Saturday, October 30, 2010

Ouro e o Banco de Portugal (Expresso)

O Expresso noticia a valorização das actuais reservas de cerca de 382,5 toneladas de ouro (cotação de fecho 1359 Usd/onça), mas do que não fala é que Vítor Constâncio até 2006 vendeu cerca de 300 toneladas de ouro a um preço médio que estimo de memória perto 1000 Usd/onça menos do que a actual cotação (ou seja 360 Usd/onça). Voltarei aqui para fornecer a valorização perdida decorrente da venda dessas 300 toneladas a 360 Usd/onça em vez de as continuar a deter agora com valor de mercado de 1360 usd/onça).

Recordo que a "press release" da, creio, última venda deste bloco de 300 toneladas (o preço estaria perto dos 400 Usd/onça) se dizia qualquer coisa como: tirar partido do movimento especulativo no ouro. Viu-se, subiu mais quase 1000 Usd/onça.

Devo dizer que as operações de venda têm sido comuns a todos os Bancos Centrais e é irónico observar que tendo vendido quantidades substanciais de ouro na última década, a cotação do ouro não tem parado de subir. A minha explicação é que, depois dos Bancos Centrais terem chegado a deter cerca de 2/3 de todas a quantidade de ouro disponível no mundo (acima do solo), e tendo passado agora para menos de 1/3, foi precisamente o efeito conjugado da inflação monetária contínua, da expansão de crédito que provoca as bolhas e as crises bancárias, e paradoxalmente o facto de mais ouro estar em termos quantitativos na posse de privados, que facilitou o retomar do seu papel imutável de bem real de troca, cuja distribuição agora se tornou novamente possível pela generalidade da população, havendo já pontos de distribuição de ouro amoedado e em barra via máquinas na via pública.

A prova que os economistas na sua grande maioria não percebem bem o que é moeda é a sua total incompreensão sobre a utilidade do ouro e cuja explicação é na verdade simples: o serviço que o ouro (e outros equivalentes mas comparativamente de menor qualidade, como a prata) providencia é somente a sua quantidade ser o mais fixo e estável (nem decrescendo nem crescendo) que se conhece relativamente a qualquer outra substância ou elemento existente na natureza, é isso que lhe dá o valor como moeda, como bem real que facilita as trocas, e a sua selecção não-racionalizada ao longo dos séculos a tal se deve. Foi preciso os Estados terem a necessidade de recorrer à inflação de papel para financiar os défices em especial provocados pelas Primeira Guerra Mundial e a doutrinas económicas cheia de falácias sobre a utilidade de uma moeda elástica gerida claro por economistas (como se soubessem o que fazem, como se pode ver com a hiper-inflação dos anos 70 e o acentuar das bolhas e crises contínuas) para legislarem o roubo do ouro detido pela população e declarar a proibição do seu uso como moeda. Suponho que a isto se chama, "deixou de funcionar".

O sistema bancário claro, desde os primeiros bancos que arranjou esquemas para conseguir inflacionar o papel moeda e os registos de depósitos que deveriam corresponder a reservas realmente detidas (daí o termo depósito, e o contrato de depósito civil é muito claro), de modo a poder fabricar crédito sem ter que captar poupança monetária prévia e a isso se devem as grandes bolhas e crises bancárias antes do século 20. Foi o complexo poder-político-banqueiros que sempre conspirou contra o ouro e nem que intuitivamente mesmo os economistas de esquerda deveriam perceber que o ouro está do lado das populações e é precisamente a melhor barreira contra a financiarização da economia que tende a concentrar poder financeiro à volta da capacidade de criação de crédito sem poupança monetária anterior, e que beneficia os primeiros receptores de novas quantidades de moeda: bancos e grandes credores, ambos os quais os que mais protegidos são quando as inevitáveis crises económicas e bancárias têm lugar... e ajudados como? sendo os primeiros receptores das injecções de mais moeda e crédito por parte das autoridades monetárias e perante o acordo nervoso do regime de esquerda e direita que tem horror a pensar das consequências: o total descrédito de todo o regime do estado moderno.

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