Monday, December 31, 2007

A "eficiência" da banca portuguesa (III)

Em comentário ali em baixo, Carlos G. Pinto escreve que a "a funcao economica dos bancos e' dar lucro".

Vamos ver isto por outro ângulo: qual é a função de um bancário? Claro que a questão pode ter várias resposta, conforme a perspectiva: para o bancário, em principio, a sua "função" é ganhar um ordenado; para o banco que o contrata, a "função" do bancário é desempenhar um certo conjunto de tarefas, etc.

Ou seja, quando eu digo que a "função económica dos bancos é pôr em contacto quem tem dinheiro para aplicar com quem quer pedir dinheiro emprestado" e quando o CGP diz que "a funcao economica dos bancos e' dar lucro" estamos ambos certos e errados: da perspectiva do banco, eu estou errado e o Carlos certo - a função do banco é ter lucro (tal como a do bancário, da sua perspectiva, é receber um ordenado); da perspectiva dos clientes, eu estou certo e o Carlos errado - a função é, ou aplicar as poupanças (da perspectiva de quem deposita), ou conceder empréstimos (da perspectiva de quem pede emprestado).

Assim, da perspectiva do serviço que prestam aos clientes, um banco é tão mais eficiente quanto menor for a diferença entre juros activos e passivos; e penso que também da economia no seu todo, já que uma maior diferença entre taxas activas e passivas significa maiores "custos de transacção" entre quem tem dinheiro para aplicar e quem precisa dele.

1 comment:

Carlos Guimarães Pinto said...

Caro Miguel, o meu comentário foi mais uma provocação do que qualquer outra. Um banco só irá dar lucro enquanto cumprir a sua "função económica" como tu a defines. Mas só cumprirá a sua função da melhor forma se o seu primeiro objectivo for procurar o lucro. Repara que tu concluis que o facto de os bancos portugueses eventualmente terem margens superiores resulta de serem menos eficientes. Também poderias ter concluido que é assim porque apresentam instrumentos financeiros mais sofisticados, pelos quais podem cobrar mais. Ou então que fornecem crédito a investimentos mais arriscados pelos quais podem cobrar uma taxa de juro superior. Obviamente nada disto seria possível se os bancos fossem eficientes na sua "função económica" como tu a defines. Se as taxas de juro activas fossem taxa de juro passiva + X, com X a tender para 0, haveria poucos motivos para inovar...
Em suma, o que quero dizer com tudo isto é que esse pensamento de "função económica" é demasiado perigoso e relembra-me sistemas de planificação central.