Num comentário ao post anterior, um comentador escreve:
Na medida em que se perguntarem aos cidadãos outrora chavistas que medidas deve o governo tomar, duvido que haja um consenso sobre privatizacoes, fim de servicos gratuitos de saúde e educação e etc que foram as bandeiras do chavismo e que também eram defendidas pelos que derrubaram o muro de Berlim. E no entanto a haver eleições terá de ser esse o programa vencedor, duvido que haja alternativa. E daqui a 5 ou 10 anos haverá mais mercadorias nas prateleiras mas provavelmente haverá uma certa frustração quanto ao resto, e o resto não é coisa pouca.Caso o regime de Maduro caia (a minha previsão - o mais provável é que caia num mês ou menos, e sem intervenção militar estrangeira direta), haverá alguma alternativa à oposição de direita (onde estou, no contexto venezuelano, a incluir os partidos ligados à Internacional Socialista, como o do proclamado "presidente interino" Guaidó)? Isto é, um movimento político que preserve as políticas sociais lançadas por Chavez e ou mesmo pelo menos parte das nacionalizações mas sem o autoritarismo?
Já agora, a respeito das nacionalizações, convém lembrar que muito do que foi nacionalizado durante o chavismo (sobretudo antes de terem entrado na linha de nacionalizar padarias por venderam acima do preço tabelado) foram empresas que já tinham sido estatais e depois tinham sido privatizadas nos anos 90 (p.ex., a companhia telefónica, e creio que também muitas concessões de exploração petrolífera), o que indicia que o elas estarem nacionalizadas não é só por si razão para haver uma catástrofe económica.
Há efetivamente uma vasta gama de "chavistas críticos", representados nomeadamente pela "Plataforma Cidadã em Defesa da Constituição", que poderiam servir de pólo a uma terceira via; a questão é saber se terão mesmo um nicho potencial de apoiantes; ou, por outras palavras, será que os sectores da população que apoiavam Chavez e agora estão contra Maduro (e quase de certeza que esses sectores existem, já que tudo indica - até os resultados das eleições parlamentares com um e o outro - que Chavez tinha muito mais popularidade, logo alguma transferência deve ter havida) estarão em modo "o Chavez era bom, o mal é este agora" ou em modo "onde estávamos com a cabeça quando apoiámos o Chavez?"? Se for o primeiro caso, é possível que procurem uma alternativa anti-madurista mas que não rompa totalmente com a herança do chavismo.
Outras possíveis terceiras vias poderiam partir partidos oposicionista, como a Avançada Progressista, de Henri Falcón, ou o Movimento Progressista, que têm origem em partidos da coligação chavista (o Podemos e o Pátria Para Todos) que entretanto romperam com o regime e que acabaram por se dividir em facções pró- e anti-governamentais (com os tribunais a atribuírem o controlo dos partidos aos grupos pró-governo e os oposicionistas a criarem estas novas organizações), mas esses estão muito mais alinhados com a oposição tradicional.
Há também alguns grupos de extrema-esquerda anti-regime, como os trotskistas do Partido Socialismo e Liberdade e da Maré Socialista e os "hoxhaistas" da Bandeira Vermelha, mas duvido que tenham qualquer implantação real (e a Bandeira Vermelha também estará demasiado comprometida com a oposição tradicional).
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