Friday, August 11, 2006

Ainda a respeito de "Tudo o que é mau faz bem"

Quando, ao escrever este post, estive à procura de um texto que explicasse bem o conteúdo da obra (como viram, acabei por optar por um texto em inglês) deparei com este artigo do Blitz. Provavelmente não era essa a intenção do autor do artigo, mas é interessante o monte de preconceitos (sobretudo acerca dos jogos de computador) que transparecem do texto.

Logo a principio escreve "afinal, os vídeojogos de chacina e pancadaria ajudam a desenvolver-nos o cérebro". Ora, o que o Steven Johnson escreve é que os videojogos ajudam-nos a desenvolver o cérebro, sem fazer qualquer referência especial a "chachina e pancadaria". É verdade que ele não faz qualquer distinção entre jogos "violentos" e outros (dizendo explicitamente que o que interessa para a sua tese é as capacidades intelectuais desenvolvidas pelo jogo, não o seu conteúdo), mas o essencial dos exemplos que ele dá até são de jogos "não-violentos" (aliás, no livro até é feita referência explicita aos jogos mais vendidos não serem os jogos de "acção", mas jogos como "Civilizations").

Na mesma linha, mais à frente escreve-se "Recordam-se de quantos botões eram necessários utilizar num jogo de computador, ainda não há tanto tempo assim? Basicamente dois para dar socos e pontapés e quatro para fugir, na direcção de qualquer dos pontos cardeais. Hoje, qualquer criança de dez anos que se preze tem mais de uma dezena de botões e comandos a combinar, se quiser vencer uma «básica» luta de wrestling"; ora, no livro o exemplo que é dado para os jogos "simples" de "antigamente" é o "Pacman", enquanto, se não estou em erro, "Zelda" é o exemplo dado para os jogos modernos em que é preciso mexer em muitos botões. Eu nunca joguei a nenhum desse jogos, mas, pelo que sei, "Pacman" não tinha nada a ver com "socos e pontapés" e "Zelda" também não tem muito a ver com "wrestling".

Porque será que quando se fala em jogos de video/computador se pensa logo em "chachina e pancadaria", "socos e pontapés" e "wrestling", mesmo quado, pelos vistos, os títulos mais representativos nem têm nada a ver com isso?

Ocorrem-me duas explicações: a mais lógica é que as pessoas que não são fãs desse género de jogos só ouvem falar deles qua são referidos pelos "mass media". Ora, de acordo com a regra "good news, no news", os jogos só são falados (fora do circulo de adeptos) quando são polémicos, o que, normalmente está associada a violência (e/ou sexo).

A outra explicação (esta um pouco mais delirante) que me ocorre é que talvez as pessoas que não gostam muito destes jogos, das poucas ocasiões em que jogam (ou jogavam, na sua adolescencia) vão (ou iam) sobretudo para os jogos de "porrada", já que estes são os jogos ideais para quem quer jogar só uns minutos enquanto não arranja coisa melhor para fazer; pelo contrário, jogos de aventuras, estratégia, etc. só têm graça se forem jogados durante horas ou dias (ou mesmo meses), pelo que só os "fãs" é que os jogam. Assim, os "não-fãs" generalizam o seu comportamento para o conjunto dos "utentes" de jogos de computador.

No entanto, diga-se que, a respeito de os jogos mais populares não serem os "violentos", a única informação que eu tenho a esse respeito é mesmo o que Steven Johnson diz: há quase dez anos que eu não compro jogos de computador, e só costumo jogar dois (Seven Kingdoms e Little Big Adventures II), pelo que não sou a pessoa mais indicada para falar do estado actual do mercado de jogos de computador.

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