Saturday, December 01, 2007

Toda a gente?

Pacheco Pereira escreve "[Durão Barroso] lembrou, e com razão, que na altura toda a gente (incluindo serviços secretos franceses e russos, os inspectores da ONU, e muitos outros insuspeitos geopolíticos) estava convencida de que essas armas existiam".

Isto é frequentemente repetido - que, antes da guerra, "toda a gente" estava convencida que havia" armas de destruição em massa" no Iraque.

Ora, a minha memória não está assim tão má, e lembro-me perfeitamente que, em 2003, havia montes de discussões sobre se havia ou não ADMs do Iraque.

Alguns exemplos:

- Na noite em que começou a guerra, num debate (creio que na SIC Noticias), quando surgiu a noticia que o Iraque havia lançado um míssil, Luís Delgado disse qualquer coisa "Estão a ver? O Iraque sempre tinha armas proibidas pelos tratados", ao que Nuno Rogeiro respondeu que aquele género de míssil não esta proibido (e ficaram uns minutos a discutir isso). Ora, o próprio facto dessa discussão ter ocorrido parece demonstrar que não havia consenso sobre se o Iraque tinha ou não ADMs ou, em geral, armas "ilegais" (se esse consenso existisse, nem valia a pena estarem a discutir aquele lançamento de míssil)

- A 05/02/2003, Collin Powell apresentou-se no conselho de Segurança da ONU, e foi dito que ele ia apresentar as provas que o Iraque tinha AMDs. Após ele ter mostrado várias fotografias de satélite, nos dias a seguir, houve alguma polémica - ver aqui, aqui, aqui, aqui ou aqui - sobre se essas fotografias provavam alguma coisa ou não (ou seja, isto parece demonstrar que as AMDs não eram, então, algo consensualmente aceite como verdadeiro).

Note-se que, com este post, eu não pretendo discutir se Iraque (em 2002/2003) tinha ADMs ou não; o que pretendo questionar é se, antes da guerra, havia um consenso entre "toda a gente" sobre se o Iraque tinha ADMs (e parece-me que, claramente, não havia).

4 comments:

Anonymous said...

O BE acusou os americanos de esconderem as facturas. Ou foi só para brilhar no parlamento?

A prova da destruição das mesmas armas seria útil. Mas como provar a destruição de armas?? Que debate mais parvo.

Unknown said...

"ao que Nuno Rogeiro respondeu que aquele género de míssil não esta proibido (e ficaram uns minutos a discutir isso). Ora, o próprio facto dessa discussão ter ocorrido parece demonstrar que não havia consenso sobre se o Iraque tinha ou não ADMs "

Não MM, esse facto prova apenas que o Nuno Rogeiro achava que aquele foguete em concreto não era uma das ADM que se suspeitava que o Iraque AINDA tivesse.

Ainda, porque da facto não só as tivera, com as usara, as declarara e se comprometera a destrui-las.

E quanto ao Colin Powell, o MM está a inverter as coisas. Não era a ONU ou os americanos qye tinham de provar que Saddam tinha ADM. Esse facto estava assente. Era o Iraque que tinha de provar que já as não tinha.
Coisa que não fez.Coisa que, de resto, se recusou a fazer, por razões que só Saddam saberá.

E se ler as resoluções da ONU e os relatórios BLIX, perceberá o que quer dizer "toda a gente".

Toda a gente que contava...toda a gente que tinha o assunto entre mãos.

A França, a Rússia e a Alemanha, não questionavam isso. Questionavam era o uso da força como método para obrigar Saddam a cumprir as resoluções.

E as equipas de inspectores que foram para o Iraque, não foram para "provar" que lá havia WMD, mas sim para relatar se Saddam as tinha destruído, como alegava.

Unknown said...

"Mas como provar a destruição de armas?? "

Isso era mesmo o mais fácil...aquilo que se exigia ao Iraque.

A destruição não só era documentável, como deixa assinaláveis vestígios, há testemunhas e pessoas envolvidas no processo, desde os motoristas aos engenheiros, passando pelos militares, pelos escriturários, pelos empregados de limpeza, etc, etc.
Foi para isso que os inspectores foram para lá...porque não bastava a simples declaração de que elas tinham sido destruídas.

Anonymous said...

Este lidador é um brincalhão. Quer este gajo convencer-me de que ao acusar-me de qualquer coisa é eu que tenho de provar que a acusação é falsa? É um brincalhão, não há dúvida.

Se formos dar ouvidos a este pulha, de hoje para amanhã o gajo vem acusar-nos a todos de sermos assassínos e nós que remédio teremos se não deixar que o gajo entre nas nossas casas à procura das armas do crime, não as encontre e depois traga um buldozer para aplainar a nossa casa, continuar sem as encontrar, depois de ter morto toda a gente que por qualquer motivo estivesse na casa e concluir daí que nós é que tínhamos de provar a não existência das ditas armas. Pulha. Com bandalhos destes nem se discute, é deixá-los falar para o vazio.