Wednesday, December 21, 2005

Guérin e o "socialismo real"

Se realmente a Joana pretende dizer que o livro de Guérin foi «escrito num periodo de exaltação anarco-comunista (...) para melhor levar a água ao moinho de uma Europa a caminho do socialismo “real”», isso não faz qualquer sentido. Em primeiro, uma "exaltação anarco-comunista a favor do «socialismo real»" parece-me algo saído de um universo paralelo. Em segundo, para variar, mais uma citação de Guérin:

"Uma das razões pelas quais tem sido tão mal compreendida a evolução de que iremos falar provém sem dúvida do facto de, a propósito do regime de 1793, se ter confundido, sob nomes como «ditadura de salvação pública», «ditadura montanhesa», «ditadura jacobina», «governo revolucionário», duas espécies diferentes de regime autoritário: por um lado, um poder popular, democrático, descentralizado, accionado da base para a cúpula, o dos sans-cullottes em armas, agrupados em secções, comités revolucionários, clubes, comunas, exigindo aquando de reveses no exterior o castigo exemplar do inimigo interior; por outro lado, uma ditadura burguesa, autoritária, centralizada, dirigida do topo para as bases e que visava também, certamente, os resíduos do Antigo Regime, mas também, e cada vez mais, o povo miúdo. Antinomia que subsistirá até aos nossos dias, em que se afrontam socialismo libertário e socialismo autoritário"

O bold é meu.

2 comments:

Anonymous said...

confundir "socialismo real" ou autoritario com socialismo libertário não é normal...

alias se conhecessem as duras criticas que proudhon e bakunin fizeram, não se diziam tais parvoices.

por outro lado, no semiramis escreve-se que o anarquismo é a antecamara para ditaduras?

está tudo parvo... quem fez frente ao comunismo? quem fez frente ao fascismo?

alias o fascismo foi uma reacção às ideias socialistas. em italia o anarquismo fazia demasiado barulho para os moralistas da época.

se houveram "anarquistas" que passsaram para o lado de lá, não quer dizer que o anarquismo tenha a ver com esse tipo de ideologias.

Miguel Madeira said...

No caso de Guérin, admito que essa confusão seja um bocadinho mais justificada, já que ele queria ser, ao mesmo tempo, marxista e anarquista (aliás, eu também sou um bocado assim). Mas, mesmo assim...

Na verdade, quando eu li o livro, a conclusão que eu tirei foi exactamente a oposta: que a sua crítica aos Jacobinos era, acima de tudo, uma forma indirecta de criticar o PC e a URSS.