Henrique Raposo d'O Acidental e Nuno Ramos de Almeida do Aspirina B estão entretidissimos a discutir Toni Negri.
Diga-se desde já que nunca li nada de Negri (mas quem quiser pode encontrar alguns textos aqui): o meu unico contacto relevante com a ideologia "autonomista" são alguns posts de "Rick Dangerous" no Spectrum, e uns textos que li aqui e alí (incluindo a critica que Louçã faz a Negri na "Herança Tricolor")
Pelos vistos, HRaposo argumenta que Negri não é marxista. Óbvio que não. Se nem Marx era marxista (pelo menos, ele disse que não era), como é que Negri pode ser marxista? (não percebo é que diferença faz a HR que Negri seja ou não marxista...)
Mas a sério, é curioso que HRaposo escreva "Um conservador não pode continuar a dizer que é conservador a partir do momento em que despreza a ordem orgânica. Um liberal deixa de o ser quando nega o direito natural. Um marxista deixa de ser marxista quando o seu trabalho está inundado por Deleuze ou Foucault". Ou seja, enquanto para o "conservadorismo" e o "liberalismo", temos um "mínimo dos mínimos" definido pela "positiva", como defender a "ordem orgânica" ou o "direito natural" (ainda que alguns liberais discordem), acerca do marxismo HR não dá nenhuma descrição séria do que é preciso para se ser marxista (limita-se a dar uma definição pela negativa: não citar Deleuze ou Foucault...).
Ora, o que é que caracteriza o marxismo?
Será que é tudo o que Marx escreveu? Se assim for, autores usualmente considerados "marxistas" não o seriam- a tese de Lenine de que a "consciencia revolucionária" não surge automaticamente no "proletariado", mas tem que lhe ser levada pelos "intelectuais burgueses" não é marxista; a tese de Trotsky de que só é possível derrubar o "feudalismo" saltando directamente para o socialismo também não é marxista, etc. O próprio Marx contradizeu-se a ele próprio nalgumas coisas ao longo dos anos.
Será que é a tese de que "a luta de classes é o motor da história"? Se assim for, Negri é marxista - creio que os "autonomistas" até valorizam mais a luta de classes no local de trabalho do que os marxistas tipicos.
Será que é a ideia de que é a "infra-estrutura económica" que determina a "super-estrutura politica"? Se assim for, Negri continua a ser marxista - se calhar, até muito mais que os marxistas usuais (incluindo talvez o próprio Marx): normalmente, os marxistas valorizam muito a ideia de, em primeiro lugar, controlar o poder do Estado (ou seja, pretendem controlar primeiro a "super-estrutura politica", para, a partir daí, mudar a "infra-estrutura económica"). Pelo contrário, penso que o "autonomismo" segue muito uma linha de, em vez de atacar directamente o "Estado burguêss", criar "espaços de liberdade" dentro da sociedade (p.ex. casas ocupadas), e ir "cercando" o Estado gradualmente (ou seja, começam a "revolução" pela "infra-estrutura")
Será que é a ideia de que é a própria a dinãmica interna da economia capitalista que a vai levar ao colapso e ao "triunfo do socialismo"? Pessoalmente, eu até acho que essa é a principal caracteristica do marxismo, e que o distingue dos outros "socialismos" (o apresentar-se mais como uma doutrina "positiva" do que "normativa"). Nesse aspecto, sinceramente, não faço ideia se Negri acha ou não que o capitalismo está condenado ao colapso...
Assim, parece-me que o único aspecto em que Negri se afasta do marxismo ortodoxo é no ponto que Nuno Ramos de Almeida refere, de os "autonomistas" acharem que é a luta de classes que explica a evolução tecnológica e não o contrário.
Diga-se desde já que nunca li nada de Negri (mas quem quiser pode encontrar alguns textos aqui): o meu unico contacto relevante com a ideologia "autonomista" são alguns posts de "Rick Dangerous" no Spectrum, e uns textos que li aqui e alí (incluindo a critica que Louçã faz a Negri na "Herança Tricolor")
Pelos vistos, HRaposo argumenta que Negri não é marxista. Óbvio que não. Se nem Marx era marxista (pelo menos, ele disse que não era), como é que Negri pode ser marxista? (não percebo é que diferença faz a HR que Negri seja ou não marxista...)
Mas a sério, é curioso que HRaposo escreva "Um conservador não pode continuar a dizer que é conservador a partir do momento em que despreza a ordem orgânica. Um liberal deixa de o ser quando nega o direito natural. Um marxista deixa de ser marxista quando o seu trabalho está inundado por Deleuze ou Foucault". Ou seja, enquanto para o "conservadorismo" e o "liberalismo", temos um "mínimo dos mínimos" definido pela "positiva", como defender a "ordem orgânica" ou o "direito natural" (ainda que alguns liberais discordem), acerca do marxismo HR não dá nenhuma descrição séria do que é preciso para se ser marxista (limita-se a dar uma definição pela negativa: não citar Deleuze ou Foucault...).
Ora, o que é que caracteriza o marxismo?
Será que é tudo o que Marx escreveu? Se assim for, autores usualmente considerados "marxistas" não o seriam- a tese de Lenine de que a "consciencia revolucionária" não surge automaticamente no "proletariado", mas tem que lhe ser levada pelos "intelectuais burgueses" não é marxista; a tese de Trotsky de que só é possível derrubar o "feudalismo" saltando directamente para o socialismo também não é marxista, etc. O próprio Marx contradizeu-se a ele próprio nalgumas coisas ao longo dos anos.
Será que é a tese de que "a luta de classes é o motor da história"? Se assim for, Negri é marxista - creio que os "autonomistas" até valorizam mais a luta de classes no local de trabalho do que os marxistas tipicos.
Será que é a ideia de que é a "infra-estrutura económica" que determina a "super-estrutura politica"? Se assim for, Negri continua a ser marxista - se calhar, até muito mais que os marxistas usuais (incluindo talvez o próprio Marx): normalmente, os marxistas valorizam muito a ideia de, em primeiro lugar, controlar o poder do Estado (ou seja, pretendem controlar primeiro a "super-estrutura politica", para, a partir daí, mudar a "infra-estrutura económica"). Pelo contrário, penso que o "autonomismo" segue muito uma linha de, em vez de atacar directamente o "Estado burguêss", criar "espaços de liberdade" dentro da sociedade (p.ex. casas ocupadas), e ir "cercando" o Estado gradualmente (ou seja, começam a "revolução" pela "infra-estrutura")
Será que é a ideia de que é a própria a dinãmica interna da economia capitalista que a vai levar ao colapso e ao "triunfo do socialismo"? Pessoalmente, eu até acho que essa é a principal caracteristica do marxismo, e que o distingue dos outros "socialismos" (o apresentar-se mais como uma doutrina "positiva" do que "normativa"). Nesse aspecto, sinceramente, não faço ideia se Negri acha ou não que o capitalismo está condenado ao colapso...
Assim, parece-me que o único aspecto em que Negri se afasta do marxismo ortodoxo é no ponto que Nuno Ramos de Almeida refere, de os "autonomistas" acharem que é a luta de classes que explica a evolução tecnológica e não o contrário.
1 comment:
Concordo com a tua definição de marxismo. Especificaria que o ponto fulcral, segundo Marx, dessa dinâmica interna da economia capitalista é a luta pela mais-valia na qual assenta a luta de classes entre a burguesia e o proletariado. E este ponto é positivo e não normativo, tal como defendes. Marx explicita, na pág.344 do Capital na edição da Penguin, que as posições da burguesia e do proletariado são ambas justas, e que, por isso, a justiça (norma) não permite decisões e como consequência temos a luta de classes como processo de decisão.
Acrescento ainda que é muito importante definir o marxismo, quer para os apoiantes quer para os opositores, e que a teoria cai ou sustenta-se com (e só com) a teoria da mais-valia e suas consequências.
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