A respeito do estudo recentemente divulgado que demonstra que Portugal é um dos países em que é maior a diferença entre os ordenados dos trabalhadores "normais" e o dos burocratas empresariais de topo, João Miranda escreve:"Para alem de ser um incentivo ao estudo e ao trabalho...".
Em primeiro lugar, não sei se será um incentivo ao trabalho - como a probabilidade de um não-gestor ser promovido a gestor (e, sobretudo, gestor de topo) é relativamente baixa (devido à própria escassez de cargos de gestão vagos), trabalhar muito a pensar "se trabalhar bastante, posso ir para o Conselho de Administração na próxima remodelação" não é uma atitude muito racional para a maioria dos trabalhadores; além disso, como as qualidades necessárias para ser um bom caixa de supermercado podem não ser as mesmas que para ser um bom gestor de supermercado, também é de esperar que o critério de uma empresa de supermercados para nomear um gestor não seja "quem é o melhor caixa", logo, um alto ordenado para o gestor não será um grande incentivo a ser um bom caixa.
Além do efeito sobre os incentivos, uma grande diferença salarial entre os gestores e os outros empregados pode ter outro efeito psicológico, com consequências claramente negativas: pode gerar nos outros trabalhadores um atitude de "ele que resolva o problema, que é para isso que ganha aquele dinheiro todo" (nomeadamente perante situações não previstas); e, nomeadamente, quando os gestores tomam alguma decisão sem sentido, menor será a tendência dos outros trabalhadores para lhes tentarem explicar que a decisão está errada; ora, quanto mais elevado o nível hierárquico de alguém, menos informação esse alguém tem, logo maior a probabilidade de tomar decisões erradas, pelo que, quanto mais uma organização estiver dependente dos gestores de topo, pior será o seu desempenho. Assim, se efectivamente os altos ordenados dos gestores levarem os outros trabalhadores a terem a tal atitude de "eles que se desenrasquem", terão um efeito negativo sobre o desempenho da organização.
Em primeiro lugar, não sei se será um incentivo ao trabalho - como a probabilidade de um não-gestor ser promovido a gestor (e, sobretudo, gestor de topo) é relativamente baixa (devido à própria escassez de cargos de gestão vagos), trabalhar muito a pensar "se trabalhar bastante, posso ir para o Conselho de Administração na próxima remodelação" não é uma atitude muito racional para a maioria dos trabalhadores; além disso, como as qualidades necessárias para ser um bom caixa de supermercado podem não ser as mesmas que para ser um bom gestor de supermercado, também é de esperar que o critério de uma empresa de supermercados para nomear um gestor não seja "quem é o melhor caixa", logo, um alto ordenado para o gestor não será um grande incentivo a ser um bom caixa.
Além do efeito sobre os incentivos, uma grande diferença salarial entre os gestores e os outros empregados pode ter outro efeito psicológico, com consequências claramente negativas: pode gerar nos outros trabalhadores um atitude de "ele que resolva o problema, que é para isso que ganha aquele dinheiro todo" (nomeadamente perante situações não previstas); e, nomeadamente, quando os gestores tomam alguma decisão sem sentido, menor será a tendência dos outros trabalhadores para lhes tentarem explicar que a decisão está errada; ora, quanto mais elevado o nível hierárquico de alguém, menos informação esse alguém tem, logo maior a probabilidade de tomar decisões erradas, pelo que, quanto mais uma organização estiver dependente dos gestores de topo, pior será o seu desempenho. Assim, se efectivamente os altos ordenados dos gestores levarem os outros trabalhadores a terem a tal atitude de "eles que se desenrasquem", terão um efeito negativo sobre o desempenho da organização.
8 comments:
Teste político:
http://pt.okcupid.com/politics
Excelente contra-argumentação.
Caro Miguel
Completamente de acordo com o post, com conhecimento de causa e comprovação "in situ" e "in loco".
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O que não quer dizer que eu concorde com tectos salariais nas empresas privadas.
Agora na Função Pública e nas Empresas Públicas, os salários deviam estar ligados à produtividade real do gestor, prevendo inclusivé o ressarcimento por erros de gestão.
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Além de não ser um incentivo ao trabalho, a diferença salarial extrema não é um incentivo ao estudo.
Não sei se quem me está a ler já reparou, mas Portugal está hoje a ser vítima de um enoeme brain drain. Não, não são os gestores de topo que se estão a ir embora: são os jovens entre os vinte e muitos e os trinta e poucos anos, altamente qualificados mas extremamente mal pagos e precarizados.
Para quem esteja na minha geração é impressionante olhar para os filhos, os sobrinhos, os filhos e sobrinhos de colegas e amigos - e ver que para aí metade estão em Londres, Barcelona, Madrid, Milão, Buenos Aires, S. Paulo, Auckland, Sidney - onde não lhes perguntam pelo cartão partidário nem pelo nome de família.
Concordo em absoluto com a sua argumentação, e até o Prof. Cavaco Silva consegue discernir isso, contrariando as posições ultra-liberais fundamentalistas do João Miranda, que acha que o mercado tem o condão de resolver todos os problemas económicos. Pois, vê-se!
um director de turma na ESMTG fez uma vez um inquérito a um 10º ano em que, entre outras coisas, perguntava qual a profissão que os alunos gostariam de ter e qual a formação que achavam necessária para a atingir. Era um décimo "A" ou "B", e é claro que os moços queriam todos ser "doutores". Todos excepto um, que queria só acabar o 12º ano. A sua escolha de profissão: "Patrão".
... o que até é muita formação, considerando os "patrões" do algarve ...
a grande diferença salarial só torna os trabalhadores de "base" (já que há de topo) desmotivados, por outro lado, qualquer que seja a decisao de topo quem é que vai "sofrer" com isso? quem vai estar na "primeira linha" dessas decisões?
pois claro...
mas a gestao a martelo é isto mesmo, os melhores gestores, e que ganham mais dinheiro, sao os que reduzem os custos e aumentam o "revenue", ora os salarios dos trabalhadores de base são um optimo sitio por onde começar.
e engane-se quem pensa que as empresas privadas e já agora algumas publicas tem "consciencia social" ou estao "apostadas a melhorar a qualidade de vida das pessoas" , pois ao contrario de uma dita "europa social" (esse mito) não estamos todos no mesmo barco.
e a busca da felicidade, prosperidade e de melhoria de vida para todos, é apenas capricho de alguns.
"you are just another screw in the machine thats screwing you..."
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