The Effects of Education, Personality, and IQ on Earnings of High-Ability Men [PDF], um estudo de 2011 sobre os efeitos da inteligência, escolaridade, traços psicológicos, etc., sobre o total de rendimentos ao longo da vida dos individuos do chamado "grupo Terman" (um conjunto de pessoas com um QI medido maior que 135 e que foram seguidos entre 1922 e 1991, sendo sujeitos a inquéritos periódicos.
Uma das conclusões do estudo (Tabela 5, página 44):
O que eu acho curioso nesses resultados - é que o rendimento tem uma correlação positiva com a inteligência (medida pelo QI), mas tem também uma correlação positiva com a extroversão e uma correlação negativa (ainda que não significativa) com "openness" (conceito que largamente corresponde a "curiosidade intelectual"); ou seja, o rendimento ao longo da vida será positivamente relacionado com inteligência, mas negativamente relacionado com traços de personalidade (como introversão e curiosidade intelectual) que, pelo menos a nível dos estereótipos populares, até costumam ser associados a inteligência.
Outro aspeto é que, pelo menos no contexto deste estudo, a extroversão parece ter mais efeito sobre o rendimento que a inteligência (ver também isto[PDF]); porque é que isto é digno de nota? Porque há décadas (quase séculos) que há uma enorma disputa intelectual sobre a inteligência: é mais genética ou mais resultado do ambiente? É um único fator ou é uma combinação entre vários fatores? Os testes de QI são ou não eficazes a medir a inteligência? Há diferenças relevantes a nível de inteligência entre populações distintas? Etc., etc. etc. (as polémicas à volta do conceito de inteligência são infindas). Ora, porque é que não há polémicas similares à volta da extroversão, que até parece ser um fator tão ou mais importante para o sucesso pessoal?
Eu tenho uma teoria sobre isso - é que é mais fácil extrapolar do "descritivo" para o "normativo" no caso da inteligência do que da extroversão: a tese de que as desigualdades sociais são justas porque são um resultado de diferenças de inteligência, e essas por sua vez são o resultado de diferenças genéticas tem alguma lógica (embora não tanto como pareça); afinal, é de esperar que pessoas mais inteligentes sejam mais "úteis à sociedade" (nomedamente descobrindo soluções para problemas), e portanto até poderá haver alguma justiça em ganharem mais. Já no caso da extroversão é mais díficil achar uma justiça intrinseca em pessoas extrovertidas ganharem mais (pode-se imaginar razões para em certos trabalhos pessoas extrovertidas serem mais produtivas, mas também se pode imaginar razões para serem menos noutros), e até é muito provável que um estudo indicando uma relação entre extroversão e altos rendimentos seja interpretado, não como justificando essa distribuição de rendimentos, mas, pelo contrário, como indicando que o sucesso depende de "cunhas", "contactos" e "redes de influências" (coisas em que é de supor que os extrovertidos estejam mais à vontade, até porque normalmente conhecem mais gente) e não do "mérito" pessoal.
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