Wednesday, January 07, 2015

Extremistas e moderados

http://www.washingtonpost.com/blogs/monkey-cage/wp/2014/01/22/the-real-extremists-are-american-voters-not-politicians/ The real extremists are American voters, not politicians, por David Broockman(Monkey Cage):

According to a common line of thinking, campaign donors and primary voters are pulling politics to the extremes. Most Americans, the story goes, would prefer their legislators to chart a moderate course.

In a working paper, I question this view. Using a survey designed to measure support for extreme policies, I find that the characterization of the public as largely centrist rests on shaky ground. On many issues, much of the public appears to support more extreme policies than legislators do. And while many argue that today’s engaged activists support more extreme policies than the broader public, my findings suggest the opposite: The disengaged and infrequent voters who allegedly constitute the moderate middle are actually more likely to endorse extreme policies than politically active voters.

Why might we have missed much extremism in the public generally and among the less engaged? The answer is subtle, but has important implications for how we should think about the the public’s attitudes and politicians’ positions. And it might be best explained by pretending you have a crazy uncle.

Suppose your uncle believes that the United States should nationalize the health-care system (a very liberal view) and that gay people should be jailed (a very conservative view). And suppose your uncle is represented in Congress by a moderate Republican who supports civil unions (but opposes gay marriage) and who supports helping the poor purchase health insurance (but opposes Obamacare), two positions just right of center.

Your uncle’s views can’t really be described in ideological terms like “center left” or “very conservative.” He has some mix of very liberal and very conservative views, many of them extreme. But if we try to compare your uncle’s views to his congressperson’s positions in abstract, ideological terms, as academics and journalists often do, some plain facts about your uncle and his legislator both become obscured. Since your uncle supports some liberal policies and some conservative policies, we’d call him a “moderate on average.” However, his congressperson’s conservative votes on both Obamacare and gay marriage mean we might call the legislator conservative. We thus might condemn your uncle’s congressperson for being a conservative extremist while celebrating your uncle’s moderation. However, it’s quite clear that your uncle’s views tend to be further outside the mainstream, just not consistently in one direction.

3 comments:

João Vasco said...

A minha experiência é exactamente essa: pessoas menos politizadas tendem a ter perspectivas mais extremas, mas não necessariamente num mesmo sentido, e muitas vezes até inconsistentes. Muitas vezes não são muito reflectidas, e até podem - sobre o mesmo assunto - variar de dia para dia.

Mas quando assim é, as pessoas também têm uma consciência não assumida de como estas opiniões são pouco reflectidas, e não procuram que o seu sentido de voto corresponda a uma maior concordância com elas. Ao invés procuram votar tendo em conta critérios de confiança na competência e honestidade do candidato (geralmente um que tenha hipóteses de ganhar), sem dar tanta importância às suas convicções ideológicas.

Assim, o típico eleitor PS/PSD está numas coisas à esquerda do BE/CDU, e noutras em linha com o PNR (lembro-me de um amigo meu, que geralmente vota à esquerda, que uma vez defendeu que se devia ilegalizar as greves, mas no dia seguinte podia facilmente defender que se nacionalizassem as fábricas de contraceptivos para que estes fossem mais baratos).

Miguel Madeira said...

"amigo meu, que geralmente vota à esquerda, que uma vez defendeu que se devia ilegalizar as greves, mas no dia seguinte podia facilmente defender que se nacionalizassem as fábricas de contraceptivos para que estes fossem mais baratos"

Essa combinação (ilegalização das greves e nacionalização de pelo menos setores importantes da economia), efetivamente aconteceu em grande número de países no século passado (tanto sob o comunismo como sob o nacionalismo revolucionário terceiro-mundista), mas ninguém a costuma defender antes de chegar ao poder.

Mas a respeito da "inconsistência" - será realmente "inconsistência"?

Afinal, muitas coisas que compõem os tipicos "pacotes ideológicos" da "esquerda" e da "direita" não têm uma ligação lógica tão grande como tudo isso (afinal, porque é que a combinação "ilegalização das greves + nacionalizações + contracetivos baratos" há de ser a inconsistente e a "direito à greves + nacionalizações + contracetivos baratos" a consistente e não o contrário?), logo até é de esperar que alguém que desenvolva as suas opiniões políticas por si mesmo em vez de seguir "mestres" numas coisas se identifique mais com um lado e noutras com outro.

Um caso que eu conheço, que não sendo exatamente a situação descrita, também tem uma aparente inconsistência:

- uma rapariga com o 12º ano, que oscila entre o desemprego e o emprego no turismo (socialmente, ficaria algures entre as classes baixa e média-baixa), simpatizante de um partido de extrema-esquerda (mas suspeito que sem grande cultura política), entusiasta dos direitos dos animais, anti-imigração e anti-ciganos, e que acha que em vez de testes com animais, deveriam ser feitos testes com pedófilos.

Não sendo o exemplo de pessoa pouco politizada (já que ela até é politicamente ativa) com ideias "inconsistentes", poderá ser um exemplo de uma pessoa não pertencente à "elite cultural" com uma combinação heterodoxa de ideias (nem sequer é o exemplo que costuma aparecer na literatura do eleitor de classe trabalhadora progressista na economia e conservador nas questões sociais, já que a sua combinação de radicalismo de esquerda e de direita verifica-se dentro das questões sociais)

João Vasco said...

Miguel Madeira,

Eu não disse - e tive cuidado em não dizer - que políticas extremas mas não necessariamente num mesmo sentido são inconsistentes.
Eu apenas disse que muitas vezes isso acontece. E creio que acontece não por serem "diferentes da norma", mas sim por serem "pouco reflectidas".

Opiniões muito reflectidas mas diferentes da norma (e portanto possivelmente extremas em ambos os sentidos) já têm uma probabilidade muito maior de serem consistentes.

Aliás, o exemplo que deste da tua amiga é o de alguém bastante politizado. Mas se falares com quem não é politizado é possível que a pessoa esteja a pensar pela primeira vez nesse assunto em causa, e a opinião que te dá sobre ele não tenha ligação com outras opiniões a avulso ao sabor do momento.
Muitas vezes, em vez da tal "independência intelectual" a que te referes, podes ter um recortado de papagueares dos comentadores do momento. A opinião sobre a privatização da TAP pode depender se ouviu mais recentemente o Marcelo Rebelo de Sousa ou o Daniel Oliveira a falar sobre o assunto.