Já se tem se escrito muita coisa sobre o impacto económico da epidemia de Covid-19; mas algo que me ocorreu (e penso não tem sido muito falado) é o impacto económico e social de, daqui a uns meses, passarem a haver dois tipos de pessoas: as que ainda não apanharam Covid-19; e as que o apanharam e se curaram (os "sobreviventes").
Apesar de um ou outro caso de reinfeção, tudo indica que os "sobreviventes" estarão largamente imunizados e provavelmente também não contagiarão outras pessoas, logo é de esperar que daqui a umas semanas tenhamos os "sobreviventes" a trabalhar (pelo menos nos trabalhos que não podem ser feitos a partir de casa) e os "ainda-não-infetados" fechados em casa; nem me admiraria que, quando começarem a haver muitos "sobreviventes", comecem a ser emitidos documentos certificativos de que alguém teve o Covid-19 e curou-se, e as quarentenas passem a ser no sentido de proibir totalmente os "ainda-não-infetados" de sair à rua, só sendo os "sobreviventes" autorizados a circular (talvez o exército e a polícia até passem a ter divisões especiais de "sobreviventes", que farão o essencial do patrulhamento).
Será que se isto durar muito tempo não poderá levar a, mesmo depois da pandemia acalmar, uma sociedade dividida entre "ainda-não-infetados" e "sobreviventes", em que se calhar os segundos serão preferidos para empregos, ou até mesmo como amigos (embora nesse segundo ponto imagino que a dinâmica seja os "sobreviventes" até a não serem particularmente seletivos, e serem sobretudo os "ainda-não-infetados" a fugirem dos outros "ainda-não-infetados" e a procurarem relacionar-se sobretudo com "sobreviventes")?
Monday, March 16, 2020
O mundo do Covid-19: "sobreviventes" e "ainda-não-infetados"?
Publicada por Miguel Madeira em 20:03
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment