A propósito de "Che, o fim de um mito" (também aqui):
Um livro de pedagogia/psicologia publicado nos anos 70, "Dicionário de Psicologia do Adolescente" tinha uma entrada chamada "guevarismo", dedicado exactamente ao fascinio dos jovens (nos anos 70, claro) por "Che" Guevara. Eu não me lembro bem do que lá estava escrito, mas era qualquer coisa assim: "o importante não é tanto a causa porque ele lutou, mas a atitude de lutar por uma causa. Guevara acaba por representar um papel quase comparável ao dos cavaleiros da Idade Média, em oposição ao mundo dos adultos, dominados por um conservadorismo confortável" (isto é uma transcrição tão de memória que acaba por ser mais uma recriação).
Passando dos anos 70 para o presente, temos algo que ouvi de um conhecido (penso que trotskista):
"Por exemplo, os anarquistas estão sempre a dizer mal do Che Guevara, dizem que era um estalinista. Mas ele lutou a sério contra o imperialismo e foi morto por uma bala da CIA. Não é como eles, que vão morrer com uma cirrose."
Ou seja, a admiração por Che Guevara, para muita gente, não é tanto a admiração por uma ideologia específica, mas mais pela atitude de abandonar uma situação confortável (e priviligiada) para lutar por um ideal (e, no fim, morrer por ele). Basta ver que Che ficou muito mais na memória que outros lideres comunistas também famosos na época, como Ho Chi Min - provavelmente pelo seu sacrificio pessoal e, sobretudo, pela sua morte. Aliás, é frequente, em textos apologéticos de Che Guevara, fazer a comparação com D. Quixote (que até era um dos seus livros favoritos), se calhar mais do que com Marx ou Lenine (refira-se que se Quixote não fosse um personagem de ficção do Renascimento, mas um personagem real do Mundo Moderno, talvez fosse um ultra-conservador).
Assim, quando alguém (sobretudo que não seja do PC) anda com o retrato do Che (eu já andei, há muitos anos), mais que apoiar o regime cubano, as torturas em Santa Clara (ou o comunismo em geral), muitas vezes está a expressar uma posição de "não tenhas medo de lutar contra o sistema, mesmo que isso prejudique ou teu conforto (ou carreira, ou emprego...)".
Agora, quando Ribeiro e Castro chama a Guevara "um dos maiores assassinos do séc. XX" está claramente a super-exagerar: realmente ele ordenou muitas execuções, mas não é díficil encontrar gente com muito mais sangue nas mãos que ele (quase todos os antigos ditadores militares latino-americanos, p.ex.).
A respeito da frase acerca da "perfect, cold-blooded, killing machine", recorde-se que ele também disse "Há que endurecer, mas sem perder a ternura".
Finalmente, é curioso que AVL chame a Guevara um "defensor do capitalismo de estado": em certo sentido, até é verdade (o regime que ele ajudou a implantar em Cuba é muito diferente da minha ideia de "socialismo"). Mas os liberais (como os Vargas Llosa) não costumam chamar "capitalismo" ao "socialismo real", muito pelo contrário - costumam pôr no mesmo saco esse "socialismo" e o socialismo gerido pelos próprios trabalhadores.
Um livro de pedagogia/psicologia publicado nos anos 70, "Dicionário de Psicologia do Adolescente" tinha uma entrada chamada "guevarismo", dedicado exactamente ao fascinio dos jovens (nos anos 70, claro) por "Che" Guevara. Eu não me lembro bem do que lá estava escrito, mas era qualquer coisa assim: "o importante não é tanto a causa porque ele lutou, mas a atitude de lutar por uma causa. Guevara acaba por representar um papel quase comparável ao dos cavaleiros da Idade Média, em oposição ao mundo dos adultos, dominados por um conservadorismo confortável" (isto é uma transcrição tão de memória que acaba por ser mais uma recriação).
Passando dos anos 70 para o presente, temos algo que ouvi de um conhecido (penso que trotskista):
"Por exemplo, os anarquistas estão sempre a dizer mal do Che Guevara, dizem que era um estalinista. Mas ele lutou a sério contra o imperialismo e foi morto por uma bala da CIA. Não é como eles, que vão morrer com uma cirrose."
Ou seja, a admiração por Che Guevara, para muita gente, não é tanto a admiração por uma ideologia específica, mas mais pela atitude de abandonar uma situação confortável (e priviligiada) para lutar por um ideal (e, no fim, morrer por ele). Basta ver que Che ficou muito mais na memória que outros lideres comunistas também famosos na época, como Ho Chi Min - provavelmente pelo seu sacrificio pessoal e, sobretudo, pela sua morte. Aliás, é frequente, em textos apologéticos de Che Guevara, fazer a comparação com D. Quixote (que até era um dos seus livros favoritos), se calhar mais do que com Marx ou Lenine (refira-se que se Quixote não fosse um personagem de ficção do Renascimento, mas um personagem real do Mundo Moderno, talvez fosse um ultra-conservador).
Assim, quando alguém (sobretudo que não seja do PC) anda com o retrato do Che (eu já andei, há muitos anos), mais que apoiar o regime cubano, as torturas em Santa Clara (ou o comunismo em geral), muitas vezes está a expressar uma posição de "não tenhas medo de lutar contra o sistema, mesmo que isso prejudique ou teu conforto (ou carreira, ou emprego...)".
Agora, quando Ribeiro e Castro chama a Guevara "um dos maiores assassinos do séc. XX" está claramente a super-exagerar: realmente ele ordenou muitas execuções, mas não é díficil encontrar gente com muito mais sangue nas mãos que ele (quase todos os antigos ditadores militares latino-americanos, p.ex.).
A respeito da frase acerca da "perfect, cold-blooded, killing machine", recorde-se que ele também disse "Há que endurecer, mas sem perder a ternura".
Finalmente, é curioso que AVL chame a Guevara um "defensor do capitalismo de estado": em certo sentido, até é verdade (o regime que ele ajudou a implantar em Cuba é muito diferente da minha ideia de "socialismo"). Mas os liberais (como os Vargas Llosa) não costumam chamar "capitalismo" ao "socialismo real", muito pelo contrário - costumam pôr no mesmo saco esse "socialismo" e o socialismo gerido pelos próprios trabalhadores.
2 comments:
Mas no caso dos fundamentalistas islâmicos, há um detalhe adicional - além do lutarem por uma "má causa", os seus meios de luta também são muito piores do que o dos guerrilheiros esquerdistas dos anos 60.
Pelo menos, eu não vejo que seja intrincecamente mau pegar em armas para lutar contra regimes opressores e repressivos (como eram os de Batista em Cuba, dos militares bolivianos, etc.) - mau foi o que se pôs (ou tentou pôr) no lugar desses regimes.
Quanto a ataques suicidas contra prédios, aviões, explosões em lugares públicos, etc., já são maus por natureza, independentemente do objectivo finakl.
para ser sincero irrita-me malta que tem a mania e usa t shirts, bonés, pins etc do che...
e não falo do facto de ele ter combatido regimes opressores, mas de outras coisas tambem faladas no geração rasca.
não sei se é por ser anarquista, mas nunca gostei de malta a fazer uma especie de culto de personalidade.
aquela boca do trotskista...não é a primeira vez. o meu pai é desses campos e de vez em quando temos discussões animadas sobre as nossas divergencias.
e claro que vem sempre a baila os atentados anarkistas e os principios violentos ditados por bakunin, embora muita gente se esqueça que o anarquismo não é só bakunin e por outro lado, não é algo que fique pelos manuais, pois o anarquismo não é uma ideologia, mas uma metodologia.
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