Thursday, May 29, 2014

Cientistas contra a classificação dos "cigarros electrônicos" como "tabaco"

Top scientists warn WHO not to stub out e-cigarettes (Reuters):

LONDON, May 29 (Reuters) - A group of 53 leading scientists has warned the World Health Organisation not to classify e-cigarettes as tobacco products, arguing that doing so would jeopardise a major opportunity to slash disease and deaths caused by smoking.

The UN agency, which is currently assessing its position on the matter, has previously indicated it would favour applying similar restrictions to all nicotine-containing products.

In an open letter to WHO Director General Margaret Chan, the scientists from Europe, North America, Asia and Australia argued that low-risk products like e-cigarettes were "part of the solution" in the fight against smoking, not part of the problem.

"These products could be among the most significant health innovations of the 21st century - perhaps saving hundreds of millions of lives. The urge to control and suppress them as tobacco products should be resisted," the experts wrote.

Leaked documents from a meeting last November suggest the WHO views e-cigarettes as a "threat" and wants them classified the same way as regular tobacco products under the Framework Convention on Tobacco Control (FCTC). (link.reuters.com/muq69v)

That has set alarm bells ringing among a number of medical experts - and in the booming e-cigarette industry. A total of 178 countries are parties to the international convention and are obliged to implement its measures, with the United States the one notable non-signatory.

A move to classify e-cigarettes alongside regular cigarettes would push countries into taking similar tough measures to restrict demand, including raising taxes, banning advertising, introducing health warnings and curbing use in public places.

Notícia a seguir?

"The president of the breakaway Georgian region of Abkhazia is said to have fled the capital Sukhumi after opposition protesters seized his office." (BBC)

Alexander Ankvab reportedly retreated to his home town Gudauta, 40km (25 miles) away, when talks with the opposition broke down.

Many people in the Russian-backed region are unhappy with the ailing economy and lack of reforms.

But Abkhazian nationalist feeling is also fuelling the unrest. (...)

Opinion among the opposition is said to be divided between those who want Abkhazia to rely less on Russia and those who instead want it to become part of Russia.

Analysis - Unrest in Abkhazia:

However, even this is only a part of the story. The opposition has certainly cited economic conditions as a major grievance, but the chief point of contention is President Alexander Ankvab's more liberal (relatively speaking) policy towards ethnic Georgians in Abkhazia, primarily concentrated in the Gali region. Mr Ankvab has advocated more fully integrating them into Abkhazian society, which includes giving them passports and Abkhazian "citizenship". The opposition, led by Raul Khadzhimba, has painted this as a purely political ploy by Mr Ankvab to expand his electoral base (they accused the late former President, Sergei Bagapsh, of the same) and say these policies could endanger Abkhazia's ethnic Abkhazian identity.

Mr Khadzhimba has also accused the Ankvab government of kowtowing to Moscow. Though there is a political consensus in favour of a security alliance with Russia, Mr Khadzhimba's opposition does not wish to allow Russians to buy Abkhazian property or to see Sukhumi integrate too closely within Russia. It is unclear just how much of a believer Mr Khadzhimba is - he is a former KGB officer and was once seen as Moscow's favoured politician. His political transformation suggests that his ideals are rather pliable, but he also may feel spurned by his former patrons. All we really know is that Mr Khadzhimba truly believes he should be in power. As for Mr Ankvab, his political longevity depends largely on Russia. If they see abandoning him as politically expedient, he will face a much more difficult time regaining power.

O presidente abkhaz estar a ser criticado por ser, pelos vistos, demasiado alinhado com a Rússia e ao mesmo tempo por estar a dar muitos direitos aos georgianos pode confundir um bocado as "narrativas" sobre os conflitos no Cáucaso...

"Estado encaixa 31 milhões com aumento do salário mínimo"

Segundo a Rádio Renascença e o bastonário dos Técnicos Oficiais de Contas:

Com apenas 15 euros a mais por mês no ordenado dos 600 mil trabalhadores que recebem o salário mínimo em Portugal, os cofres dos impostos encaixam mais de 31 milhões de euros por ano, valor que inclui os impostos dos trabalhadores e dos patrões.

"O trabalhador no final de cada mês, por efeito de um aumento de 15 euros, vai ter um aumento de impostos em IRS e Segurança Social de 3,825 euros. Ou seja, dito de outra maneira, o aumento acaba por ser só de 11,2 euros por cada mês", explica à Renascença o bastonário dos Técnicos Oficiais de Contas.

Com este possível aumento no salário mínimo, que será discutido esta quinta-feira em sede de concertação social, vão cair nos cofres do estado dois milhões de euros por ano, em IRS e contribuições para a Segurança Social.

Do lado dos patrões os gastos são mais significativos: quase 30 milhões de euros. Sobem os ordenados, logo sobem os impostos.

"A entidade patronal, no final do ano, vai pagar mais 210 euros de salários aos seus colaboradores. Mais 49,88, que são os 23,75% para a Segurança Social. Mais 10,5 euros que são os 5% do seguro de trabalho. Dá um total de 270,38 por ano, o que, dividido por 14 meses, dá um encargo todos os meses de 19,31 euros [por trabalhador]", refere Domingos Azevedo.

"Do lado das entidades patronais, o Estado vai receber o aumento da Segurança Social no valor de 49,88, o que, a multiplicar por 600 mil [número de pessoas que recebem o salário mínimo em Portugal], dá 29 milhões e 929 mil euros", diz,

Sinceramente, essas contas (nomeadamente pelo lado da entidade patronal) não me parecem fazer grande sentido. Para começar, duvido um pouco dos "5% do seguro do trabalho" - tenho a ideia quie o custo com os seguros custuma andar à volta de 0,6%-0,7% da remuneração, quase dez vezes menos (mas talvez algum comentador que tenha uma empresa possa me esclarecer sobre qual a taxa mais vulgar).

Mas a minha maior objeção até não é essa - é mesmo com o "sobem os ordenados, logo sobem os impostos": as contribuições para a segurança social (que, realmente, podem ser vistos como impostos com outro nome) sobem, mas se sobem os ordenados, em principio os lucros irão descer, logo menos imposto sobre os lucros.

Vamos imaginar uma empresa que pague 17% de IRC - vai pagar mais 210 euros de salários e mais 49,88 euros para a segurança social (vou ignorar o seguro, porque é dinheiro que passa de uma empresa para outra); logo vai ter menos 259,88 euros de lucro, e portanto vai pagar menos 44,17 euros de IRC: ou seja, o Estado (da parte do empregador) vai encaixar, por ano e por trabalhador, 5,71 euros (no total, a multiplicar por 600 mil, irá dar 3 milhões e 426 mil euros, não os tais "29 milhões e 929 mil").

A conta feita pelo tal TOC parece-me estar a assumir uma de duas coisas - ou que as empresas que pagam o SMN dão prejuizo, e assim não pagam IRC; ou que o aumento do SMN vais ser compensado por um aumento dos preços e não por uma redução dos lucros (o que poderá ser o caso para algumas empresas, mas duvido que seja uma norma geral).

Friday, May 23, 2014

Fora do consenso?

José Manuel Fernandes fala da "esquerda que está fora do consenso europeu".

Mas, pensando bem no assunto, será que faz sentido dizer que alguém, ou sobretudo um dado movimento, está fora do "consenso"? Afinal, se há pessoas que discordem desse "consenso", isso não significa que esse "consenso", afinal, não é "consenso"?

No fundo, dizer que as ideias de alguém estão "fora do consenso" equivale a um raciocínio circular do género "as tuas ideias não contam porque estão fora do consenso, e o facto de estares contra o chamado consenso não invalida a existência desse consenso, porque as tuas ideias não contam".

Thursday, May 22, 2014

E o não-golpe passa a golpe

Exército assume poder na Tailândia.

Sugestão para o livro de estilo da comunicação social

Quando a palavra "girls" se refere a alunas do ensino secundário, a tradução mais apropriada é "raparigas" e não "meninas".

Tuesday, May 20, 2014

Tempestade perfeita?

Imagine-se esta série de resultados nas eleições do próximo domingo (cada um destes resultados, individualmente, está perfeitamente dentro do possível):

- Syriza em primeiro lugar na Grécia
- UKIP, Frente Nacional, PVV, Partido do Povo Dinamarquês e Verdadeiros Finlandeses em primeiro lugar na Grã-Bretanha, França, Holanda, Dinamarca e Finlândia
- Sinn Fein e Partido Socialista nos dois primeiros lugares na Irlanda e na Holanda
- Aliança para a Alemanha com mais de 5% dos votos (nas eleições para o PE não há a regra dos 5%, mas há o efeito simbólico)
- NPD alemão elegar um eurodeputado (isso só irá acontecer por causa de uma mudança acidental da lei eleitoral, mas de novo há o efeito simbólico)
- Movimento 5 Estrelas em Itália com mais do que 25,5% (o resultado das últimas legislativas)

Se esta combinação de resultados (uns bons, outros maus, para o meu ponto de vista...) acontecesse (e o facto de cada um deles, individualmente, ser provável, não que dizer que seja provável os onze acontecerem), imagino que as noticias de segunda-feira, dia 26, fossem "Europa em choque" (e talvez, no caso da imprensa on-line, "bolsas em queda" e/ou "juros em alta")

Mas já não havia duas linguas estrangeiras obrigatórias?

O "Ministro da Educação admite segunda língua estrangeira obrigatória nas escolas". Mas no meu tempo, eu tive, do 7º ao 9º ano, duas línguas estrangeiras (inglês e francês).

Talvez o que ele queira dizer seja duas linguas estrangeiras obrigatórias durante mais que os 3 anos em que eram obrigatórias; o talvez seja haver duas linguas estrangeiras especificas obrigatórias (em vez de ser obrigatório ter duas línguas, mas essas línguas serem à escolha); mas esta é daquelas notícias que está escrita de uma maneira que é quase impossível perceber o que querem dizer efetivamente.

Não-golpe militar na Tailândia

Num golpe militar o exército toma o poder, expulsa os anteriores governantes dos seus gabinetes e retira-lhes os títulos (os ministros passam a ex-ministros).

Num não-golpe militar, o exército toma o poder, passa a governar a partir dos gabinetes do Estado Maior e os anteriores governantes continuam a manter o título e a passar os dias nos gabinetes de onde antes governavam.

Antes que alguém diga que o exército tailandês não "tomou o poder", noto que o exército (não o governo, o parlamento ou o rei) proclamou a lei marcial e estabeleceu a censura à comunicação social; haverá maior exercicio de poder do que proclamar a lei marcial?

Friday, May 16, 2014

Inteligência, personalidade e rendimentos

The Effects of Education, Personality, and IQ on Earnings of High-Ability Men [PDF], um estudo de 2011 sobre os efeitos da inteligência, escolaridade, traços psicológicos, etc., sobre o total de rendimentos ao longo da vida dos individuos do chamado "grupo Terman" (um conjunto de pessoas com um QI medido maior que 135 e que foram seguidos entre 1922 e 1991, sendo sujeitos a inquéritos periódicos.

Uma das conclusões do estudo (Tabela 5, página 44):


O que eu acho curioso nesses resultados - é que o rendimento tem uma correlação positiva com a inteligência (medida pelo QI), mas tem também uma correlação positiva com a extroversão e uma correlação negativa (ainda que não significativa) com "openness" (conceito que largamente corresponde a "curiosidade intelectual"); ou seja, o rendimento ao longo da vida será positivamente relacionado com inteligência, mas negativamente relacionado com traços de personalidade (como introversão e curiosidade intelectual) que, pelo menos a nível dos estereótipos populares, até costumam ser associados a inteligência.

Outro aspeto é que, pelo menos no contexto deste estudo, a extroversão parece ter mais efeito sobre o rendimento que a inteligência (ver também isto[PDF]); porque é que isto é digno de nota? Porque há décadas (quase séculos) que há uma enorma disputa intelectual sobre a inteligência: é mais genética ou mais resultado do ambiente? É um único fator ou é uma combinação entre vários fatores? Os testes de QI são ou não eficazes a medir a inteligência? Há diferenças relevantes a nível de inteligência entre populações distintas? Etc., etc. etc. (as polémicas à volta do conceito de inteligência são infindas). Ora, porque é que não há polémicas similares à volta da extroversão, que até parece ser um fator tão ou mais importante para o sucesso pessoal?

Eu tenho uma teoria sobre isso - é que é mais fácil extrapolar do "descritivo" para o "normativo" no caso da inteligência do que da extroversão: a tese de que as desigualdades sociais são justas porque são um resultado de diferenças de inteligência, e essas por sua vez são o resultado de diferenças genéticas tem alguma lógica (embora não tanto como pareça); afinal, é de esperar que pessoas mais inteligentes sejam mais "úteis à sociedade" (nomedamente descobrindo soluções para problemas), e portanto até poderá haver alguma justiça em ganharem mais. Já no caso da extroversão é mais díficil achar uma justiça intrinseca em pessoas extrovertidas ganharem mais (pode-se imaginar razões para em certos trabalhos pessoas extrovertidas serem mais produtivas, mas também se pode imaginar razões para serem menos noutros), e até é muito provável que um estudo indicando uma relação entre extroversão e altos rendimentos seja interpretado, não como justificando essa distribuição de rendimentos, mas, pelo contrário, como indicando que o sucesso depende de "cunhas", "contactos" e "redes de influências" (coisas em que é de supor que os extrovertidos estejam mais à vontade, até porque normalmente conhecem mais gente) e não do "mérito" pessoal.

Thursday, May 15, 2014

Keynesianismo e Estatismo

Há uns tempos, correu pela internet uma discussão sobre se o keynesianismo implica um peso elevado do Estado na economia (sobre isso, ver Russ Roberts, Paul Krugman, Chris Dillow , MarkThoma e António Costa Amaral / Steven Horwitz).

Do ponto de vista formal, não - o keynesianismo apenas implica que os deficits do Estado são bons para estimular a economia, nada dizendo acerca do valor total da despesa pública. Um governo que cobre 10% do PIB em impostos e faça despesas no valor de 15% (um deficit de 5%) está a fazer "estímulo" keynesiano; já um governo que cobre 62% de impostos e faça despesas no valor de 60% (um superavit de 2%), em principio não terá nada de keynesiano.

Ou seja, pelo menos em teoria, podemos ter orçamentos expansionistas com despesa pública reduzida, e orçamentos equilibrados com alta despesa pública (na prática, acho que o segundo caso é mais frequente que o primeiro).

Note-se que esta questão não deve ser confundida com outra, que é se o keynesianismo é a favor dos deficits, ou se é "apenas" a favor de uma combinação de deficits durante as recessões e de superavits durante as expansões - são assuntos diferentes: de novo, podemos ter grande despesa pública com orçamentos permanentemente equilibrados ou superavitários, tal como também poderíamos ter sempre deficit, mas uma despesa pública total relativamente pequena (na verdade, parece-me que o artigo de Horwitz falha um bocado a pontaria, porque apresenta-se como um artigo a demonstrar que o keynesianismo real implicará o "big government", mas para aí 95% do texto é dedicado a argumentar que o keynesianismo implica "big deficits", o que é um assunto diferente).

É verdade que o assunto dos deficits não é totalmente independente do volume da despesa pública - os deficits acumulados implicam mais dívida pública, logo mais juros, logo mais despesa (se um Estado tiver regularmente deficits - em percentagem do PIB - de "d" e o PIB crescer a uma taxa "g", suponho que a dívida publica em percentagem do PIB tenderá a convergir para d*(1+g)/g,). No entanto, pelo menos no mundo desenvolvido, penso que o principal motivo de elevadas despesas públicas são as despesas sociais, não os juros da dívida acumulada, pelo que esse efeito será pouco relevante na prática.

Mas, agora, a questão que Chris Dillow levanta é pertinente - se não há ligação lógica entre o keynesianismo e o "big government", porque é que, na discussão politico-económica do dia-a-dia, os defensores do keynesianismo tendem a ser também os defensores do intervencionismo estatal? Isto é, normalmente quem defende menos impostos, privatizações, desregulamentação, etc. são também os que se opõem às politicas keynesianas de gestão do ciclo económico, e vice-versa.

Já agora, eu diria que, na prática, não é raro encontrar "estatistas anti-keynesianos", que aumentam a despesa pública mas reduzindo os deficits, porque aumentam ainda mais os impostos (p.ex., Margaret Thatcher durante a maior parte do seu mandato); da mesma forma, as redução de impostos de G.W. Bush, feitas, a certa altura, com o argumento de "pôr dinheiro na economia", podem talvez ser vistas como uma forma de "liberalismo keynesiano". Mas, no plano dos princípios (não das politicas concretas) é raro ver alguém defender um "liberalismo keynesiano" (algo como "temos que reduzir os impostos durante as crises para as pessoas terem mais dinheiro para gastar" - embora eu tenha a teoria que a "economia do lado da oferta" mais não foi do que uma capa para em prática o "liberalismo keynesiano"); também não é muito frequente (embora seja mais) ver alguém defender o "estatismo anti-keynesiano" (algo como "para salvar o Estado Social - ou a Segurança Nacional - temos que ter finanças sólidas e equilibradas, sem deficits e de preferência com superavits"; no cenário actual, parece-me que uma versão moderada desse "estatismo anti-keynesiano" é típica dos auto-proclamdos "moderados", que por vezes vêm com conversas do género "ao contrário do que a esquerda quer, temos que atacar a sério o problema do déficit, mas, ao contrário do que a direita quer, sem radicalismos de corte nas despesas, mas também com aumentos de impostos").

[Um aparte - se não há defensores relevantes de uma politica orçamental expansionista com um Estado pequeno, há - ou houve, nalguns países no século XX - efectivamente um movimento político que se notabilizou por simultaneamente defender uma politica monetária expansionista e o Estado pequeno: o Crédito Social, sobretudo no Canadá.

Basicamente, o ponto principal do Partido do Crédito Social canadiano era uma expansão monetária constante, feita pelo método de periodicamente o Estado pagar um "dividendo" a cada cidadão - aqui, uma alegoria explicado a doutrina; fora isso, era um partido largamente liberal na economia e conservador nos costumes, por vezes até com algum anti-semitismo ocasional. Ora, como o Crédito Social nunca chegou a ter influência no governo nacional, e as tentativas dos seus governos locais para criar moedas paralelas foram consideradas ilegais, acabou por desempenhar na prática o papel de partido liberal-conservador, tendo sido durante muito tempo provavelmente o mais liberal dos grandes partidos canadianos; em 1973, o anarco-capitalista Samuel Konkin - pdf - descreveu-o como um "free market, pro-American party with a funny money policy they could not legislate because they had only controlled provincial governments"]

Algumas possíveis explicações para na prática haver uma convergência entre keynesianismo e estatismo:

- muita oposição ao intervencionismo estatal baseia-se na ideia de que os governantes não têm a informação (e talvez nem os incentivos) suficiente para tomar boas decisões acerca da economia; ora, a partir do momento em que se considera que o Estado deve estar no ramo de estabilizar a economia (mesmo que o faça com medidas aparentemente "liberais", como reduzir os impostos durante uma recessão) está-se implicitamente a admitir que o Estado tem capacidade para tomar essas decisões, e logo está-se a abrir a porta para outro género de intervenções

- também muita oposição ao intervencionismo baseia-se na ideia que os mercados conduzem a uma afetação eficiente de recursos; ora o keynesianismo acredita que os mercados podem falhar nessa tarefa, o que o torna uma teoria mais atrativa para "estatistas" do que para liberais

- num mundo (ou pelo menos numa civilização - a ocidental) em que grande parte da intervenção do Estado é promovida com o argumento de "tirar aos ricos para dar aos pobres", há uma afinidade entre o keynesianismo e as politicas redistributivas: por um lado, porque a própria existência de impostos progressivos (ou mesmo proporcionais) e de programas de assistência social é intrinsecamente keynesiano, na medida em que gera automaticamente um aumento do deficit durante as recessões (porque a carga fiscal diminui - já que as pessoas baixam de escalão do IRS - e as despesas sociais aumentam - já que há mais pobres) e uma redução durante as expansões, o que é exatamente a receita keynesiana; além disso, o keynesianismo tem implicito um enviesamento a favor do consumo (pelo menos se a economia estiver em recessão, em "armadilha de liquidez", etc., etc.) - ora, se partirmos do principio que as pessoas com menores rendimentos poupam uma menor proporção do seu rendimento (essa permissa é muito discutivel a nível académico, mas faz parte do chamado "senso comum"), isso quer dizer que as politicas redistributivas aumentam o consumo, levando os defensores dessas políticas a simpatizar com a economia keynesiana

- o modelo keynesiano das crises económicas é muito parecido com o modelo marxista dessas mesmas crises (crises de sobre-produção criadas pela escassez da procura e só possíveis num mundo em que exista moeda): pegue-se no modelo keynesiano, ponha-se os capitalistas a terem uma propensão ao consumo muito menor que os trabalhadores; estipule-se que os salários reais (em vez dos nominais) são rigidos no curto/médio prazo; e introduza-se no longo prazo uma tendência para o progresso tecnológico ser capital-intensivo - e temos o modelo marxista. Logo, as pessoas que têm uma formação de base essencialmente marxista tendem a se identificar com o modelo keynesiano (mesmo que digam que precisa de uns ajustes aqui e ali)

- mesmo que o keynesianismo não implique um Estado "grande" em termos quantitativos (isto é, que consuma uma grande percentagem do PIB), implica um Estado "grande" em termos qualitativos (isto é, um Estado que faça mais do que assegurar a justiça, a polícia e a defesa)

Leituras adicionais (mesmo que não sejam diretamente sobre o assunto, acha que acabam por o ser indiretamente):

- Why Are Libertarians Inflation Hawks?, por Timothy Lee

- Ayn Rand Endorses Big Government, por Stephan Kinsella


- Keynesianism, left & right, por Chris Dillow

Inesperadamente?

Segundo o Económico, a "economia portuguesa contraiu inesperadamente no primeiro trimestre do ano, recuando 0,7% face ao trimestre anterior".

A minha objeção é ao "inesperadamente" - desde que, há uma semana, o INE anunciou que o emprego havia diminuido, que havia razões para pensar que o PIB estaria a descer (não é obrigatório que uma redução do emprego esteja associada a uma redução do PIB - se a produtividade aumentar, podemos ter ao mesmo tempo uma redução do emprego e crescimento económico - mas há uma forte probabilidade de estar).

Wednesday, May 14, 2014

Sugestão de leitura

The Anti-Reactionary FAQ

Pelo menos duas objeções:

a) apesar de tudo, penso que as monarquias autoritárias (ou "tradicionais") tendem a ser melhores que as ditaduras temporárias (veja-se que as poucas que sobrevivem hoje em dia não têm no seu historias os banhos de sangue que muitas ditaduras temporárias cometeram no século XX) - bem, isto não é exatamente uma objeção já que autor não diz o contrário (ele critica é o truque de comparar "monarquias tradicionais" com "ditaturas temporárias + democracias" e dizer que o segundo grupo é pior que o primeiro)

b) o exemplo coreano parece-me um bocado forçado (facilmente se poderia arranjar argumentos - a começar pelas raizes ideológicas da fundação de cada Estado - para identificar o "progressismo" com o Norte e a "reacção" com o Sul em vez de o oposto)

Saturday, May 10, 2014

Ode to "Anarchy"

http://wetheindividuals.org/2014/05/09/ode-to-anarchy/

“Anarcho”-communists and “anarcho”-socialists out there are really pissed that I call myself an anarchist. I understand your concern, I really do. You have an identity to protect. That identity is intimately tied to the collectives you have chosen to let yourself be subsumed into. It’s an identity with a long history and tradition of luminous figures, lavish with tales of past glory. I understand how it must look to you, “anarcho”-capitalists coming in and wantonly appropriating your cherished terminology. It must seem like a real threat to that identity.

I do understand. I just don’t give a shit.

I use the word “anarchist” descriptively. It’s a wonderlfully useful word. Just like “atheist” is one without theism, “anarchist” is one without… archy. Honestly, if the word had never been used before, or even if I had just thought it up on my own, I’d still use it.

You and I, we have different definitions of that “archy” part, but, really, I don’t give a shit about that, either. Words are to facilitate communication, and the word “anarchist” in all its forms does work in that regard. Sure, I have to go on to qualify it, pin it down, tease out the precise meaning I intend, when I use it with people not familiar with the broad landscape of anarchist thought. But that’s fine. It’s more than fine, it’s a plus.

Good words are ones that start conversations, not end them. I’m happy, eager even, to have the conversation that comes after I tell someone “I am an anarchist”. If I used a more technical and precise term – which in fact would have to be a long string of terms unintelligible to most people – it would be no more informative to the uninitiated. In fact, it would be less informative, and the sheer weight of jargon that would need to be digested would not facilitate communication, it would shut it down. “Anarchist” has just enough familiarity, just enough baggage, that my conversational partner becomes curious rather than intimidated.

I certainly don’t use the word because I want to muscle in on your collective, to appropriate for my own purposes the cachet of your history and tradition. In fact, the usual immediate consequence of beginning that conversation is that I have to distance myself from all that. People who know me, even a little bit, and know that history, even a little bit, see a disconnect between the two. That makes them curious. It starts a conversation.

I usually go on to explain that, no, I’m not anti-capitalism, I am enthusiastically in favor of it, but that I am anti-corporatist (another conversation starter all by itself). I have to tell them no, I’m not out there vandalizing things every chance I get in order to destroy society (and I usually mention that most left-anarchists I know aren’t either), but that I have peaceful means in mind. I tell them that no, the people the media calls anarchists are not really anarchists, they’re just run of the mill socialists or communists who want the state on their side, which is hardly an anarchist position. I explain to them how I am not interested in taking over the government, nor really in even destroying it per se, but rather in abandoning it, being free of it, and letting it wither on the vine when enough people decide they’ve had enough of it and see those of us who preceded them living better than they do.

So don’t worry, I’m not trying to hijack your history. I wouldn’t if I could, because it is of no use to me – except maybe as a foil in conversation. I don’t want your traditions, though some bits and pieces of the intellectual work done in it are useful. Most of all, I don’t want to be part of your collective identity. I want nothing to do with it, I want no association with it, aside from a few friends who have at least one foot in it.

You can keep it. You just don’t get to keep the word all to yourselves. It’s a useful word, and I am damn well going to use it. And I’ll use it despite, not because of, its historical baggage. I don’t want to forge a collective identity, even with other anarcho-capitalists. We’re not a club or an identity group, just a bunch of individuals who share some, not all, of the same values and like the idea of cooperating wherever there is overlap. Most of us care about your collective history far, far less than you do. Your little collectives are safe from incursion by us.

So stop your whining… or don’t. Far be it from me to tell you what to do.

Jeff Peterson II

We the Individuals

 

 


Thursday, May 08, 2014

Qual o partido mais parecido consigo?

Um site para vermos qual o partido cujas posições são mais parecidas com as nossas, tanto a nível português como europeu (via Luís Aguiar-Conraria).


Outro site do mesmo género, mas que dá resultados ligeiramente diferentes (e creio ainda não permitir a comparação com todos os países da UE).

Métodos "humanos" de execução

A Lethal Injection of Reality, por Jacob Sullum (Reason):

[L]ethal injection, first adopted by Oklahoma in 1977, is supposed to be "the most humane form" of capital punishment, as New Jersey Gov. Tom Kean called it when he signed a bill reinstating the death penalty in 1982. But in this context, "humane" really means "acceptable." The point is not to make condemned murderers comfortable; the point is to make us comfortable.

But if preventing unnecessary pain is the goal, it is hard to improve on the firing squad or the guillotine. Such old-fashioned methods were abandoned not because they were too painful but because they were too bloody.

As Lockett's execution vividly demonstrated, those two concerns are distinct. One has to do with how a condemned prisoner feels as we kill him; the other has to do with how we feel about killing him. Medicalizing executions helps us avoid the latter question.





Wednesday, May 07, 2014

A opinião socialmente correta sobre os jogos de computador

A opinião dominante sobre os jogos de computador (pelo menos entre as pessoas que não os jogam e não tem idade para começarem a jogá-los) parece ser globalmente negativa, normalmente com os argumentos que:

- as crianças e jovem acabam por ficar muito tempo imersas num "mundo" que não é o mundo real

- não fazem exercicio

- tornam-se socialmente isoladas; mesmo quando estão a jogar on-line com amigos, é um relacionamente diferente do que existiria se estivessem a interagir diretamente com o amigo ao lado

Outra opinião dominante (largamente promovida por pais, professores e o establishmente educacional em geral) é que se deve incentivar nas crianças e jovens o gosto pela leitura.

"PMEs"?

Uma coisa que há muito ando a pensar é se o conceito de PMEs ("pequenas e médias empresas") faz sentido - nomeadamente se há alguma razão para tratar as "pequenas" e as "médias" empresas como se, em conjunto, constituissem uma espécie de agrupamento natural, e as "grandes" empresas um outro agrupamento.

Vamos pensar em possiveis pontos da dimensão de uma empresa em que se possa considerar que se estabelece uma diferença qualitativa.

Empresas em que só o proprietário e os seus familiares lá trabalham, vs empresas que recorrem a assalariados - essa diferença é fundamental, p.ex., para se averiguar do impacto das leis laborais sobre as empresas: para uma empresa que não tenha empregados, em principio o efeito de maior ou menor rigidez laboral é nula. Por vezes há quem diga que leis laborais "rigidas" afetam sobretudo as pequenas empresas; mas se for assim o efeito provavelmente não é monotónico: mesmo que admitamos que as pequenas empresas com empregados tem mais problemas por causa das leis laborais do que as grandes empresas, suponho que as pequenas empresas que nem chegam a ter empregados terão menos problemas com essas leis dos que as grandes e as pequenas com empregados. Outra diferença é que uma empresa sem empregados pode (em certas circunstâncias) nem ter uma sede, e funcionar em casa ou na garagem do empresário, ou ter o equipamento numa carrinha (isto só funciona para uma empresa que não tenha loja aberta ao público); já uma empresa com empregados de certeza necessita de instalações próprias.

Empresas em que os assalariados constituem uma minoria do total dos trabalhadores, vs. empresas que em que são uma maioria - esta é uma variante da anterior (e até se pode argumentar que agora estamos a tratar mais de uma diferença quantitativa do que a tal diferença qualitativa que falei inicialmente) e talvez se possa argumentar que a diferença não está bem na "maioria", mas continua a ter diferença sobre o impacto das leis laborais se a força de trabalho é ou não composta maioritariamente (ou essencialmente) por assalariados ou não.

Empresas em que todos estão sob a supervisão directa do patrão vs. empresas em que há chefes a mandar em chefes - creio que cada empregado trabalhar junto com o patrão gera um relacionamento social dentro da empresa diferente de quando os trabalhadores "de base" têm supervisores, gerentes, diretores, etc., entre eles e o patrão. Isso faz diferença tanto a nivel do que pode ocorrer em conflitos laborais, como em termos de facilidade com que um trabalhador pode, p.ex., apresentar uma sugestão para melhorar o funcionamento da empresa. É também o ponto em que passa a existir problemas "de agência", com o patrão a ficar sempre na dúvida se os empregados estão a trabalhar bem.

Empresas em que o patrão passa a maior parte do tempo em funções técnicas na produção do produto da empresa, vs. empresas em que o patrão passa a maior parte do tempo em funções de gestão - ou seja, um dono de um restaurante que é essencialmente um cozinheiro, em comparação com um dono de um restaurante que tem pessoas contratadas para serem cozinheiros e que passa a maior parte do tempo em reuniões com clientes, bancos ou fornecedores e a gerir as contas. Há tempos, numa das múltiplas discussões que costuma surgir na internet sobre o que é empreendedorismo, alguém expôs a teoria que a diferença entre um "empreendedor" e um "trabalhador por conta própria" é "se a empresa pára quando não está, não és um empreendedor, és um trabalhador por conta própria" (suspeito que era mais ou menos nesta diferença que ele estaria a pensar).

Empresas que operam num só país vs. empresas que operam em vários países - de novo, há aqui uma diferença qualitativa, entre que ter que trabalhar sob um único sistema legal, versus ter que gerir leis diferentes, provavelmente ter que registar filiais nos vários países (e também o lado positivo de por vezes poder fazer o lucro aparecer no país em que dá mais jeito).

Bem, e alguém vê aqui uma linha divisória entre "PMEs" e grandes empresas? Eu não. As duas primeiras parecem-me o que faz a diferença entre uma micro-empresa e pequena/média/grande empresa; a terceira e a quarta parecem-me ser a diferença entre uma pequena e uma média/grande empresas; a quinta não me parece muito relevante, porque tanto médias como grandes empresas podem trabalhar em vários países ou só num.

Ou seja, em vez de se falar em PMEs por um lado e grandes empresas por outro, talvez fizesse mais sentido falar em GMEs por um lado e pequenas empresas por outro.

Tuesday, May 06, 2014

Keynes contra Hayek?

Está na moda, sejam em debates ou em videoclips, a oposição entre Keynes e Hayek (e suponho que ambos concordariam com essa oposição).

Mas será que muito do anti-keynesianismo actual não será ainda mais anti-hayekiano do que o próprio keynesianismo?

Primeiro, uma recapitulação das opiniões dos protagonistas:

a) Keynes achava que as recessões eram provocadas por uma escassez de procura, e que portanto a solução para isso era o Estado aumentar o deficit (aumentando as despesas e/ou reduzindo os impostos); para Keynes, nem sequer era necessário que o Estado fizesse despesa em coisas úteis - mesmo que o dinheiro fosse gasto a abrir a tapar buracos, as pessoas contratadas para fazer esse trabalho iriam depois gastar o ordenado a comprar bens que fossem úteis para eles, e as pessoas a quem eles fizessem compras iriam também comprar coisas úteis noutros sitios, e assim por diante... de forma que mesmo a despesa inútil iria estimular a produção de bens úteis

b) Hayek escreveu muita coisa, sobre vários assuntos; mas penso que o aspecto mais marcante do seu pensamento é a ideia de que é impossivel os decisores centrais conseguirem ter acesso a toda a informação que está dispersa pelos milhões de individuos na sociedade, logo o planeamento centralizado (ou tudo o que se aproximasse disso) estaria condenado ao fracasso

Agora, há pelo menos duas possiveis maneiras de não ser keynesiano - uma é defender que não se deve fazer politica nenhuma para combater as crises económicas e que o mercado resolverá o problema por si; a outra é achar que, já que as crises têm a sua raiz em problemas de oferta e não da procura, então se o Estado intervir deve ser no sentido de solucionar esses problemas do lado da oferta (exemplo clássico: formação profissional / "qualificações").

O primeiro tipo de não-keynesianismo (vamos chamar-lhe "não-keynesianismo liberal") é típico da direita mais "conservative"/"libertarian" norte-americana e de alguns circulos intelectuais na Europa; já o segundo tipo (vamos chamar-lhe "não-keynesianismo intervencionista") é típico tanto da esquerda "responsável e não-dogmática" como da direita "responsável e não-dogmática" (o discurso típico é "não acreditamos nas velhas ideias de gastar dinheiro a torto e a direito para resolver os problemas, mas também não somos nenhuns neo-liberais; achamos que o Estado tem um papel importante, mas em sectores especificos - educação, infra-estruturas, promoção do «empreendedorismo», etc.- necesários para sustentar o crescimento económico a longo prazo").Penso que o "não-keynesianismo intervencionista" é mais frequente na Europa, mas também aparece nos EUA (p.ex., por vezes alguns artigos do David Brooks, que se calhar é mais um "conservador europeu que por acaso é americano" do que um "conservador americano", parecem-me um pouco nessa linha).

Aliás, arrisco-me a dizer que a única variante de "não-keynesianismo" que é politicamente vendável na Europa é a "intervencionista" - basicamente, os eleitores europeus nunca votariam num partido que, perante uma recessão, dissesse "não vamos fazer nada".

Bem, agora vamos ao que é suposto ser o ponto central deste post: é que, a partir do momento que se aceita que o Estado deve fazer alguma coisa para combater as crises, a visão keynesiana acaba por ser também a mais "hayekiana" - a tradicional politica keynesiana de estimular a economia via aumento da procura (nem que seja gastando dinheiro em coisas inúteis, como bunkers contra uma invasão extra-terrestre imaginária) requer muito menos "conhecimento" por parte dos decisores politicos do que as politicas não-keynesianas de estimular a economia resolvendo os supostos problemas do lado da oferta (que normalmente implicam muito maior micro-gestão por parte do governantes, para descobir quais são esses problemas e como resolvê-los), logo acaba por sofrer menos com o problema hayekiano de os planificadores centrais não terem acesso a toda a informação (o não-keynesianismo intervencionista até pode, em termos quantitativos, interver menos - p.ex., no sentido de a despesa pública representar uma menor percentagem do PIB - mas essa intervenção, nos setores em que ocorre, tem o potencial para ser muito mais detalhada e minuciosa).

Um exemplo do que escrevo é a famosa ideia do "Banco de Fomento" - não acho que este governo seja "o mais neo-liberal de sempre" (provavelmente esse terá sido o de Cavaco Silva - se considerarmos que os seus três governos foram na prática um governo prolongado por 10 anos), mas é seguramente o mais anti-keynesiano de sempre; e mesmo as suas políticas não-liberais (como o tal banco) têm essa marca anti-keynesiana: como bons anti-keynesianos, chegaram à conclusão que o problema fundamental que as empresas portuguesas enfrentavam não poderia ser um problema de falta de procura, mas teria que ser um problema do lado da oferta (que outra coisa poderia ser?), neste caso uma dificuldade das empresas em obter crédito (por uma qualquer razão misteriosa, os bancos privados não estariam a conceder empréstimos a projetos de investimento perfeitamente viáveis e com uma excelente relação rentabilidade/risco); logo, a solução para esse problema foi criar mais um banco público (ou qualquer coisa que não é bem um banco, mas será como um banco) para apoiar as empresas.

Monday, May 05, 2014

O massacre de Odessa

Lendo e ouvido muitas notícias sobre o que se passou em Odessa na última sexta-feira, parece que o resumo é "cerca de 40 pessoas não identificadas morreram num fogo que se ateou por combustão espontânea"; porque é que quase nenhuma notícia refere que um grupo de ultranacionalistas ucranianos incendiou um acampamento de manifestantes pró-russos?

É que nem é uma questão de tal ser polémico - penso que os poucos jornais que relataram a versão identificando a facção que ateou o incêndio não receberam qualquer desmentido.

Razão antes do tempo?

Transfusões de sangue jovem podem inverter envelhecimento (Expresso)

Elizabeth Báthory (Wikipedia)

Thomas Piketty

Se percebi bem o que tenho lido sobre o livro de Thomes Piketty, a sua tese central é que a riqueza acumulada pelas principais famílias capitalistas irá ser cada vez maior face ao conjunto da economia (se a taxa de remuneração do capital for maior que a taxa de crescimento da economia).

A minha dúvida é se essa compraração em que de um lado temos um stock (a riqueza dos capitalistas) e do outro um fluxo (o rendimento total da economia) fará sentido.