Friday, January 14, 2011

Quem paga os impostos sobre o trabalho? (II)

Continuando esta questão, e pensando melhor no assunto, a teoria do Carlos Guimarães Pinto (de que quando há muito desemprego o impostos sobre o trabalho é pago pelo empregado e quando há pouco é pago pelo empregado) é capaz de fazer sentido neste cenário:


Ou seja, se assumirmos que, quanto mais gente empregada houver, mais inelástica será a oferta de trabalho, então faz todo o sentido que, quanto maior o nível de emprego, maior a proporção do imposto que é realmente paga pelo trabalhador (como vimos aqui, quanto mais elástica a oferta de trabalho, maior é a tendência de o imposto recair sobre o empregador em vez de sobre o empregado).

Ou seja, numa situação em que haja pouca procura de trabalho (a linha verde), a implementação do imposto (passando a oferta de trabalho da linha vermelha para a linha roxa) vai ter um efeito muito maior sobre o salário bruto do que numa situação em que haja muita procura de trabalho (a linha azul).*

Mas faz sentido assumir que quanto maior o emprego, mais inelástica será a sua oferta? É capaz de fazer: pelo menos, quando está quase toda a gente empregada, a oferta de trabalho tenderá a ser quase totalmente rígida, pelo simples facto que não há mesmo mais gente para trabalhar (ou seja, aí a curva da oferta de trabalho tem, forçosamente, uma inclinação vertical). Já não tenho tanta certeza que possamos saltar de "quando o desemprego é quase nulo, a oferta de trabalho é quase rígida" para "quanto maior o desemprego, mais elástica é a oferta de trabalho", ou se, pelo contrário, será possivel que a oferta de trabalho tenha comportamentos estranhos, estilo ser muito rígida quanto há muito emprego, elástica quando há um desemprego médio mas de novo rígida quando haver muito desemprego, assim:

Num caso destes diria que a situação em que o imposto recai mais sobre o empregador é situação de desemprego intermédio (em que a procura de trabalho é representada pela linha verde), em que o salário bruto sobe de B para B', enquanto tanto na situação de muito desemprego (azul claro) como de quase pleno emprego (azul escuro) o aumento dos salários brutos será menor. Mas talvez no mundo real seja bastante improvável que a oferta de trabalho tenha o comportamento apresentado neste último cenário.

*não sei porquê, mas ao escrever este parágrafo comecei involuntariamente a pensar em nomes como "Laranjeiras" e "Baixa-Chiado"...

1 comment:

Carlos G. Pinto said...

Muito bem Miguel! Parece-me que estamos alinhados, ainda que possa não parecer. A oferta de trabalho tenderá a ser inifinitamente elástica quando o salário se aproxima do salário de reserva e vice versa. o salário estará próximo do salário de reserva se a posição negocial do trabalhador for fraca. Mais uma vez, vice-versa :)
Já agora um desafio: já pensaste no que acontece se também variar a elasticidade da curva da procura de trabalho?