Pelos vistos, segundo o resumo da Business Insider, a possibilidade de haver várias moedas em competição foi um dos temas abordados no debate Paul vs. Paul (Ron a favor, Krugman contra).
A isso inspira-me a repescar o que escrevi aqui (e que, até certo ponto, retomei aqui) sobre como, num sistema com várias moedas concorrentes, seria possível (a quem o quisesse) por em prática uma "politica expansionista" por simples cooperação voluntária, sem intervenção do Estado:
Vamos à questão da reduzida massa monetária. Esse problema pode ser resolvido(?) pelo sistema de um grupo de pessoas se associar, imprimirem uns papelinhos a dizer "Vale 10 euros" (ou inventarem uma designação própria) e comprometerem-se a aceitá-los como pagamento.
Ou então nem precisam de ter uma moeda física: podem simplesmente criar um sistema contabilístico, em que começam todos com um saldo de zero euros, e quando eu compro alguma coisa ao Fernando no valor de 100 euros, passo a ter um saldo de -100 euros e ele um saldo de +100, sem nenhum dinheiro físico mudar de mãos. Se, p.ex., as regras do sistema permitirem aos membros chegarem a um saldo negativo de 500 euros, isso equivale na prática a um aumento da quantidade de moeda em circulação no valor de 500 euros por sócio (bem, não totalmente, já que essa moeda só serve para pagamentos entre os sócios).
O que eu estou a descrever não é nenhuma invenção - mais não é que um LETS, um sistema usado em muitos sítios.
A esse respeito (LETS, "moedas locais", etc.), o economista liberal (penso que versão Chicago, não Viena ou Auburn) Tyler Cowen escreveu há uns tempos:
I am more positively inclined than is Tim. First, local currencies blossom when the nominal money supply is too low and wages and prices are sticky downwards. A boost in the real money supply is needed and the private sector will do it -- albeit at high transactions costs -- even if the government will not. That's why so many of these local currencies blossomed in the 1930s but then disappeared. They did good but then they were stamped out or ceased to be necessary.
E, na actualidade, creio que essas moedas locais têm aparecido exactamente em épocas de depressão económica. A que é talvez a mais famosa de todas - o "hour" da cidade norte-americana de Ithaca - apareceu durante aquela recessão do principio dos anos 90 (a que fez o Bush pai perder as eleições). Também o WIR suiço (uma espécie de banco cooperativo cujo funcionamento faz lembrar vagamente o LETS) apareceu numa crise económica, a dos anos 30.
Bem, já temos uma maneira de aumentar a moeda em circulação sem intervenção do Estado. Mas, e quando já estamos na tal "armadilha da liquidez", em que um aumento da moeda em circulação apenas origina um aumento da moeda que os agentes entesouram?
Aí, penso que também há uma solução (que já foi posta em prática nalguns sítios): é as "notas" emitidas pela associação/cooperativa/o-que-lhe-queiramos-chamar serem impressas dizendo "esta nota só é válida até dia 31/05/2010". A partir dessa data, os membros da associação já não aceitariam essas notas como pagamento, e elas teriam que ser trocadas por notas novas, com desconto. Assim, quem as recebesse teria um incentivo para as gastar (no fundo, algo parecido com o modelo aqui proposto). Creio que os "créditos" argentinos funcionavam assim, embora não consiga encontrar nenhuma referencia.
Assim, se vivêssemos numa sociedade sem uma moeda oficial, talvez fosse possivel aos keynesianos organizarem-se em cooperativas de crédito mútuo (ou seja, bancos centrais descentralizados, passe o paradoxo) e os "austríacos" usarem as notas de bancos com reservas de ouro a 100%, e com o tempo talvez se visse qual seria o sistema que funcionaria melhor.
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