Tuesday, November 22, 2016

A "classe trabalhadora" norte-americana

What So Many People Don’t Get About the U.S. Working Class, por Joan C. Williams (Harvard Business Review). Um artigo interessante sobre a chamada "working class" norte-americana (como traduzir isto? "Classe trabalhadora"? "Classe operária"? Mesmo esta escolha se calhar não é isenta de implicações), independentemente de se se concordar ou não com o que ela diz (muitos aspetos do texto, desde a autora aparentemente usar "working class" e "white working class" de forma indiferenciada - como se fossem sinónimos - até ao que me parece uma recomendação da tolerância pela violência policial, são - pelo menos para mim - "problemáticos").

Alguns comentários que me ocorrem acerca de algumas passagens do texto:

One little-known element of that gap is that the white working class (WWC) resents professionals but admires the rich. Class migrants (white-collar professionals born to blue-collar families) report that “professional people were generally suspect” and that managers are college kids “who don’t know shit about how to do anything but are full of ideas about how I have to do my job,” (...) For one thing, most blue-collar workers have little direct contact with the rich outside of Lifestyles of the Rich and Famous. But professionals order them around every day. The dream is not to become upper-middle-class, with its different food, family, and friendship patterns; the dream is to live in your own class milieu, where you feel comfortable — just with more money. “The main thing is to be independent and give your own orders and not have to take them from anybody else,” a machine operator told Lamont.

Isto fez-me lembrar um autor (Keith Preston) que eu costumava ler (com opiniões políticas dificilmente classificáveis), que a dada altura dizia que o sonho dele era um movimento que combinasse o populismo à George Wallace com a doutrina económica dos Industrial Workers of the World...
The Democrats’ solution? Last week the New York Times published an article advising men with high-school educations to take pink-collar jobs. Talk about insensitivity. 
Uma coisa que acho que devia ser mais alvo de reflexão é os potenciais efeitos, em termos de degradação moral ou até espiritual, por assim dizer, de uma economia em que a maior parte das pessoas trabalha nos serviços, nomeadamente em serviços de atendimento ao público - não contribuirá para criar uma cultura hiper-valorizadora do bom ajustamento social, do ser "simpático" e "agradável", mesmo que a expensas de outras coisas? Já agora, ver este artigo.
The terminology here can be confusing. When progressives talk about the working class, typically they mean the poor. But the poor, in the bottom 30% of American families, are very different from Americans who are literally in the middle: the middle 50% of families whose median income was $64,000 in 2008. That is the true “middle class,” and they call themselves either “middle class” or “working class.”
Isso parece-me um problema recorrente das discussões sobre a "working class" norte-americana; as definições vão desde os que usam o termo quase como um sinónimo para pobres aos que chamam "working class" a quem não tenha formação universitária (o que incluiria o Bill Gates e a Paris Hilton).
Means-tested programs that help the poor but exclude the middle may keep costs and tax rates lower, but they are a recipe for class conflict.
Isso seria um bom argumento para o Rendimento Básico Incondicional, se não fosse o, na minha opinião, péssimo marketing dos defensores do RBI (que me parece que preferem apresentá-lo como "o programa social que permite viver sem trabalhar" do que como "o programa social que ajuda também os trabalhadores com salários baixos e não apenas os mais pobres").

No comments: