Wednesday, April 29, 2009

Sobre o "unschooling" (II)


A respeito da "distinção" entre bons e maus alunos (ou entre bons e médios/maus): há uma parte de mim que até acha que a assistência às aulas deveria ser facultativa para toda a gente; mas duvido seriamente que isso funcionasse, e até poderia ser usado para contornar a escolaridade obrigatória (eu sou contra o actual aumento da e.o., mas não contra o conceito em si). Assim, acho que o melhor método até será mesmo (pelo menos, durante a e.o.) só os "bons" alunos estarem dispensados da assistência obrigatória às aulas (ou seja, só estariam autorizados a estudar livremente aqueles que demonstrassem que o conseguiam).

Vantagens adicionais:

- Os professores passariam a ter mais disponibilidade para dar atenção aos piores alunos, a partir do momento em que os melhores passassem a ir pouco às aulas.

- Os alunos passariam a ter um incentivo real para se esforçarem para ter boas notas: ganharem a liberdade de "faltar" às aulas

Possíveis desvantagens:

- Poderia levar a que os professores dessem boas notas aos alunos problemáticos só para se livrarem deles (imagino que talvez se podesse criar algum sistema para se controlar esses casos)

- Há também o argumento (que foi o utilizado para acabar com a experiencia aqui referida) de que os alunos médios/maus beneficiam de ter aulas em conjunto com os bons. É possivel (devido ao efeito de imitação); mas também é possível que aconteça exactamente o oposto: que a comparação com os bons alunos diminua a auto-estima dos médios/maus, fazendo-os ter ainda pior desempenho. Suspeito que os dois efeitos talvez se anulem

8 comments:

Gabriel Silva said...

é uma questão interessante.

Uma coisa sei, por experiencia familiar: os bons alunos (não necessáriamente os que tiram boas notas, mas os com capacidades e interesses muito acima da média)tem tendencia a baixar significativamente as notas e tornarem-se problemáticos por falta de estimulo intelectual.
Compreendo que em turmas de 28 a preocupação do sistema seja com os que não aprendem e não propriamente com quem debater as grandes questões do universo e se está borrifando para as matérias comesinhas do dia-a-dia Mas são miúdos em crescimento como os outros e a falta de desafio e acompanhamento leva-os a tornarem-se agressivos face aos que menos sabem, à consequente exclusão social, ao baixar as notas por desprezo pelas matérias corriqueiras (pois avaliados em função de padrões de normalidade mediana/baixa), enfim, um problema, nada fácil.

Filipe Abrantes said...

O M.Madeira é a favor do ensino obrigatório por princípio? Ok, mas então pode explicar os seus argumentos a que uma criança seja educada (pela mãe por exemplo, ou por um professor contratado) em casa? Acha que não deve haver essa liberdade? Porquê?

Filipe Abrantes said...

Um dos contras ao ensino em casa é que a criança deixa de conviver com outras crianças. Mas há imensas actividades possíveis que as crianças podem ter (futebol, escuteiros, coro, catequese, música, etc) e que iam promover esse convívio. Tem mesmo de haver convívio, mas um convívio forçado não me parece nada boa ideia. Parece-me até que forma cidadãos carneiros, com espírito de subserviência e acríticos.

Filipe Abrantes said...

O "contra" apontado no comentário anterior é uma ideia defendida por defensores do ensino obrigatório e não, como se percebeu, minha. Só quis reforçar isso.

Textículos said...

Não se confunda com homeschooling, essa possibilidade já existe para filhos de desportistas, artistas ou pessoas cuja mobilidade impede o acompanhamento do crescimento dos filhos, lá fora também existe para certos cultos/religiões.

O unschooling é um arrazuado de opinião e argumentação de "filhos" de Piaget, infelizmente sem a sua sabedoria, num discurso cheio de ses, devido, alguns e por causas, que mais não fazem do que levantar questões, que merecem ser bem discutidas até que façam sentido, enformadas como estão, no momento, pouco mais servem do que alguém poder dizer "o meu miúdo é melhor que o teu".

E essa é uma ideia muito forte para defender uma série de barbaridades.

Miguel Madeira said...

"O M.Madeira é a favor do ensino obrigatório por princípio? Ok, mas então pode explicar os seus argumentos a que uma criança seja educada (pela mãe por exemplo, ou por um professor contratado) em casa? "

Bem, a partir do momento em que eu defendo (parcialmente) o direito ao unschooling, dificilmente poderia me opor ao "homeschooling" mesmo que quisesse: uma regra do género "o aluno pode deixar de ir às aulas e estudar por ele; mas deixar de ir às aulas e a mãe ensinar-lhe já não pode" seria impossivel de aplicar.

"Um dos contras ao ensino em casa é que a criança deixa de conviver com outras crianças."

Outro possível contra será o de que torna as crianças muito dependentes dos pais (nota: eu não estou a dizer que torne, nem que não torne; estou apenas a dizer que esse argumento pode ser levantado)

Miguel Madeira said...

re: Texticulos 4:01 PM

Confesso que não percebo bem o que quer dizer. Mas, a respeito de o unschooling servir para poder dizer "o meu miúdo é melhor que o teu", a maior parte dos defensores do unschooling até defende que serve para todas as crianças, e são os seus criticos que dizem "para alguns miudos pode servir, mas não para a maioria" (essa questão até é abordada no textoa que linko no outro post).

Textículos said...

Quando me referi a "o meu miúdo é melhor que o teu", não estava a falar dos defensores ou contendores, estava a falar dos progenitores. Nestas coisas acredito na máxima "ou comem todos ou há moralidade" e tenho para mim que o unschooling serve para todos e de diferentes modos.

Mas já que começámos porque não criar também uma medida para os mais aptos na inteligência emocional, até mesmo voltar a separar os meninos das meninas, para os menos ranhosos, para os asmáticos, isto só para brincar um pouco com a situação, porque o unschooling abarca também diferentes tipos de aprendizagem e de avaliação do desempenho dos alunos.

Não sou avesso ao unschooling, ainda assim acho que deve haver mais discussão sobre o assunto.