Semiramis chama aos meus últimos posts um "refutação absurda", afirmando que "Daniel Guérin como historiador (que nunca foi) não oferece qualquer fiabilidade" e que "limitou-se a interpretar factos, do seu tempo ou do que leu sobre outras épocas, à luz das suas opções políticas". Bem, eu próprio reconheci que Guérin não era isento, mas limitei as citações dele a factos, omitindo as interpretações (acho que o unico momento aonde citei uma interpretação foi no post "III", no final - "o povo miúdo nunca mais a reconhecerá como sua").
Agora, a Joana nega os factos que referi, nomeadamente que:
«o livro que é citado foi escrito no fim da última guerra, num período de exaltação anarco-comunista, onde se tentava branquear o comportamento dos regimes totalitários “de esquerda” para melhor levar a água ao moinho de uma Europa a caminho do socialismo “real”.»
«Aliás, sempre que há a emergência do totalitarismo de esquerda, aparecem publicistas a branquear os principais protagonistas do Terror: Robespierre, Saint-Just e outros. Não foi por acaso que a “A Luta de Classes em França na Primeira República”, de Daniel Guérin, saiu em 1946, na época em que a influência do comunismo em França foi maior, e foi editada em Portugal em 1977 (Regra do Jogo), ainda no período da efervescência revolucionária.»
Será que a Joana está a dizer que o livro de Guérin foi escrito para defender Robespierre, Saint-Just, etc., e, por tabela, o comunismo soviético? Realmente, ela não diz textualmente isso, mas parece-me que está implicito. Se assim for, é completo delírio. Mais umas citações (como agora a ideia é mostrar o pensamento de Guérin, não é relevante se correspondem ou não aos factos):
"Girondinos e Jacobinos pertenciam à mesma classe. Não havia entre eles nenhuma divergência fundamental. Eram, uns e outros, zelosos defensores da propriedade privada. Robespierre, Danton, Marat, Hébert, Billaud-Varenne proclamaram em dezenas de textos o seu carácter inviolável e sagrado, tal como Brissot, Vergniaud, Roland, Condorcet. Girondinos e Montanheses denunciaram com igual horror a «lei agrária», a comunidade dos bens. Tinham o mesmo receio da democracia directa, da intervenção do povo em armas na vida pública, do federalismo popular, o mesmo apego pela ficção parlamentar e pela legalidade, pelo centralismo político"
(...)
"Diz-se dos Girondinos que eram mais delicados, que teriam sentido uma repugnância instintiva pelo povo «grosseiro e inculto». Pois sim! Homens como Maximiliano de Robespierre, de Sait-Just de Richebourg, Barére de Viezac, Hérault de Séchelle - para não citar mais - com as suas maneiras aristocráticas, o seu porte impecável, tinham tão pouco do temperamento plebeu como um Brissot e um Vergniaud"
(...)
"Robespierre decidiu pôr um ponto final na questão. Lançou sevícias contra homens pobres, desarmados, ingénuos, ignorantes das artimanhas e trapaceiras da política e cuja única força consistia na simpatia que haviam inspirado ao povo miúdo (...). Perseguiu militantes que, desde 10 de Agosto de 1792, se tinham posto na vanguarda da luta revolucionária, que, semanas antes, tinham ajudado a burguesia montanhesa a eliminar a Gironda. Era bem justa a amargura de Jacques Roux, quando escrevia: «Desde sempre se têm servido dos homens de carácter exepcional para fazer as revoluções. Quando já não precisam deles, laçam-nos fora, como a um vaso partido»"
(...)
"Das duas, a corrente contra-revolucionária era a mais forte. Robespierre tentou captá-la para si. No seu discurso de 8 de Thermidor, não hesitou em acenar para a direita da Asembleia, esses «sapos de Marais», conservadores inveterados, católicos militantes, pelos quais, havia muito, nutria simpatias. Na sessão do dia seguinte, abandonando os Montanheses que o apupavam, virou-se mais uma vez para a direita:«É a voz, homens puros, que me dirijo e não aos bandoleiros»"
Se isto é um branquemento de Robespierre e dos Jacobinos, como seria uma crítica? A menos que seja um "branqueamento" no sentido de os chamar de "conservadores" ("brancos").
Adenda: lendo melhor o artigo da Joana, ela efectivamente chama a Guérin de "branqueador do totalitarismo da Montanha".
Agora, a Joana nega os factos que referi, nomeadamente que:
- A Convenção proibiu as secções de se reunirem mais que duas vezes por semana?
- Robespierre destituiu os dirigentes da Comuna de Paris e substitui-os por elementos nomeados pelo Comité de Salvação Pública?
- Hebért (o cabecilha da Comuna) foi executado pelos Jacobinos?
«o livro que é citado foi escrito no fim da última guerra, num período de exaltação anarco-comunista, onde se tentava branquear o comportamento dos regimes totalitários “de esquerda” para melhor levar a água ao moinho de uma Europa a caminho do socialismo “real”.»
«Aliás, sempre que há a emergência do totalitarismo de esquerda, aparecem publicistas a branquear os principais protagonistas do Terror: Robespierre, Saint-Just e outros. Não foi por acaso que a “A Luta de Classes em França na Primeira República”, de Daniel Guérin, saiu em 1946, na época em que a influência do comunismo em França foi maior, e foi editada em Portugal em 1977 (Regra do Jogo), ainda no período da efervescência revolucionária.»
Será que a Joana está a dizer que o livro de Guérin foi escrito para defender Robespierre, Saint-Just, etc., e, por tabela, o comunismo soviético? Realmente, ela não diz textualmente isso, mas parece-me que está implicito. Se assim for, é completo delírio. Mais umas citações (como agora a ideia é mostrar o pensamento de Guérin, não é relevante se correspondem ou não aos factos):
"Girondinos e Jacobinos pertenciam à mesma classe. Não havia entre eles nenhuma divergência fundamental. Eram, uns e outros, zelosos defensores da propriedade privada. Robespierre, Danton, Marat, Hébert, Billaud-Varenne proclamaram em dezenas de textos o seu carácter inviolável e sagrado, tal como Brissot, Vergniaud, Roland, Condorcet. Girondinos e Montanheses denunciaram com igual horror a «lei agrária», a comunidade dos bens. Tinham o mesmo receio da democracia directa, da intervenção do povo em armas na vida pública, do federalismo popular, o mesmo apego pela ficção parlamentar e pela legalidade, pelo centralismo político"
(...)
"Diz-se dos Girondinos que eram mais delicados, que teriam sentido uma repugnância instintiva pelo povo «grosseiro e inculto». Pois sim! Homens como Maximiliano de Robespierre, de Sait-Just de Richebourg, Barére de Viezac, Hérault de Séchelle - para não citar mais - com as suas maneiras aristocráticas, o seu porte impecável, tinham tão pouco do temperamento plebeu como um Brissot e um Vergniaud"
(...)
"Robespierre decidiu pôr um ponto final na questão. Lançou sevícias contra homens pobres, desarmados, ingénuos, ignorantes das artimanhas e trapaceiras da política e cuja única força consistia na simpatia que haviam inspirado ao povo miúdo (...). Perseguiu militantes que, desde 10 de Agosto de 1792, se tinham posto na vanguarda da luta revolucionária, que, semanas antes, tinham ajudado a burguesia montanhesa a eliminar a Gironda. Era bem justa a amargura de Jacques Roux, quando escrevia: «Desde sempre se têm servido dos homens de carácter exepcional para fazer as revoluções. Quando já não precisam deles, laçam-nos fora, como a um vaso partido»"
(...)
"Das duas, a corrente contra-revolucionária era a mais forte. Robespierre tentou captá-la para si. No seu discurso de 8 de Thermidor, não hesitou em acenar para a direita da Asembleia, esses «sapos de Marais», conservadores inveterados, católicos militantes, pelos quais, havia muito, nutria simpatias. Na sessão do dia seguinte, abandonando os Montanheses que o apupavam, virou-se mais uma vez para a direita:«É a voz, homens puros, que me dirijo e não aos bandoleiros»"
Se isto é um branquemento de Robespierre e dos Jacobinos, como seria uma crítica? A menos que seja um "branqueamento" no sentido de os chamar de "conservadores" ("brancos").
Adenda: lendo melhor o artigo da Joana, ela efectivamente chama a Guérin de "branqueador do totalitarismo da Montanha".
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