Monday, July 28, 2014

Diferença cultural entre a Europa e os EUA?

Comparar a atitude dos "libertários" norte-americanos com a de liberais portugueses perente o cenário "policia vai a uma casa e mata o cão da família".

9 comments:

João Vasco said...

Não é nada justo tomar a posição da conservadora Helena Matos como sendo a posição dos liberais portugueses em geral.

É verdade que muitos dos que se dizem liberais são efectivamente conservadores, mas apesar de tudo ainda fazem alguma ginástica para manter as aparências. O João Miranda tinha de se lembrar que o estado não se devia meter no casamento para defender a sua posição conservadora contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo; mas a Helena Matos não precisa desses artifícios, escreve contra as gravidezes de aluguer e as "causas fracturantes da esquerda" seja a legalização das drogas leves ou o fim da descriminação contra os homossexuais sem qualquer pudor de estar efectivamente a atacar causas liberais.
Nos comentários já várias vezes fiz esta observação, mas só tive em resposta as bocas infantis do Vítor Cunha.

E depois, existe sempre o Gabriel Silva, um autor efectivamente liberal no Blasfémias.

Miguel Madeira said...

Bem, eu escrevi "de liberais" e não "dos liberais" já a pensar nisso. Mas para falar a verdade nem sequer sei se a Helena Matos se considera liberal (classifiquei-a como liberal simplesmente por associação, já que escreve no que eu acho o mais claramente liberal dos principais blogs politicos portugueses).

De qualquer maneira, uma coisa que nota na HM é que ela raramente defende de forma explicita a posição conservadora, concentrando-se sobretudo em atacar a posição "progressista"; p.ex., via-a escrever muitos posts criticando os argumentos usados para defender as gravidezes de aluguer, e a dizer que a defesa das gravidezes de aluguer é contraditória com outras posições e atitudes que também estão na moda - mas creio que nunca li nada dela dizendo mesmo "sou contra a legalização das gravidezes de aluguer".

João Vasco said...

Miguel,

É verdade que a Helena Matos raramente defende a sua posição, preferindo antes atacar a posição progressista.
No caso das gravidezes de aluguer, no entanto, ela defendeu mesmo a posição conservadora aqui:

http://observador.pt/opiniao/os-penis-de-aluguer-e-os-testiculos-de-substituicao/

Duvido que ela se considere liberal, a não ser que não veja qualquer diferença entre o liberalismo e o conservadorismo. A única causa "liberal" que eu talvez não visse um conservador defender com tanto afinco (e mesmo assim não sei...) foi a limitação do sal em excesso no pão (deve ter sido das poucas vezes em que concordei com ela...).
Mas, uma vez que o José Manuel Fernandes e o Pedro Arroja se consideram "liberais", não ponho as minhas mãos no fogo. Quando alguém (Pedro Arroja) considera os governos de Salazar como mais liberais que os actuais*, sabemos que a palavra liberal já não quer dizer nada. Ou então quer simplesmente dizer "direita".

(*a desculpa era que o estado tinha menos peso na economia)


Bom, no fim de contas, o que dá razão ao título do post não é aquela observação da Helena Matos, é mesmo que o «o mais claramente liberal dos principais blogs políticos portugueses» tenha albergado o Pedro Arroja e ainda albergue a Helena Matos. Isso diz tudo.

Carlos Duarte said...

Libertarians (nem sei se há tradução para isto) <> Liberais

Miguel Madeira said...

No caso do Pedro Arroja, creio que foi tudo um equivoco, como se um blogue maoista tivesse convidado o João Carlos Espada para escrever (ou, já agora, como se um blogue liberal de esquerda tivesse convidado o JCE para escrever...): o PA era um liberal radical (ok, não faço ideia de quais as opiniões dele em termos de liberdades civis, mas era o maior defensor do liberalismo económico) nos anos 80 e 90, e após alguns anos a viver em países protestantes chegou à conclusão que o liberalismo servia para os protestantes mas que para os católicos o que servia era um regime autoritário e uma economia corporativa - como ele não tinha escrito nada nessa nova fase, os blasfemos convidaram-no julgando que estavam a convidar o PA dos anos 80.

Diria até que, neste altura, se há um Portugal um pensador de direita claramente oposto ao liberalismo (e que dedica grande tempo exatamente a criticá-lo) é o PA.

Miguel Madeira said...

Quanto a traduzir libertarians - "libertários" não serve, já que o termo fora do mundo anglo-saxónico tende a ser usado no sentido de anarquista de esquerda (ou, no minimo, no sentido de "liberal em questões sociais").

Admito que "liberais" talvez não seja o mais correto, já que a maior parte dos "liberals" e grande parte dos "conservatives" norte-americanos seria considerada "liberal" na Europa (veja-se que o single payer health system, que nos EUA é considerado uma ideia da franja "radical" do Partido Democrata, em Portugal só é defendido por setores da direita mais ou menos liberal, como o Henrique Raposo, normalmente sob o slogan "ADSE para todos"); mas, de qualquer forma, penso que é ainda a melhor tradução - ios libertarians defendem os mesmo principios gerais que os liberais, apenas sendo mais radicais nas reivindicações concretas (por outras palavras, um libertarian pode ser visto como um liberal radical e um liberal como um libertarian moderado)

Miguel Madeira said...
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Miguel Madeira said...

Já agora, um artigo sob o uso do termo liberal - o que é intweressante para aqui é que o que o autor chama o "uso académico" é capaz de ser o uso dominante fora dos EUA:

http://econlog.econlib.org/archives/2010/05/liberal_conflat.html

João Vasco said...

Ok, o Pedro Arroja pode ser uma excepção notável, mas não deixa de ser curioso que até aos seus posts claramente anti-semitas, ele lá se foi mantendo no Blasfémias defendendo o "liberalismo" (que agora aparentemente critica), mas chamando "liberal" ao Salazar e à autoridade absoluta do Papa. O Blasfémias conviveu ainda bastante tempo com esta "novilíngua" até o anti-semitismo finalmente ter levado a algumas reacções.

Mas mesmo esquecendo o Pedro Arroja, indivíduos como o Vítor Cunha, o José Manuel Fernandes, etc.. dificilmente podem ser considerados "liberais".

O caso do Vítor Cunha atingiu um extremo curioso aqui: http://esquerda-republicana.blogspot.pt/2014/03/o-blasfemias-contra-o-liberalismo.html