Thursday, February 06, 2014

Um inimigo da cultura

Este - fartou-se de vender obras de arte (Mirós, ainda por cima) durante a sua vida.

1 comment:

João Vasco said...

Sobre este assunto parece-me que quem acertou em cheio foi o Daniel Oliveira:

«Diz-me quem percebe da poda que 35 milhões por 85 obras de Miró é ridículo, tendo em conta os valores que os seus trabalhos costumam atingir. Na realidade, está bastante abaixo dos 150 milhões anunciados, em 2008, por Miguel Cadilhe, quando este dirigia o BPN. Ou dos 81 milhões declarados, em 2007, para efeitos de seguro. E a razão para esta diferença pode estar na venda de tantas obras duma só vez, o que contribuirá para a desvalorização, garantem alguns especialistas. É um completo absurdo uma venda por atacado, garantem-me.»

http://expresso.sapo.pt/nao-se-vendam-os-quadros-de-miro-baratos=f854228

Diz mais:

«Há, a propósito do leilão cancelado da coleção de 85 obras de Miró, três debates diferentes: o jurídico, o político e o financeiro.

O jurídico parece esclarecido: apesar do Tribunal Administrativo ter recusado a providência cautelar do Ministério Público para parar a venda, confirmou que os procedimentos impostos pela Lei de Bases do Património Cultural não tinham sido cumpridos e que a "expedição das obras é manifestamente ilegal". As obras viajaram ilegalmente para Londres, onde estão expostas, sem terem a autorização da Direcção-Geral do Património Cultural para saírem de Portugal. Uma autorização que, é bom lembrar, não é um mero procedimento burocrático. Defende o país do saque.»


Neste próximo ponto creio que estamos todos de acordo:

«Agora a questão política. Neste caso, política cultural. A coleção de Miró não ia ser incinerada ou destruída. Ia ser vendida, coisa que acontece regularmente a obras de arte. Não haveria, na minha opinião, uma perda para a cultura. Quanto a Portugal, perderia as obras que faziam parte do espólio de um banco em troca de dinheiro. E é costume nada vergonhoso estarem entre as coisas que se vendem obras de arte. Como sabem os galeristas.

Estes quadros são, para o Estado português, um ativo. Foram comprados ao colecionador japonês Kazumasa Katsuta. E estão tão bem aqui como em qualquer outro lugar. Ao contrário dos quadros que julgo que o BPN ainda tem de Vieira da Silva e Júlio Pomar, não há entre o autor ou estas obras e Portugal nenhuma relação especial. Nem especial, nem outra, para dizer a verdade. Não é património nacional. As obras foram compradas por um banco, como investimento, que foi nacionalizado e calhou que o Estado ficasse com elas. Com elas pode, sem ferir nenhum princípio ético, político ou legal, fazer uma de duas coisas: vender ou expor. Num caso o dinheiro é recebido já, noutro o investimento é rentabilizado. Num caso as obras são usadas para ajudar a pagar a enorme dívida do BPN, libertando dinheiro para outras coisas, como o apoio às artes e aos museus - muitos duvidam que o dinheiro tivesse esse destino, mas esse é um outro debate. Noutro, pensa-se mais a médio e longo prazo.

Não havendo, na minha opinião, nenhuma questão de princípio que impedisse esta venda, resta, para além da questão jurídica (muito relevante), a questão financeira.»