Tuesday, November 20, 2018

O ensino doméstico

Entre a casa do ensino e o ensino em casa. Governo propõe alterações à alternativa e pais prometem combatê-las "com todas as suas forças" (Sapo):

Os motivos para a adesão variam também, como refere Álvaro Ribeiro, investigador na Universidade do Minho, que há dez anos se dedica a acompanhar a temática do Ensino Doméstico. A sua experiência levou-o a conhecer mais de 100 casos, estudando-os através de entrevistas, questionários e observação. Com esta bagagem, Álvaro Ribeiro diz ser possível identificar três grupos principais, com diferentes abordagens para o mesmo fim.

De um lado, o investigador aponta para famílias “progressivo-libertárias”, que seguem uma forma de ensino mais livre porque encaram a criança como “um adulto em miniatura e tentam protegê-la ao máximo na lógica da autodeterminação da pessoa”, ou seja, é ela que vai construindo o seu projeto escolar através de “livre experimentação”, enquanto os pais estão lá mas “observam à distância e agem apenas quando entendem que devem agir”.

Do outro, estão famílias “tradicionalistas, de caráter religioso, essencialmente cristão”. Estas seguem uma “doutrina guiada, mas não imposta” onde “defendem que é um direito dos pais assumirem a educação dos filhos”, fazendo-o de forma estruturada com textos e exercícios, e ensinando normas e condutas.

Há ainda todo um espetro de casos “ecléticos”, que recorrem a métodos mais ou menos próximos aos da escola, onde se procura “estimular os conflitos cognitivos”, não doutrinando mas confrontando com conhecimento, e dando “uma maior ênfase à criatividade”.

Alexandra Nascimento atesta esta diversidade, mencionando que no lado libertário existe o “unschooling”. Esta prática, como o nome indica, é uma vertente que pouco ou nada segue a escola, que não usa manuais e baseia-se no ensino livre. A jurista admite que gostava de chegar a esse ponto, mas não tem coragem porque, sendo mãe de quatro, tem de observar os diferentes ritmos dos seus filhos e não consegue estar descansada se “não der alguma estruturação ao trabalho”.

Porém, independentemente das crenças religiosas e/ou ideológicas que separem estas famílias, Álvaro Ribeiro menciona um ponto em comum: todas consideram que a escola “não educa [a criança] para o tipo de pessoa que entendem que devia ser”, e que encara os alunos "como a linha [de produção] de uma fábrica”. Então, decidem “desenvolver um projeto educativo próprio”.

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