Ainda a respeito da questão tender a ser (ou não) a favor da intervenção do Estado, como afirma João Miranda, acho que o pensamento de esquerda não tem nada a ver com a defesa da intervenção do Estado.
Sim, 99,5% da esquerda é a favor de "o Estado tirar dos ricos para dar aos pobres", mas o que a esquerda gosta nisso é do sintagma verbal* ("tirar dos ricos para dar aos pobres"), não do sintagma nominal* ("o Estado"): quanto se trata de intervenções estatais para beneficiar os "ricos", a esquerda (pelo menos, quando as reconhece como tal) costuma ser contra, talvez ainda mais agressivamente do que contra o "mercado livre" - veja-se a popularidade que o livro The Conservative Nanny State tem entre a esquerda norte-americana; mesmo a intervenção do Estado para defender os direitos de propriedade existentes, sem redistribuição em nenhum sentido (i.e., a função "clássica" do Estado), não é muito bem vista pela esquerda.
Por outro lado (ou pelo mesmo), a esquerda muitas vezes também simpatiza quando são "privados" a "tirar dos ricos para dar aos pobres" (ou a "tirar dos ricos dando alguma coisa aos pobres") - mesmo que não advoguem esses métodos, não é raro encontrar-se à esquerda uma certa admiração por figuras que tenham fama de fazer isso, como Pholaan Devi, Ned Kelley, etc. (e provavelmente seria o mesmo com Salvatore Giuliano, se este não fosse abertamente anti-comunista).
Aliás, até acho que, em abstracto, a direita até tem muito mais obsessão pela "autoridade do Estado" do que a esquerda.
*não deve ser esse o nome na nova gramática
1 comment:
A intervenção do Estado, tanto para a esquerda como para a direita, é um instrumento, um meio ao serviço de um fim. Não é algo que esteja inscrito na genética de uma ou de outra. Esquerda e direita defendem ou opõem-se à intervenção do Estado consoante esta realize ou não as suas concepções e/ou interesses (esses sim, opostos).
No limite, ou somos anarquistas puros (e ingénuos...) e nos opomos por princípio ao Estado, ou então tendemos todos, à esquerda como à direita, para a intervenção. Porque basta o Estado existir para intervir.
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