Isto é um bocado a repetição do que escrevi aqui, mas mais resumido.
Leonardo Ralha, d'O Acidental, define "relativismo como a recusa militante de qualificar acções e atitudes". Ora, "relativismo" não é nada disso: "relativismo" é achar que o Bem (ou o Verdadeiro, ou o Belo...) varia com os lugares e as épocas históricas. Um "relativista" não se recusa a qualificar acções: para ele, uma mulher sair à rua em Riad com um cabelo à mostra é "uma completa pouca-vergonha" (enquanto um show de sexo ao vivo em Amsterdão será algo perfeitamente aceitável).
Bem, mas que importancia tem isso, que justifique um post? É que (como bem diz Leonardo Ralha), "os conceitos são uma arma". E, ao alterar o significado de uma palavra, é facil cair no que alguém chamou "a falácia da sandes de presunto" (alterar o significado de uma palavra ao longo de um argumento para chegar a uma conclusão sem sentido).
Por exemplo, será que alguém que defenda a legalização das drogas, o casamento homossexual, etc. pode ser considerado "um defensor do fundamentalismo islãmico"? Se raciocinarmos logicamente, óbvio que não. Mas há uma forma de raciocinio ilógico que chega a essa conclusão:
1. Os defensores das "causas fracturantes" recusam-se a fazer julgamentos de valor moral e consideram diferentes actos como "moralmente equivalente"
2. Logo, são "relativistas"
3. Como são "relativistas", consideram que o que é moralmente aceitável varia com a época histórica e com a geografia
4. Assim, são a favor do fundamentalismo islãmico (ou, já agora, da excisão feminina entre as tribos africanas) - afinal, tal corresponde aos padrões morais em vigor na "cultura" em questão.
Qual é a falha neste raciocinio: em primeiro lugar, há um certo exagero no ponto 1 (uma pessoa pode defender as "causas fracturantes" sem necessáriamente defender a "equivalência moral"), mas isso nem interessa muito; o que é fundamental é a batota que se faz ao passar do ponto 2 para o 3: no ponto 2, "relativismo" é definido de acordo com a novilingua conservadora; no ponto 3, "relativismo" é definido da forma usual. Ou seja, manipulando a definição de "relativismo", a direita consegue chegar a conclusões totalmente absurdas, parecendo que raciocina logicamente.
Note-se que eu não estou a dizer que, no caso concreto, Leonardo Ralha está a raciocinar assim: eu nem faço a mínima ideia de qual é a posição dele sobre os assuntos que referi (apenas usei a sua definição para demonstrar como é importante usar definições rigorasas numa argumentação).
Leonardo Ralha, d'O Acidental, define "relativismo como a recusa militante de qualificar acções e atitudes". Ora, "relativismo" não é nada disso: "relativismo" é achar que o Bem (ou o Verdadeiro, ou o Belo...) varia com os lugares e as épocas históricas. Um "relativista" não se recusa a qualificar acções: para ele, uma mulher sair à rua em Riad com um cabelo à mostra é "uma completa pouca-vergonha" (enquanto um show de sexo ao vivo em Amsterdão será algo perfeitamente aceitável).
Bem, mas que importancia tem isso, que justifique um post? É que (como bem diz Leonardo Ralha), "os conceitos são uma arma". E, ao alterar o significado de uma palavra, é facil cair no que alguém chamou "a falácia da sandes de presunto" (alterar o significado de uma palavra ao longo de um argumento para chegar a uma conclusão sem sentido).
Por exemplo, será que alguém que defenda a legalização das drogas, o casamento homossexual, etc. pode ser considerado "um defensor do fundamentalismo islãmico"? Se raciocinarmos logicamente, óbvio que não. Mas há uma forma de raciocinio ilógico que chega a essa conclusão:
1. Os defensores das "causas fracturantes" recusam-se a fazer julgamentos de valor moral e consideram diferentes actos como "moralmente equivalente"
2. Logo, são "relativistas"
3. Como são "relativistas", consideram que o que é moralmente aceitável varia com a época histórica e com a geografia
4. Assim, são a favor do fundamentalismo islãmico (ou, já agora, da excisão feminina entre as tribos africanas) - afinal, tal corresponde aos padrões morais em vigor na "cultura" em questão.
Qual é a falha neste raciocinio: em primeiro lugar, há um certo exagero no ponto 1 (uma pessoa pode defender as "causas fracturantes" sem necessáriamente defender a "equivalência moral"), mas isso nem interessa muito; o que é fundamental é a batota que se faz ao passar do ponto 2 para o 3: no ponto 2, "relativismo" é definido de acordo com a novilingua conservadora; no ponto 3, "relativismo" é definido da forma usual. Ou seja, manipulando a definição de "relativismo", a direita consegue chegar a conclusões totalmente absurdas, parecendo que raciocina logicamente.
Note-se que eu não estou a dizer que, no caso concreto, Leonardo Ralha está a raciocinar assim: eu nem faço a mínima ideia de qual é a posição dele sobre os assuntos que referi (apenas usei a sua definição para demonstrar como é importante usar definições rigorasas numa argumentação).
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