O Poder da Fontinha, por Zé Neves, no Vias de Facto:
Do ponto de vista económico, a Fontinha não é enquadrável em nenhuma das duas alternativas que tomaram conta do debate económico no espaço mediático dominante. Essas duas alternativas rezam que ou as coisas pertencem à ordem pública regida pelo Estado ou pertencem a uma esfera privada oleada pelos mecanismos de mercado. Este é um esquema que facilmente reconhecemos nos discursos partidários: mais à esquerda, falamos dos riscos da privatização das funções económicas e sociais do Estado; mais à direita, reclama-se que o Estado deixe a sociedade entregue à liberdade individual e mercantil.O projecto Escola da Fontinha não pertence a este filme. O projecto não é determinado por objectivos mercantilistas, como reza a apologia das privatizações, segundo a qual a economia só pode funcionar se baseada num regime de competição em que todos lutem contra todos. E também não entende que o Estado seja a única alternativa a este regime liberal ou neoliberal. Na verdade, é bom de ver que o projecto da Escola da Fontinha procura antes de mais disputar o controlo de uma propriedade do Estado. Poder-se-ia também dizer, assim sendo, que o projecto da Escola da Fontinha – continue na Fontinha ou dissemine-se por outros pontos do país! – trava um combate contra o monopólio estatal da propriedade pública e contra a ideia de que a única alternativa ao Estado é a mercantilização da sociedade.
5 comments:
Isto é verdade, mas esconde uma diferença importante: a direita sentiu-se ameaçada pela Fontinha, e apoiou a atitude de Rui Rio, e a esquerda (mesmo a «tradicional») não se sentiu ameaçada pela Fontinha, e criticou a atitude de Rui Rio.
Claro que Rui Rio é de direita, e isto também justifica esta diferença na reacção, mas não tudo. Se Jorge Costa fizer o mesmo (consta que há uma ocupação em Lisboa em solidariedade com a Fontinha), a esquerda e a direita vão estar bem mais divididas, e creio que muita esquerda condenará António Costa e muita direita o apoiará.
Que o projecto encontre muito mais hostilidade à direita é realmente curioso, e merece ser analisado. Pelo texto citado, que faz muito sentido, ninguém diria.
Sobre isso, recomendo esta discussão n'O Insurgente:
http://oinsurgente.org/2012/04/25/sobre-a-fontinha/
Concordo parcialmente com a posição lá exposta - de que algum «tribalismo» e o alinhamento conhecido dos protagonistas (Rui Rio e Okupas) justificam esta reacção, como aliás escrevi no comentário acima.
Mas não é tudo. O meu cinismo em relação aos liberais de direita só vai aumentando com o tempo (talvez por causa dos tais tribalismos estejam cada vez mais semelhantes aos seus aliados conservadores, talvez nunca tenham sido muito diferentes) e é por isso que também explico esta diferente reacção ao projecto EsCoLa com uma citação da tal «Joana» que lá comenta, que não é válida para todos os liberais de direita (espero!), mas para grande parte:
«Na cabeça de um liberal insurgente, o Estado está lá apenas para punir exemplarmente, seja de que modo for. A única liberdade que conhecem é a liberdade de ter. A única iniciativa privada que conhecem é a de ter mais. A única função do estado que conhecem é a de proteger à bastonada o que têm e o que querem ter. Por isso é que ficam neste alvoroço quando suspeitam da liberdade dos outros. »
Reabilitanto um pouco os liberais d'O Insurgente:
http://oinsurgente.org/2012/04/29/duas-pessoas-ja-fazem-uma-manifestacao/
É verdade, reabilita um pouco.
Que surpresa, contribuírem para divulgar esse facto, ao qual as televisões e outros meios de comunicação social não deram importância nenhuma.
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