Ali em baixo, Carlos Novais apresenta a tese de que a expansão monetária contribui para agudizar as desigualdades sociais e cita George Reisman: "It is not accidental that the two leading periods of credit expansion in history — the 1920s and the period since the mid-1990s — have been characterized by a major increase in economic inequality. Both in the 1920s and in the more recent period, a major cause of the increased economic inequality is that the new and additional funds created in credit expansion show up very soon in the financial markets, where they drive up the prices of securities, above all, common stocks. (...)".
Admito que essa ideia até pode fazer algum sentido - mesmo há uns dias, conversando com alguém, chegámos à conclusão que baixas taxas de juros no crédito à habitação se calhar beneficiam mais quem vende casas do que quem compra casas (se a oferta de habitação for pouco elástica, o efeito de taxas de juros baixas é essencialmente preços altos e não tanto mensalidades baixas).
No entanto, tenha dúvidas que o argumento empírico de Reisman seja válido, pelo menos no que diz respeito aos anos 90.
Temos aqui o crescimento da massa monetária nos EUA nas últimas décadas (clicar nos gráficos para mais informação):
Se tomarmos como referência o M2 ou o M3, efectivamente, desde meados dos anos 90 que tem havido uma expansão monetária (e mais rápida que nos anos anteriores); pelo contrario,se nos guiarmos pelo M1, parece-me que não tem havida nenhum crescimento por aí além, tendo até havido, a principio, uma retracção.
Basicamente, o M1 são as notas e moedas em circulação mais os depósitos à ordem; o M2 é o M1 mais os depósitos a prazo; o M3 é o M2 mais uns produtos financeiros menos vulgares.
Ora, o que é controlado directamente pelo banco central é o M1: é o banco central que decide quantas notas e moedas há em circulação; e, fixando as reservas que os bancos devem deter, acaba também por controlar a criação de moeda pelos bancos.
Por exemplo, se o banco central puser 1000 euros em notas em circulação e determinar que os bancos comerciais têm que manter reservas de 5% (ou seja, que podem emprestar 95% dos seus depósitos), teremos um M1 de 20.000 euros (assumindo que as pessoas e empresas mantêm todo o seu dinheiro no banco; se mantivessem 90% do dinheiro no banco e andassem com o resto na carteira ou atrás das enciclopédias da sala, teríamos um M1 de 6.897 euros: 690 euros em circulação mais depósitos à ordem de 6.207 euros - dos quais os bancos manteriam 310 euros em reservas, concedendo empréstimos no valor de 5.897 euros).
Portanto, se é o M1 que o banco central (mais ou menos) controla, e é no M1 que se evidencia o fenómeno tão criticado pela "Escola Económica Austríaca" da concessão de crédito não suportado por poupanças (é no M1 que entra em acção, tanto o papel-moeda, como as reservas bancárias fraccionais) , parece-me que é o M1 que deve ser usado como medida da "expansividade" ou não dos bancos centrais.
E, como se vê, usando o M1 como critério não parece ter havido nenhuma expansão monetária relevante por parte do banco central norte-americano de meados dos anos 90 para a frente.
(amanhã ou depois devo postar mais alguma coisa sobre bancos centrais)
2 comments:
Miguel
O M2 subiu para mais do dobro...
Os anos 90 tiveram vàrias sucessivas crises de crédito, e acabando com a bolha tecnológica.
Isso são a prova da expansão monetária.
Pós-bolha os Bancos centrais reduziram agressivamente as taxas o que alimentou a bolha imobiliária.
Alan Greenspan disse no Congresso (ei vi em directo na CNBC) que já não era possível saber bem o que era quantidade de dinheiro e como medi-lo.
"O M2 subiu para mais do dobro...
Os anos 90 tiveram vàrias sucessivas crises de crédito, e acabando com a bolha tecnológica.
Isso são a prova da expansão monetária."
Serão. Mas serão provas de expansão monetária promovida pelo banco central?
O banco central pode expandir a moeda de 2 maneiras - ou injectando directamente notas na economia, ou baixando os rácios de reservas que os bancos têm que deter (o que leva a um aumento dos depósitos à ordem). De qualquer forma, qualquer politica do banco central que leve a um aumento do M2 faria-o através do aumento do M1 - como esse aumento não aconteceu, isso quer dizer que não foi o FED o responsável pela expansão monetária dos anos 90.
Pondo a coisa de outra maneira - se tivessemos um sistema de padrão-ouro, o M1 seria fixo. Mas há alguma razão para supor que o M2 ou o M3 o seriam? Acho que não.
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