Já que estou numa de memórias, aproveito para republicar este artigo que escrevi, em Junho de 1994, para "O Quelhas", a revista da Associação de Estudantes do ISEG:
«Geração rasca»
Foi assim que um conhecido jornalista da nossa praça comentou as manifestações do Secundário. Com ele fizeram coro uma legião de "pensadores" e escribas que, secundados pela campanha histérica de certa comunicação social, passaram semanas a fio perorando sobre a "crise de valores", a falta de disciplina, etc. a que estariam submetidos os nossos irmãos mais novos... Já alguns meses atrás tinham vido a lume, num semanário noticias que a Ministra estaria a preparar um projecto-lei com vista a "restabelecer a autoridade no professor na sala de aula" ,noticia essa que vinha acompanhada de relatos de "atrocidades" de que teriam sido vitimas alguns professores...
O que significa isto tudo afinal? Ao autor destas linhas a resposta parece obvia: está se a desenhar um movimento com vista à restauração da escola do pre-25 de Abril (os alunos obedeciam ao professor, os professores ao reitor, os reitores ao governo...). É nessa grelha de leitura que devem ser analisados certos factos recentes, como as afirmações de M.F.L. de que os alunos do Secundário não devem ser ouvidos sobre os sistemas de avaliação, ou a tentativa de o C.D. de uma Escola Secundaria de condicionar a maneira de vestir dos estudantes (tudo isto enquadrado numa vaga inter-nacional de "back to the basics" - que alias já começou a ser importado por alguns dirigentes políticos nacionais). Talvez o governo tenha concluído que, como o GATT vai-nos por a competir com Singapuras, Malasias e Indonésias, temos que começar a adoptar o modelo social da concorrência...
«Mas que temos nós a ver com o Secundário?», perguntam vocês. Só uma coisa : quando a "Ordem" e a "Autoridade" voltarem a reinar nas escolas secundárias, nada nos garante que o próximo alvo não venha a ser o nosso poder (pouco, mas algum) dentro das Faculdades e Universidades...
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