Há dias, numa discussão no Facebook regressou à vida a notícia de 2017 de que 92% dos ativistas de esquerda detidos em manifestações em Berlim viviam em casa dos pais. Já na altura a veracidade desses números foi muito posta em causa - ver, por exemplo, estes comentários no Marginal Revolution ("That figure is almost certainly due to bad data. In Germany, you are legally required to register your new place of residence with the municipal authorities when you move, but in practice this requirement is not enforced. For ideological reasons, people on the radical left are unlikely to comply with it (other people, who move often - e.g. students - may not comply with it out of laziness). Since all of them were registered as children with their parents (for schooling, etc.), they will simply remain registered there as long as they don't report their new place of residence to the authorities.") ou este artigo no Tagesspiegel, um jornal que até penso ser bastante para a direita (o artigo está em alemão, e mesmo passando pelo Google Translate não se percebe quase nada, mas parece que a maioria dos casos afinal são pessoas em que não se conseguiu apurar onde moravam, e esses 92% serão 92% da minoria em que se sabe onde moram).
No entanto, talvez seja interessante ver se na realidade "ativistas de esquerda" são mais, menos ou igualmente dados a viver com os pais em comparação com a população em geral (o meu primeiro instinto foi assumir "menos", partindo do principio que pessoas de direita terão mais aquela mentalidade de só sair de casa dos pais quando se casam, mas depois lembrei-me que por outro lado provavelmente também se casam mais); não faço a mínima ideia de como ver isso para a Alemanha (a origem da conversa) ou para Portugal, mas nos EUA temos sempre o GSS, portanto vamos lá.
Variáveis - RPLACE (qual a relação que tem com o chefe de família?), POLVIEWS (ideias políticas); AGE (idade - limitei a entre os 20 e os 30 anos); e YEAR (ano em que foi feito o inquérito - fiz só a partir do ano 2000).
Se nos limitarmos à esquerda mais radical ("Extremely Liberal"), a proporção de pessoas a viver com os pais (ou sejam, de pessoas que declaram ser "child" do chefe de família) é de 20,4%, das mais baixas para os vários segmentos ideológicos, e inferior aos 26,7% para a população em geral - e contraponto a essa baixa quantidade de pessoas a viver com os pais é uma elevada proporção (23,4%, contra 10,4% no conjunto) a viver em lares de um "non-relative", o que provavelmente inclui squatts, quartos alugados, residências de estudantes, amigos a partilhar casa, etc. (se controlarmos para SEX, a percentagem de raparigas "Extemely Liberal" a viver em casa de "non-relatives" sobre para 32,6%, o que me parece bater certo com o cenário de "amigos/amigas a partilhar casa", já que pelo menos nos filmes norte-americanos parece muito mais comum duas ou três jovens mulheres a partilhar uma casa do que em homens).
Se colapsarmos as várias categorias de "liberais" e conservadores em duas categorias de esquerda (1-3) e direita (5-7), temos:
Aqui efetivamente há mais gente a viver com os pais na esquerda, mas praticamente igual ao centro.
Claro que aqui falta um ponto - o "ativistas"; talvez coincida com o "Extremely Liberal", mas não é certo, logo vamos procurar uma variável adicional que permita distinguir ativistas de pessoas que têm as suas opiniões mas não passam a vida em atividades políticas. Uma variável que pode servir para isso é JOINDEM ("Took part in a demonstration"), mas só tem respostas para os anos de 2004 e 2014; de qualquer maneira, vamos considerar como ativistas quem respondeu "1" nessa questão (significando que foi a manifestações no ano anterior).
Agora, isto já dá um pouco mais de trabalho, implicando juntar as variáveis JOINDEM e POLVIEW para criar uma nova variável:
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