter of the Western continent. As the Second Empire thought the North German Confederation incompatible with its existence, so autocratic Russia must think herself endangered by a german empire under Prussian leadership. Such is the law of the old political system. Within its pale the gain of one state is the loss of the other. The tsar's paramount influence over Europe roots in his traditional hold on Germany. At a moment when in Russia herself volcanic social agencies threaten to shake the very base of autocracy, could the tsar afford to bear with such a loss of foreign prestige? Already the Moscovite journals repeat the language of the Bonapartist journals of the War of 1866. Do the Teuton patriots really believe that liberty and peace will be guaranteed to Germany by forcing France into the arms of Russia? If the fortune of her arms, the arrogance of success, and dynastic intrigue lead Germany to a spoilation of French territory, there will then only remain two courses open to her. She must at all risks become the avowed tool of Russian aggrandizement, or, after some short respite, make again ready for another "defensive" war, not one of those new-fangled "localized" wars, but a war of races — a war with the Slavonic and Roman races.[D] "
1891, Frederick Engels:
And has not the prophecy been proved to the letter that the annexation of Alsace-Lorraine would "force France into the arms of Russia", and that after this annexation Germany must either become the avowed tool of Russia, or must, after some short respite, arm for a new war, and, moreover, "a race war against the combined Slavonic and Roman races"? Has not the annexation of the French provinces driven France into the arms of Russia? Has not Bismarck for fully 20 years vainly wooed the favor of the tsar, wooed it with services even more lowly than those which little Prussia, before it became the "first power in Europe", was wont to lay at Holy Russia's feet? And is there not every day hanging over our heads the Damocles' sword of war, on the first day of which all the chartered covenants of princes will be scattered like chaff; a war of which nothing is certain but the absolute uncertainty of its outcome; a race war which will subject the whole of Europe to devastation by 15 or 20 million armed men, and is only not already raging because even the strongest of the great military states shrinks before the absolute incalculability of its final outcome?
Thursday, April 24, 2008
Pérolas da história
Publicada por CN em 09:28
Etiquetas: Textos de Carlos Novais
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