Friday, February 01, 2008

Contrafactual (II)

É verdade, o que escrevo aqui é puramente imaginário (ou, pelo contrário, será sintoma de fraca imaginação?), tal como é dizer que "[t]udo poderia ter sido evitado, naturalmente evitado, se D. Carlos não tivesse morrido naquela data" - e o meu cenário tem a vantagem de não ter que explicar porque "[u]m rei dificilmente teria permitido a ascensão pessoal de um homem como Salazar" (afinal, Vitor Manuel III de Itália ou Jorge II da Grécia permitiram a ascensão de Mussolini ou de Metaxas).

12 comments:

Anonymous said...

Não esquecer as tendências fascizantes do Principe de Gales e da simpatia de muitos aristocratas ingleses por uma solução amistosa para o conflito com Hitler.

JLP said...

"afinal, Vitor Manuel III de Itália ou Jorge II da Grécia permitiram a ascensão de Mussolini ou de Metaxas"

O problema da Grécia e da Itália, antes até de se falar em formas de governo, é o facto de a sua própria existência como algo parecido com um "país" ser quando muito uma piada...

Anonymous said...

Grande verdade jlp. Eu já vivi em Itália e sei que não se consegue imaginar maior ódio do que um italiano do norte por um do sul. São mesmo "raças" diferentes.

JLP said...

"Eu já vivi em Itália e sei que não se consegue imaginar maior ódio do que um italiano do norte por um do sul."

E dos milaneses pelos venezianos, ou pelos toscanos, ou os romanos...

A questão é que a Itália, como realidade histórica, pura e simplesmente nunca existiu. Nem linguisticamente, nem culturalmente, nem em termos de forma de governo ou de identidade como povo.

É uma realidade puramente artificial que se estabeleceu a uma determinada altura, por contraponto à realidade anterior de cenários políticos onde coabitavam desde cidades-estado a um reino feudal. Que nunca dependeu, como por exemplo a Espanha, de um Rei como elemento aglutinador e garante de um certo espírito de nação.

Por isso é que a Itália continua a ser vista como a comédia política que verdadeiramente é. Basta seguir as sessões dignificantes que vão aparecendo do seu parlamento.

Miguel Madeira said...

"Não esquecer as tendências fascizantes do Principe de Gales e da simpatia de muitos aristocratas ingleses por uma solução amistosa para o conflito com Hitler."

Penso que o ponto do A.A.Amaral era mais a capacidade de um rei para travar ditadores autócnes, não tanto estrangeiros

Miguel Madeira said...

"O problema da Grécia e da Itália, antes até de se falar em formas de governo, é o facto de a sua própria existência como algo parecido com um "país" ser quando muito uma piada..."

No caso da familia real grega, se calhar o próprio adjectivo "grega" é uma piada, o que também deveria diminuir o seu ascendente sobre os políticos e militares locais.

Miguel Madeira said...

"Eu já vivi em Itália e sei que não se consegue imaginar maior ódio do que um italiano do norte por um do sul."

Realmente, eu fui uma vez a um restaurante italiano em Portimão e em pouco tempo o dono (nortista) já estava a dizer que o pior italiano da história tinha sido o Garibaldi, por ter unificado o país.

Mentat said...

Se a memória não me falha Mussolini foi eleito, não foi escolhido por um grupo de militares para "salvar" o País.
Por isso o seu exemplo não colhe e é lógico supor que D.Carlos não escolheria Salazar para 1º Ministro, nem que este ganhasse quaisquer eleições.
.

Mentat said...

Eu trabalho muito com "italianos" da zona de Veneza e constactei isso mesmo - um profundo ódio à Itália e aos outros povos da Peninsula.
Não há nada que estes Venezianos gostem na Itália.
Aliás alguns gostam mais de Portugal...
Uma frase que repetem muito é que a Républica de Veneza durou 700 anos e a Itália pouco mais de 100 anos tem.

Anonymous said...

Já que estamos nesta onda, posso referir, em contraste, a Suiça:
com uma bem maior diversidade (a todos os níveis: linguísticos, religiosos, culturais (montanheses tradicionalistas vs urbanos financeiros), etc), tem 26 cantões e não há quaisquer vontades de separação, nem ressentimentos (no mínimo, há o ressentimento "formiga/cigarra" dos alemanicos pelos francófonos igual ao dos flamengos pelos valões, mas ninguém quer uma secessão).

Já a Itália, como já foi dito, é tudo o contrário. Mesmo com uma mesma língua e religião, não se entendem.

Miguel Madeira said...

Nas últimas eleições que houve antes de Mussolini subir ao poder, os fascistas elegeram 35 deputados em 535 (quase o mesmo que a CDU em Portugal, que tem 14 em 230).

Mussolini subiu ao poder fazendo os seus partidários marchar sobre Roma - nessa altura, o governo e o parlamento tentaram proclamar a lei marcial, mas o rei não deixou; ou seja, foi o rei (mais por omissão do que por acção, é certo) que abriu as portas a Mussolini.

Se Portugal fosse uma monarquia nos anos 20/30, talvez tivéssemos tido um ditador mais "activo" que Salazar (ou uma "ditadura" do rei, à maneira da Bulgária ou da Roménia), mas duvido que isso mude muito os termos da questão

james stuart said...

Caro Madeira... por acaso não colocou a hipótese de que no momento que Salazar ascendeu ao poder, seria eventualmente bastante provável que D. Carlos I não existisse por razões naturais (idade) se não tivesse falecido em 1908?
Recordo-lhe que a morte trágica do Rei D. Carlos I não significou o fim da monarquia. Aconteceu mais tarde com D. Manuel e aconteceria igual se o seu pai fosse vivo... ou seja a monarquia provavelmente não existiria de qualquer modo em 1926.