Se realmente a Joana pretende dizer que o livro de Guérin foi «escrito num periodo de exaltação anarco-comunista (...) para melhor levar a água ao moinho de uma Europa a caminho do socialismo “real”», isso não faz qualquer sentido. Em primeiro, uma "exaltação anarco-comunista a favor do «socialismo real»" parece-me algo saído de um universo paralelo. Em segundo, para variar, mais uma citação de Guérin:
"Uma das razões pelas quais tem sido tão mal compreendida a evolução de que iremos falar provém sem dúvida do facto de, a propósito do regime de 1793, se ter confundido, sob nomes como «ditadura de salvação pública», «ditadura montanhesa», «ditadura jacobina», «governo revolucionário», duas espécies diferentes de regime autoritário: por um lado, um poder popular, democrático, descentralizado, accionado da base para a cúpula, o dos sans-cullottes em armas, agrupados em secções, comités revolucionários, clubes, comunas, exigindo aquando de reveses no exterior o castigo exemplar do inimigo interior; por outro lado, uma ditadura burguesa, autoritária, centralizada, dirigida do topo para as bases e que visava também, certamente, os resíduos do Antigo Regime, mas também, e cada vez mais, o povo miúdo. Antinomia que subsistirá até aos nossos dias, em que se afrontam socialismo libertário e socialismo autoritário"
O bold é meu.
"Uma das razões pelas quais tem sido tão mal compreendida a evolução de que iremos falar provém sem dúvida do facto de, a propósito do regime de 1793, se ter confundido, sob nomes como «ditadura de salvação pública», «ditadura montanhesa», «ditadura jacobina», «governo revolucionário», duas espécies diferentes de regime autoritário: por um lado, um poder popular, democrático, descentralizado, accionado da base para a cúpula, o dos sans-cullottes em armas, agrupados em secções, comités revolucionários, clubes, comunas, exigindo aquando de reveses no exterior o castigo exemplar do inimigo interior; por outro lado, uma ditadura burguesa, autoritária, centralizada, dirigida do topo para as bases e que visava também, certamente, os resíduos do Antigo Regime, mas também, e cada vez mais, o povo miúdo. Antinomia que subsistirá até aos nossos dias, em que se afrontam socialismo libertário e socialismo autoritário"
O bold é meu.
2 comments:
confundir "socialismo real" ou autoritario com socialismo libertário não é normal...
alias se conhecessem as duras criticas que proudhon e bakunin fizeram, não se diziam tais parvoices.
por outro lado, no semiramis escreve-se que o anarquismo é a antecamara para ditaduras?
está tudo parvo... quem fez frente ao comunismo? quem fez frente ao fascismo?
alias o fascismo foi uma reacção às ideias socialistas. em italia o anarquismo fazia demasiado barulho para os moralistas da época.
se houveram "anarquistas" que passsaram para o lado de lá, não quer dizer que o anarquismo tenha a ver com esse tipo de ideologias.
No caso de Guérin, admito que essa confusão seja um bocadinho mais justificada, já que ele queria ser, ao mesmo tempo, marxista e anarquista (aliás, eu também sou um bocado assim). Mas, mesmo assim...
Na verdade, quando eu li o livro, a conclusão que eu tirei foi exactamente a oposta: que a sua crítica aos Jacobinos era, acima de tudo, uma forma indirecta de criticar o PC e a URSS.
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