Ao que me parece, a polémica Loff/Ramos (que não me parece particularmente interessante, diga-se de passagem) é mais uma instância da velha discussão sobre se o Estado Novo foi uma forma de "fascismo". A esse respeito, repito o que escrevi aqui:
A respeito da questão sobre se o salazarismo foi uma forma de fascismo, primeiro temos que estabelecer uma coisa - qual é a diferença entre o fascismo e os outros tipos de ditadura de direita? Poderemos considerar que uma diferença é que os regimes fascistas apoiavam-se num movimento de massas mais ou menos organizado, e não apenas (como os regimes da direita "clássica") na repressão policial e militar e na influência da Igreja estabelecida e dos caciques locais.
Se irmos por aqui, dá-me a ideia (com os limites de análise a que alguém nascido em 1973 está sujeito) que Salazar está mais próximo da ditadura "clássica" do que do fascismo.
Outra questão é sobre se isso faz uma grande diferença; afinal, se formos ver, a essência da discussão sobre o "fascismo" ou não do salazarismo acaba por ser algo como "Catarina Eufémia foi morta pela GNR; num regime fascista possivelmente teria sido morta pela Legião Portuguesa"; mas será que a ela lhe faria alguma diferença?
Diria que as diferenças entre fascistas e "conservadores-autoritários" são mais relevantes antes de chegarem ao poder (uns organizam manifestações e usam uniformes, enquanto os outros conspiram com generais em restaurantes selectos). Depois de chegarem ao poder, as diferenças tenderão a esbater-se: uma ditadura clássica, se tiver ambições de continuidade, tenderá a organizar os seus apoiantes (criando, assim, uma espécie de "partido do governo"); por seu lado, depois de um movimento fascista chegar ao poder, muita gente irá entrar para o partido ou para a milícia apenas para fazer carreira, diminuindo o seu vigor ideológico e tornando-os como um mero prolongamento do aparelho de Estado.
Saturday, September 08, 2012
O Estado Novo e o fascismo (pela énesima vez)
Publicada por Miguel Madeira em 02:57
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1 comment:
Publico aqui um comentário que a Irene Pimentel tentou pôr mas não conseguiu:
Irene Pimentel disse...
Miguel Madeira
Percebo que não publique, porque tem a ver com outro blogue onde escreve, mas não consegui ali postar um comentário. Relativamente ao que escreve noutro blogue, quero dizer-lhe que concordo totalmente consigo quando diz - é um achado, aliás - «Catarina Eufémia foi morta pela GNR; num regime fascista possivelmente teria sido morta pela Legião Portuguesa"; mas será que a ela lhe faria alguma diferença?»
É isso mesmo. Só queria transmitir-lhe isto.
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