Friday, June 23, 2006

O iPod, a China, etc.

O Arrastão e o Blasfêmias estão em polêmica por causa das condições de trabalho na China.

A linha da argumentação é conhecida: no Arrastão fala-se da exploração a que as multinacionais submetem os trabalhadores na China; no Blasfêmias argumenta-se que, sem essas multinacionais, os chineses estariam muito pior.

Provavelmente, têm ambos razão. Mas vamos ver outra questão? Imagine-se um boicote nos paises desenvolvidos às empresas que não respeitam um determinado padrão minimo de direitos laborais (como aconteceu, p.ex., no caso da Nike). Isso será bom ou mau para os trabalhadores dos paises pobres? Pode ser bom ou mau, já que pode ter três efeitos : pode levar a empresa a fechar as suas fábricas lá (efeito mau); pode levá-la a aumentar os direitos laborais (efeito bom); ou pode, pura e somplesmente, não ter efeito nenhum e ninguêm ligar a esses boicotes.

O diferencial de ordenados entre abrir uma fábrica nesses paises ou no "Primeiro Mundo" é tal, que mesmo aumentando os direitos dos trabalhadores, provavelmente continuará a ser rentável manter lá as fábricas (mas pode haver excepções). Há uma situação em que eu não tenho dúvidas que os boicotes são uma estratégia legítima - quando são feitos em ligação com activistas sindicais locais (como acontecia no caso da Nike): afinal, se as próprias pessoas que trabalham nessas empresas apoiam os boicotes, isso quer dizer que elas próprias acham que a possibilidade de terem melhores condições de trabalho (se as coisas correrem bem) compensa o risco de a empresa se ir embora (se as coisas correrem mal).

No caso da China, é verdade, não parece ser esse o caso, já que penso que não há lá nada comparável a sindicatos independentes, mesmo que clandestinos (como havia, p.ex., na Indónesia de Suharto), logo não podemos ter uma ideia (mesmo que aproximada) se os trabalhadores chineses são contra ou a favor desse gênero de boicotes (ou seja, a decisão de alguêm deixar ou não de comprar um iPod por causa da situação dos trabalhadores chineses é mesmo uma decisão que tem que se tomar "às cegas", sem fazer a mínima ideia do que as pessoas que pretendemos ajudar acham disso).

2 comments:

Anonymous said...

tendo em conta que todos os anos milhões de chineses continuam a inscrever-se no partido, a coisa vai ser dificil...

por outro lado, se apertarmos com eles mais tarde ou mais cedo a coisa explode... por exemplo tienamen, só que numa maior escala.

de resto, a base da discussão mantem-se; fome ou escravatura?

a forma leve como alguns liberais veem esta questão é angustiante.

Anonymous said...

para isto há duas soluções muito simples e eficazes.

1- incentivar o comercio justo, criar bolsas de trabalhadores, via comercio justo, que ganhem bem. desta forma matam-se dois coelhos de uma só vez, emancipação dos trabalhadores e boa qualidade de vida, é obvio que isto só pode ser poessivel em determinadas áreas, estilo produtos particulares da região.

quiçá até se podia iniciar uma revolução por lá, desta forma.

2- a OMT ter tanto poder como a OMC, porque raio os governos ouvem mais a segunda que a primeira? (eu sei porquê, estava só a fazer-me de ingenuo)