Rodrigo Adão da Fonseca (a que, aliás, agradeço a recomendação) cita um artigo afirmando que a proporção de negros que morreram no furacão Katrina, em New Orleans, até foi menor que a de brancos e que, portanto, o argumento que não houve racismo na má resposta à catástrofe é incorrecto.
Isso parece fazer sentido, mas não faz. Vamos pegar num exemplo hipotético (mais extremo que o de New Orleans): imagine-se uma cidade com 90% de negros e 10% de brancos. A cidade sofre uma catástrofe. O governo está nas mãos de racistas brancos, que se não se preocupam em auxiliar a cidade. Morrem 500 pessoas (450 negros e 50 brancos, o que é estatisticamente normal).
Ora, nessa situação, a taxa de mortalidade até é igual para os dois grupos (as mortes ocorreram em proporção com a demografia). Quer dizer que não houve racismo? Bem, por um lado, até quer: significa que a catástrofe em si não foi racista (aliás, os fenómenos naturais costumam ser desprovidos de consciência, logo, também de preconceitos). Mas quer dizer que o governo não foi racista? Não. O racismo manifestou-se na decisão de ajudar pouco a cidade (por ser maioritariamente negra), não na decisão de, entre a população atingida, ajudar mais os brancos que os negros. Logo, até é normal que, dentro da população atingida, a proporção de mortes entre as duas etnias seja similar.
Passando do exemplo para a situação real, parece que os mortos de New Orleans eram 59% negros (que representam 67% dos habitantes da cidade), 37% brancos (28%) e 5% "outros" (4%). Aparentemente, em proporção ao total, os brancos até morreram mais, mas, como notei atrás, isso é irrelevante para a questão: o argumento era de que a ajuda não foi tão eficiente como podia porque a maioria das vítimas era negra (e realmente foram 59%) - ninguém disse que as vítimas negras foram pior tratadas que as brancas (apenas que o conjunto das vítimas não bem tratado porque era maioritariamente negro).
Ora, a atitude de descurar o auxílio à cidade (por ser maioritariamente negra) afecta toda a gente atingida (incluindo a minoria branca), logo, as estatísticas de mortalidade entre as diferentes etnias dentro de New Orleans são irrelevantes (só seriam relevantes se se argumentasse que tinha havido mais ajuda aos bairros brancos de NO do que aos bairros negros).
Isso parece fazer sentido, mas não faz. Vamos pegar num exemplo hipotético (mais extremo que o de New Orleans): imagine-se uma cidade com 90% de negros e 10% de brancos. A cidade sofre uma catástrofe. O governo está nas mãos de racistas brancos, que se não se preocupam em auxiliar a cidade. Morrem 500 pessoas (450 negros e 50 brancos, o que é estatisticamente normal).
Ora, nessa situação, a taxa de mortalidade até é igual para os dois grupos (as mortes ocorreram em proporção com a demografia). Quer dizer que não houve racismo? Bem, por um lado, até quer: significa que a catástrofe em si não foi racista (aliás, os fenómenos naturais costumam ser desprovidos de consciência, logo, também de preconceitos). Mas quer dizer que o governo não foi racista? Não. O racismo manifestou-se na decisão de ajudar pouco a cidade (por ser maioritariamente negra), não na decisão de, entre a população atingida, ajudar mais os brancos que os negros. Logo, até é normal que, dentro da população atingida, a proporção de mortes entre as duas etnias seja similar.
Passando do exemplo para a situação real, parece que os mortos de New Orleans eram 59% negros (que representam 67% dos habitantes da cidade), 37% brancos (28%) e 5% "outros" (4%). Aparentemente, em proporção ao total, os brancos até morreram mais, mas, como notei atrás, isso é irrelevante para a questão: o argumento era de que a ajuda não foi tão eficiente como podia porque a maioria das vítimas era negra (e realmente foram 59%) - ninguém disse que as vítimas negras foram pior tratadas que as brancas (apenas que o conjunto das vítimas não bem tratado porque era maioritariamente negro).
Ora, a atitude de descurar o auxílio à cidade (por ser maioritariamente negra) afecta toda a gente atingida (incluindo a minoria branca), logo, as estatísticas de mortalidade entre as diferentes etnias dentro de New Orleans são irrelevantes (só seriam relevantes se se argumentasse que tinha havido mais ajuda aos bairros brancos de NO do que aos bairros negros).
1 comment:
Caro Miguel,
O que dizes é parcialmente certo, ou seja, de facto sendo a maioria negra poderão os brancos ter «levado por tabela», como se costuma dizer».
Agora, o que também ainda ninguém conseguiu demonstrar é que a negligência resultou de razões raciais.
E os números que surgem contrariam a tese do «racismo» no auxilio.
Era esse o meu ponto.
Um abraço,
Rodrigo Adão da Fonseca
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