Friday, September 21, 2018

Jordan Peterson, snowflake

Exclusive: Jordan Peterson Threatened to Sue a Critic for Calling Him a Misogynist:

Best-selling author Jordan Peterson first shot to fame by styling himself as afree-speech warrior at the University of Toronto, where he teaches psychology. Objecting to trans people’s requests that he use their preferred pronouns, Peterson said in 2016, “I don’t recognize another person’s right to determine what pronouns I use to address them.” Later, he told the BBC, “I’ve studied authoritarianism for a very long time — for 40 years — and they’re [sic] started by people’s attempts to control the ideological and linguistic territory.”

But Peterson’s affection for unbounded “linguistic territory” only goes so far, it seems. In June, he threatened to sue Down Girl author and Cornell University assistant professor Kate Manne for defamation, after she criticized his book, 12 Rules For Life, and more generally called his work misogynistic in an interview with Vox.
Ou talvez não - se calhar "snowflake" só se aplica aos que tentam calar os outros pelos seus próprios meios e com risco pessoa (invadindo uma sala de conferências, p.ex.), mas já não aos que subcontratam ao Estado (ameaçando com processos judiciais, p.ex.) a tarefa de calar os seus oponentes.

Thursday, September 20, 2018

Porque será mais fácil a um governo de direita sair do euro

Ultimamente tem se vindo aos poucos a falar de uma possível crise orçamental ou da dívida italiana (via).

Se essa crise ocorrer (e é provável - o programa da coligação extrema-direita/extremo-centro que governa Itália inclui baixar os impostos e aumentar as prestações sociais, o que possivelmente poderá levar a um conflito com a Comissão Europeia ou o Eurogrupo, a uma redução dos ratings, etc.), suspeito que Itália mais facilmente poderá jogar a cartada "sair do euro e/ou lançar uma moeda própria" do que a Grécia ou Portugal.

A minha ideia - sobretudo imediatamente, quem ganha e quem perde se um país sair do euro e passar a usar uma moeda desvalorizada (ou se permanecer nele, mas passar a pagar aos funcionários públicos com uma moeda desvalorizada)?

- Ganha que tem vencimentos facilmente atualizáveis (em que pode subir o valor nominal para compensar a desvalorização da moeda)e perde quem tem vencimentos nominais fixos; ou seja, assim perderá mais serão as pessoas que vivem de receber juros de títulos ou depósitos (cujo rendimento é fixo), depois os assalariados (cujo vencimento só é atualizado de vez em quando), enquanto os empresários e trabalhadores por conta própria (que em principio podem subir os seus preços a qualquer momento) serão os mais beneficiados.

- Ganha que produz sobretudo bens transacionáveis (isto é, bens que são comercializados no mercado internacional), cuja competitividade aumenta com a desvalorização (e cujo preço, de qualquer maneira, é mais afetado pelos preços internacionais), e perde que produz bens não-transacionáveis (e que vai ter que pagar mais caro quando quiserem comprar bens transacionáveis). Assim, eu diria que quem trabalha na agricultura, industria extrativa ou transformadora e no desenvolvimento de alta tecnologia ganhará, e quem trabalha na construção civil e em grande parte do comércio e serviços perderá.

- Os trabalhadores do sector público serão prejudicados face aos do sector privado, já que os primeiros vão passar a receber na nova moeda, enquanto é possível que no sector privado se continue, formal ou informalmente, a usar o euro (assim, assumindo que a nova moeda desvaloriza, os rendimentos dos funcionários públicos desvalorizarão face aos dos privados).

Ou seja, dá-me a ideia que um país trocar o euro por uma moeda mais fraca iria, à partida, beneficiar mais (ou prejudicar menos) os empresários e o sector privado e menos os assalariados e os funcionários públicos; por outras palavras, mais o eleitorado da direita que o da esquerda; assim, a Liga italiana terá mais margem de manobra para, se for enconstada à parede pela UE, abandonar o euro (as empresas exportadoras do Norte de Itália - que suponho, entre empresários e trabalhadores, sejam a sua clientela eleitoral - até agradecerão) do que o Syriza grego.

Já agora, fará também algum sentido que em Portugal o PCP seja o mais anti-euro dos partidos da geringonça (face ao pré-euro PS e ao até há pouco tempo oscilante BE) - já que suspeito que o PCP tem uma maior base social entre os trabalhadores dos sectores transaccionáveis, enquanto o BE e o PS serão partidos mais dos trabalhadores dos serviços (pode-se contrapor que no Algarve - a região onde tradicionalmente tanto o PS como o BE têm a sua maior implantação eleitoral - grande parte do comércio e serviços é transacionável, devido ao turismo, mas duvido que a nível global isso afete muito).

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

Wednesday, September 12, 2018

Labour propôe participação dos trabalhadores na propriedade das empresas

McDonnell: Labour will give power to workers through ‘ownership funds’(The Guardian):

All private companies employing more than 250 people would have to set up “ownership funds” giving workers financial stakes in their companies and increasing powers to influence how they are run, under radical plans announced by Labour as it prepares for a possible general election within months.
[Via Chris Dillow]

Na Suécia, nos anos 70, houve um plano para fazer algo parecido (mas o eleitorado não gostou da ideia)

Friday, September 07, 2018

O "Deep State" e Trump

Lendo o tal artigo que alguém da administração Trump* publicou no New York Times, parece-me que o Deep State / Steady State está a tentar sabotar essencialmente o único ponto positivo de Trump (ser aparentemente menos belicista e militarista do que se esperaria de um Republicano), e de resto não têm grandes objeções a ele.

* Não sei porquê, lembrei-me de Franz von Papen

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

A concentração capitalista vai de vento em poupa

A respeito da redução do número de trabalhadores por conta própria em Portugal, Carlos Pereira da Cruz (CCz) escreve que "que em Portugal o número de trabalhadores por conta própria está a baixar, enquanto em todas as economias ocidentais está a crescer".

Será mesmo? Vamos ver os dados da OCDE , e comparar a percentagem de trabalhadores por conta própria nalguns países, em 2013 e 2017:


2013
2017
dif.
União Europeia16,52%15,54%-0,98
Zona Euro15,86%14,95%-0,91
EUA6,61%6,26%-0,35
Reino Unido14,58%15,36%0,78
Alemanha11,2%10,2%-1,00
França11,27%11,64%0,37
Itália24,82%23,2%-1,62
Portugal21,94%16,99%-4,95
Japão
(ocidental honorário)
11,51%10,4%-1,11

Com a exceção do Reino Unido e da França, nos principais países do OCDE parece estar a haver uma redução da proporção de trabalhadores por conta própria (ainda que não tão pronunciada como em Portugal - mas também é verdade que o nosso ponto de partida é mais elevado que a maioria dos outros); agora, de facto isto não contradiz o que CCz diz, já que ele se refere ao número de trabalhadores por conta própria, e não à proporção (e uma pequena redução na proporção acompanhada por um aumento do total de trabalhadores - como acontece num período de recuperação económica - provavelmente leva a um aumento do número absoluto de trabalhadores por conta própria) - no entanto, acho que a evolução da proporção é uma variável mais relevante que o número absoluto (que é facilmente afetado por outras variáveis, como o ciclo económico ou a evolução da população).

Ou seja, mesmo com a famosa gig economy mantêm-se a tendência histórica para o trabalho por conta própria diminuir; na verdade até diria que provavelmente a gig economy até fará essa redução na realidade ser maior do que mostram estas estatísticas, já que muitas pessoas que trabalham nesse sector estão inscritos como trabalhadores independentes mas na verdade têm muito de assalariados-com-outro-nome; um exemplo: há dias ouvi falar de um senhor que foi fazer uma entrevista para ir trabalhar para a Uber, e que acabou por, para trabalhar com eles, ter que fazer sociedade com outro, porque sozinho não tinha disponibilidade para fazer os horários que eles queriam; antes de ouvir esta história, eu até julgava que os motoristas da Uber só trabalhavam quando queriam (ligando e desligando a aplicação à sua vontade) - mas afinal é-lhes imposto uma espécie de horário (ou seja, já são um tipo de semi-assalariados).

Leituras adicionais:

Thursday, September 06, 2018

Guatemala: auto-golpe em marcha?

El Moralazo es cuestión de tiempo. Jimmy desacata a la CC y prohíbe el ingreso de Iván Velásquez, por Gabriel Woltke:

El pasado viernes 31 de agosto Jimmy Morales retomó su batalla personal para sacar a la CICIG de Guatemala. Revivió todos los fantasmas de los golpes de Estado militares y sacó carros militares para intimidar a ciudadanos, organizaciones sociales, la misma CICIG y la Embajada de Estados Unidos.

El viernes anunció que no renovaría el mandato de la Comisión y que “no acataría órdenes ilegales” como preludio de que este despliegue de fuerza desmedido apuntaba a que buscaba algo más.
Sus defensores en redes sociales y la Fundación Contra el Terrorismo lo apremiaron a que “concluyera lo que empezaba” y al parecer, este 4 de septiembre ha decidido concretar su plan. (...)

La orden del presidente Jimmy Morales desobedece la sentencia del más alto tribunal del país, la Corte de Constitucionalidad, que tras frustrar su primer intento por expulsar a Iván Velásquez, le ordenó no interferir en el trabajo de CICIG.

Impedir que el comisionado ingrese al país es el obstáculo más grande que podría hace el presidente y desobedecer a la Corte de Constitucionalidad constituye un delito.

Solo hay dos salidas para salir de esta encrucijada.

Una es que la Corte de Constitucionalidad lo obligue a respetar sus decisiones, ordenando a los Ministros de Gobernación y Defensa que desobedezcan al Presidente.

Y la otra, la más probable, es que Jimmy Morales y sus ministros de Gobernación y Defensa desconozcan a la CC. Eso es un Golpe de Estado al mejor estilo del que intentó perpretar Jorge Serrano Elías en 1993.