Muito já foi escrito sobre a questão das mulheres-a-dias da classe média. Mas vou também dizer alguma coisa:
Eu considero-me classe média e não tenho mulher-a-dias; os meus pais serão classe média (para alguns) ou alta (para outros) e também não têm mulher-a-dias; as minhas irmãs (eu considero uma delas "classe média") têm ambas mulher-a-dias; penso que nenhuma das pessoas que trabalham no meu gabinete tem mulher-a-dias (no entanto, em salas próximas há pessoas com rendimentos similares com mulher-a-dias).
Agora, a questão que Paulo Pedroso levanta - "porque não hão-de as mulheres-a-dias fazer parte da classe média, com as mesmas expectativas e o mesmo modo de vida dos seus patrões? Se eu compro um serviço que consigo pagar (as tais horas) em que é que o facto de quem mo presta fazer ao fim do mês um salário próximo do meu (que não sou eu que pago) me afecta?" Em abstracto, poderíamos imaginar esse cenário, mas na prática duvido que se verifique - imaginemos que o Joaquim contrata a Carolina de Vasconcellos e Souza para ir lá a casa 3 horas por semana e paga-lhe 20 euros. O que é que isso significa:
1 - Que para o Joaquim a trabalheira de limpar a casa representa um incómodo maior do que o incomodo de gastar 20 euros (se assim não o fosse preferiria fazer ele próprio o trabalho)
2 - Que para a Carolina de Vasconcellos e Souza o beneficio de ganhar 20 euros é maior do que o incómodo de ir limpar a casa do Joaquim (caso contrário, não aceitaria o trabalho)
Ora, porque será que o Joaquim valoriza mais o "não limpar a casa" do que os 20 euros, mas a Carolina valoriza mais os 20 euros do que o "não limpar casas"? Poderá haver várias explicações, mas a mais provável é que a Carolina tenha menos dinheiro que o Joaquim, e por isso valorize mais o dinheiro; outra possivel explicação é que, fazendo outra coisa nessas 3 horas, o Joaquim ganhe mais do que os 20 euros que gasta, o que implica que a remuneração horária do Joaquim seja maior do que a da Carolina. De qualquer maneira, as explicações mais prováveis apontam que, se o Joaquim contrata a Carolina como mulher a dias, é sinal que ganha mais e/ou tem mais dinheiro que a Carolina.
A Fernanda Câncio comenta que, para algumas pessoas, "o trabalho doméstico é degradante se for pago mas digno se for feito de graça"; bem, isso é a velha questão da "alienação do trabalho": é diferente um trabalho que é a expressão da nossa sensibilidade estética (como é em parte limpar/arrumar a nossa casa) dum trabalho que é pôr em prática as ideias dos outros (como é o caso de limpar/arrumar casas alheias); e também é diferente limpar/arrumar a casa umas horitas por dia ou por semana de passar uma vida a arrumar casas, 8 horas por dia, 5 dias por semana.
A Fernanda Câncio comenta que, para algumas pessoas, "o trabalho doméstico é degradante se for pago mas digno se for feito de graça"; bem, isso é a velha questão da "alienação do trabalho": é diferente um trabalho que é a expressão da nossa sensibilidade estética (como é em parte limpar/arrumar a nossa casa) dum trabalho que é pôr em prática as ideias dos outros (como é o caso de limpar/arrumar casas alheias); e também é diferente limpar/arrumar a casa umas horitas por dia ou por semana de passar uma vida a arrumar casas, 8 horas por dia, 5 dias por semana.
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