Thursday, December 01, 2011

Re: Opções para Portugal

João Miranda expõe algumas opções para Portugal (via O Insurgente):

Intervenção do BCE para salvar o euro emitindo moeda: Inflação. Perda colossal do poder de compra. Portugal entra em austeridade por via inflacionista (salários reais da função pública caem mais 10% ou 20%)
Pelo menos, ambíguo - há várias décadas que os economistas polemizam entre si sobre se uma expansão monetário origina sempre uma subida de preço ou se isso só acontece quando a economia está em pleno emprego (o caso recente dos EUA, em que uma expansão monetária brutal provocou apenas um pequeno aumento da inflação, parece dar razão à segunda teoria). Assim, se a primeira teoria estiver certa, João Miranda está certo; se a segunda estiver certa, seria possivel ao BCE emitir moeda sem causar inflação, já que a economia da zona euro está provavelmente longe do pleno emprego.

Portugal sai da zona euro: Queda abrupta do PIB português. Financiamento congela. Política de austeridade.  Portugal tem que cortar na despesa para atingir défice zero de imediato.
.
 Zona euro implode: Queda abrupta do PIB da zona euro. Financiamento congela. Política de austeridade.  Portugal tem que cortar na despesa para atingir défice zero de imediato.
Em ambos os casos, falta uma coisa - "Desvalorização do novo escudo aumenta a competitividade da indústria e da agricultura nacionais, que passam a vender mais. O empobrecimento geral criado pela austeridade é parcialmente contrabalançado pelo enriquecimento de sectores da burguesia rural e industrial, pelo que, no conjunto, o país fica um pouco menos mal do que nas opções Cenário actual e Grécia sai do euro"

2 comments:

PR said...

Acho que a própria segunda teoria pode ser subdividida em duas:

a) A inflação não varia na mesma proporção que a moeda, porque uma parte do crescimento da moeda estimula o crescimento do PIB real. [Acho que é o que está detrás de toda a política de estabilização via banco central].

b) A inflação não anda nem desanda porque a moeda colocada pelo Banco Central no sistema financeiro acaba por não entrar na economia real [seja por falta de procura, seja por receio dos bancos que emprestam].

Se por "emissão de moeda" do BCE se entender a compra de obrigações da Zona Euro, a opção b) não se coloca - basicamente, está-se a "contornar" o congelamento do mercado financeiro e intervir directamente na economia real.

No caso a), é importante referir que há heterogeneidade na zona de circulação da moeda. A periferia pode não estar em pleno emprego, mas Alemanha, Áustria e outros estarão nessa situação (ou perto), pelo que haverá alguma inflação importada.

Mas parece-me que o maior problema é sobretudo de médio prazo. Se o BCE anunciar a intervenção de forma credível, em princípio os títulos estabilizam e o BCE nem tem de chegar a mostrar o dinheiro.

Se, por outro lado, o anúncio não "colar", o BCE fica numa situação muito complicada: vai ter de actuar permanentemente nos mercados de dívida, durante um tempo indefinido, para assegurar a estabilização do preço dos títulos portugueses, gregos, italianos, etc., etc. Quando a inflação inevitavelmente regressar, o que é que o BCE faz? Uma coisa é reabsorver moeda sob a forma de empréstimos a 1 semana [como acontece nos leilões da banca], outra coisa é mexer com títulos a 10 anos. Parece-me um bicho bem grandinho.Compreende-se que o BCE não queira meter-se neste jogo.

Carlos Roberto said...

Gostei muito do blog. Considero os blogs de Portugal muito superiores aos nossos, brasileiros, principalmente quanto à profundidade dos textos. Infelizmente, fomos inundados pelos imediatismos de facebooks e twitters da vida (@fulano: almocei, @fulano: escovei os dentes...). Suas considerações são corretíssimas. Se quiser, pode utilizar a própria evolução da economia brasileira pós-1964. Tivemos hiperinflação e moratória na década de 1980. Foi difícil. Os ricos ficaram mais ricos e os pobres mais pobres porém...a desvalorização da moeda ajudou as exportações e na redução do custo da mão de obra. Pode ocorrer o mesmo com Portugal? Talvez...