Wednesday, April 24, 2013

O Zé não empreende?

O Carlos Guimarães Pinto expõe uma teoria sobre a causa do baixo empreendedorismo em Portugal (altas impostos e taxas, e talvez os regulamentos da ASAE).

De novo, voltamos ao problema do que é "empreendedorismo" - se "empreendedorismo" é abrir empresas, convém lembrar que o Zé empreende muito mais do que o Joseph ou que o Josef (em Portugal há muito mais empresas por habitante que nos EUA ou no norte da Europa - e o Yusuf da Turquia provavelmente empreende ainda mais). A menos que com "empreendedorismo" queiramos dizer não "abrir empresas", mas sim "abrir empresas com produtos/processos de fabrico/métodos de venda inovadores".

Mas, se é assim, temos que ter em atenção que a questão "porque é que o Zé não empreende?" não deve ser lida como "porque é que o Zé não abre uma empresa?", mas sim como "porque é que o Zé abre um café em vez de uma empresa inovadora?"; mas não me parece que a explicação do CGP seja apropriada para isso - afinal, suponho que os impostos e afins são potencialmente tão desincentivadores para abrir um café como para abrir uma empresa inovadora.

É verdade que o Carlos se refere especificamente ao baixo empreendedorismo entre os jovens licenciados, mas:

a) serão assim tão poucos os jovens licenciados que abrem empresas? Não faço ideia se são ou não, mas seria interessante conhecer uma estatística do género "% de pessoas com formação superior e menos de 35 anos que são empresários" para vários países da OCDE

b) mesmo que haja pouco "empreendedorismo" entre os jovens licenciados, os motivos que o Carlos apresenta deveriam produzir baixo "empreendedorismo" em todos os estratos demográficos, o que não é o caso

2 comments:

PR said...

Acho que nestes posts o "empreendedorismo" é apenas outro termo para 'riqueza', ou 'produtividade' (usando a mesma liberdade linguística que outros usam para usar 'competitividade' no mesmo sentido). Um problema adicional com esta formulação é que a carga fiscal em Portugal está (ou estava, até há bem pouco tempo) abaixo da média dos países que tinham mais produtividade ou maior crescimento da produtividade.

Carlos Guimarães Pinto said...

Miguel, repara que o post parte do pressuposto que o Zé cumpre as suas obrigações fiscais. Obviamente ninguém o faz e por isso é que existe uma distorção no tecido empresarial: abrem-se muito mais empresas em áreas onde é fácil fugir aos impostos (restauração, pequena construção civil, enfim sectores que funcionam a dinheiro). A criação de empresas de consumo intermédio onde a necessidade de facturação faz com que seja mais difícil fugir aos impostos, são desincentivadas.