Wednesday, January 16, 2008

Sobre a expansão monetária


Admito que essa ideia até pode fazer algum sentido - mesmo há uns dias, conversando com alguém, chegámos à conclusão que baixas taxas de juros no crédito à habitação se calhar beneficiam mais quem vende casas do que quem compra casas (se a oferta de habitação for pouco elástica, o efeito de taxas de juros baixas é essencialmente preços altos e não tanto mensalidades baixas).

No entanto, tenha dúvidas que o argumento empírico de Reisman seja válido, pelo menos no que diz respeito aos anos 90.

Temos aqui o crescimento da massa monetária nos EUA nas últimas décadas (clicar nos gráficos para mais informação):











































Se tomarmos como referência o M2 ou o M3, efectivamente, desde meados dos anos 90 que tem havido uma expansão monetária (e mais rápida que nos anos anteriores); pelo contrario,se nos guiarmos pelo M1, parece-me que não tem havida nenhum crescimento por aí além, tendo até havido, a principio, uma retracção.

Basicamente, o M1 são as notas e moedas em circulação mais os depósitos à ordem; o M2 é o M1 mais os depósitos a prazo; o M3 é o M2 mais uns produtos financeiros menos vulgares.

Ora, o que é controlado directamente pelo banco central é o M1: é o banco central que decide quantas notas e moedas há em circulação; e, fixando as reservas que os bancos devem deter, acaba também por controlar a criação de moeda pelos bancos.

Por exemplo, se o banco central puser 1000 euros em notas em circulação e determinar que os bancos comerciais têm que manter reservas de 5% (ou seja, que podem emprestar 95% dos seus depósitos), teremos um M1 de 20.000 euros (assumindo que as pessoas e empresas mantêm todo o seu dinheiro no banco; se mantivessem 90% do dinheiro no banco e andassem com o resto na carteira ou atrás das enciclopédias da sala, teríamos um M1 de 6.897 euros: 690 euros em circulação mais depósitos à ordem de 6.207 euros - dos quais os bancos manteriam 310 euros em reservas, concedendo empréstimos no valor de 5.897 euros).

Portanto, se é o M1 que o banco central (mais ou menos) controla, e é no M1 que se evidencia o fenómeno tão criticado pela "Escola Económica Austríaca" da concessão de crédito não suportado por poupanças (é no M1 que entra em acção, tanto o papel-moeda, como as reservas bancárias fraccionais) , parece-me que é o M1 que deve ser usado como medida da "expansividade" ou não dos bancos centrais.

E, como se vê, usando o M1 como critério não parece ter havido nenhuma expansão monetária relevante por parte do banco central norte-americano de meados dos anos 90 para a frente.

(amanhã ou depois devo postar mais alguma coisa sobre bancos centrais)

2 comments:

CN said...

Miguel

O M2 subiu para mais do dobro...

Os anos 90 tiveram vàrias sucessivas crises de crédito, e acabando com a bolha tecnológica.

Isso são a prova da expansão monetária.

Pós-bolha os Bancos centrais reduziram agressivamente as taxas o que alimentou a bolha imobiliária.

Alan Greenspan disse no Congresso (ei vi em directo na CNBC) que já não era possível saber bem o que era quantidade de dinheiro e como medi-lo.

Miguel Madeira said...

"O M2 subiu para mais do dobro...

Os anos 90 tiveram vàrias sucessivas crises de crédito, e acabando com a bolha tecnológica.

Isso são a prova da expansão monetária."

Serão. Mas serão provas de expansão monetária promovida pelo banco central?

O banco central pode expandir a moeda de 2 maneiras - ou injectando directamente notas na economia, ou baixando os rácios de reservas que os bancos têm que deter (o que leva a um aumento dos depósitos à ordem). De qualquer forma, qualquer politica do banco central que leve a um aumento do M2 faria-o através do aumento do M1 - como esse aumento não aconteceu, isso quer dizer que não foi o FED o responsável pela expansão monetária dos anos 90.

Pondo a coisa de outra maneira - se tivessemos um sistema de padrão-ouro, o M1 seria fixo. Mas há alguma razão para supor que o M2 ou o M3 o seriam? Acho que não.