Tuesday, October 06, 2015

Razão e emoção (II)

Mas há uma reflexão mais profunda que me ocorre acerca da suposta dicotomia razão-emoção; imagine-se uma dicotomia entre pessoas que gostam ir à praia e pessoas que gostam de costeletas de borrego.

Perante esta suposta dicotomia, a maior parte das pessoas reagiria "Hum?? Mas o que tem uma coisa a ver com a outra? Podem perfeitamente haver pessoas que adoram praia e costeletas de borrego, e inversamente pessoas que detestam ambas as coisas".

E é exatamente aí que eu quero chegar a respeito da razão-emoção: a mim parece-me que o oposto de "razão" é, conforme as circunstancias, "instinto"/"bom senso"/"senso comum"/"intuição" (abaixo, escrevo um pouco mais sobre isso), e o oposto de "emoção" é "calma"; à partida, os eixos razão vs. instinto/bom senso/senso comum/intuição e emoção vs. calma parecem-me perpendiculares, sem qualquer oposição entre entre razão e emoção.

A respeito do "instinto", do "bom senso", do "senso comum" e da "intuição" - são conceitos diferentes, mas têm todos em comum a ideia de tomar decisões e/ou chegar a conclusões sem precisar de pensar no assunto, por um processo quase automático similar a um reflexo físico (enquanto "razão" significa chegar as conclusões através da reflexão e da análise): "instinto" costuma ser usado quando se parte do princípio que é algo natural que já nasceu com a pessoa (mas por vezes é usado figurativamente, quando por exemplo se fala em "desenvolver o instinto de...", no sentido de qualquer automatismo mental, mesmo que adquirido), "senso comum" a algo que uma pessoas interioriza por desde sempre ter convido com essas ideias, "intuição" quando - ao contrário do "senso comum" - se refere a uma ideia excêntrica que ocorreu à pessoa em causa, e "bom senso" é quase a mesma coisa que "senso comum", com um pouco de "instinto" à mistura. Diga-se que, embora haja vários substantivos para designar o tal processo de "reflexo mental", o adjetivo "intuitivo" é usado em geral para todos eles.

Aliás, a própria ideia de uma dicotomia razão-emoção parece-me ela própria um exemplo de "reflexo mental" - é uma ideia que nos ocorre intuitivamente, mas creio que não sobrevive a uma análise lógica (que é o que tentei fazer neste post).

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