Tuesday, October 17, 2006

A pobreza nos EUA (II)

Voltando à famosa questão se os "pobres" nos EUA vivem melhor ou pior que os pobres noutros paises, o insuspeito Insurgente publicou uma tabela aonde consta o rendimento médio dos 10% de familias com menores rendimentos, em vários países. O rendimento está medido em percentagem do rendimento mediano dos EUA (corrigido pelo nivel de preços).

Suiça…………55%
Noruega…………50%
Canadá…………45%
Dinamarca…………43%
Bélgica…………43%
França…………43%
Alemanha…………41%
Holanda…………41%
EUA…………39%
Finlandia…………38%
Suécia…………38%
R.U.…………35%
Austrália…………34%

Pelos vistos, dos países da lista, os EUA são daqueles em que os 10% com menor rendimento tem... menor rendimento. Abaixo só temos (dos países da lista, claro) a Finlandia, a Suécia (com valores quase iguais aos EUA), o Reino Unido e a Austrália. O Canadá e os principais países da Europa continental estão, neste aspecto, melhores que os EUA.

Agora, uns pontos curiosos - os paises nórdicos (que costumam ser apresentados como a "alternativa de sucesso" ao modelo anglo-saxónico) também não parecem ser grande coisa: a Dinamarca tem bons resultados (a Noruega petrolifera não conta), mas a Suécia e Finlandia estão um ponto percentual atrás dos EUA (aliás, o tema do post era exactamente argumentar que os pobre escandinavos não vivem melhor que os norte-americanos).

Por outro lado, se - tirando o Canadá - os paises anglo-saxónicos (normalmente considerados como mais "liberais") estão no fim da tabela, no topo está a Suiça (um país que penso também bastante liberal).

Algumas objecções a estas análises (ver comentários ao post do Insurgente):

Por regra, os norte-americanos trabalham mais horas, têm mais segundos empregos, etc (pelas estatísticas da OIT, parece-me que, em média, um norte-americano trabalha mais 7 horas semanais que um sueco), logo, combinando rendimento e tempo livre, talvez os nórdicos estejam melhor (mas não sei se os 10% de norte-americanos com menos rendimento trabalharão mais que os 10% de suecos ou finlandeses com menos rendimento)

Pelo lado oposto, há quem argumente que a segurança social nos EUA recorre muito a transferências não-monetárias (como senhas de alimentação) que, nas estatisticas do rendimento, não são contabilizadas (pelo que os norte-americanos podem estar melhor do que estes números sugerem)

10 comments:

André Azevedo Alves said...

"Pelo lado oposto, há quem argumente que a segurança social nos EUA recorre muito a transferências não-monetárias (como senhas de alimentação) que, nas estatisticas do rendimento, não são contabilizadas (pelo que os norte-americanos podem estar melhor do que estes números sugerem)"

Há quem argumente e é verdade.

Há tentativas de tentar contabilizar isso mas é bastante complexo (afirmo por experiência própria) tirar desses dados conclusões em termos da caracterização dos diferentes casos.

Anonymous said...

essas transferencias são senhas de refeição. há mais algumas?

se forem só as senhas tem pouco peso no final.

Anonymous said...

se bem que uma primeira conclusão se pode tirar, e é importante e faz muita diferença, pelo menos nos 10% mais pobres, os norte americanos ganham menos por hora em relação aos congeneres europeus.

Miguel Madeira said...

Não se pode tirar essa conclusão: sabemos que o norte-americano médio trabalha mais horas que o europeu; e sabemos que os norte-americanos mais pobres ganham o mesmo o menos que os seus congéneres europeus; mas - pelo menos pelas estatisticas que tenho - não sabemos se os norte-americanos mais pobres trabalham mais horas que os europeus mais pobres.

Anonymous said...

pois é, tem de se ter em conta tambem o custo de vida. o custo de vida nesses paises é semelhante?

Miguel Madeira said...

Os valores são "PPP" (paride de poder de compra) - já estão ajustados para o custo de vida.

Miguel Madeira said...

"essas transferencias são senhas de refeição. há mais algumas?"

Uma lista dos programas sociais nos EUA em 1984 (muito desactualizada, mas enfim), com a despesa que implicavam

Programas para toda a gente:

- Segurança social.....179,2
- Cuidados de saúde....61,1
- Subsidio de desemprego....20,7

Programas para os pobres

- Ajuda a idosos e deficientes...8,6
- AFDC......8,1
- Cuidados de saúde........20,2
- senhas de refeição.......17,6
- Habitação................10
- Outros...................2,7

Os valores estão em milhares de milhões de dólares (penso que inclui também os custos administrativos dos programas).

Como eu disse, isto está desactualizado (a AFDC já nem existe) mas talvez sirva para dar uma ideia dos diferentes programas em proporção.

Anonymous said...

a maioria desses encargos tambem se dão nos paises europeus.

Miguel Madeira said...

O relevante para o que está a ser discutido serão as despesas não-monetárias, que essencialmente são a alimentação, a habitação e a saude.

As duas ultimas também há na Europa - há uma diferença na saúde: enquanto o nosso SNS tem hospitais, o Medicaid funciona como um seguro de saúde, i.e. paga (não sei bem em que condições) a conta dos hospitais privados a que os beneficiários vão.

Parece-me que a grande diferença são as senhas de refeição (os "outros" parece-me uma rubrica irrelevante).

Quanto ao valor das senhas de refeição - uma familia elegível de 4 pessoas receberá, por mês, 518 dólares menos 30% do seu rendimento liquido. Parece que em média o valor das senhas é de 86 dólares por pessoa e de 200 dólares por familia (cerca de 160 euros)

http://www.fns.usda.gov/fsp/faqs.htm

Anonymous said...

quem é pobre pode ir a cantinas de instituições, é o que acontece com idosos etc...
essas instituições recebem ajuda do estado.