Chris Dillow considera que Rogoff e Reinhart terão cometido o mesmo erro de Keynes:
So, why do I say Reinhart and Rogoff are Keynesians? Simple. The issue here is not really one of policy; insofar as Reinhart and Rogoff's result has been used by policy-makers, it is in the way that drunks use lamp-posts - as support rather than illumination.Já eu tirei exactamente a conclusão oposta do "caso Excel" - parece-me um argumento contra a abordagem empírica vs. a racionalista (ou "apriorística").
Instead, the issue is about the culture of economics. And here, Keynes (among others) had an unfortunate if perhaps inadvertent effect.
What leaps out of his General Theory is that it is entirely unencumbered by empirical evidence. Keynes thus helped to promote an ideal of the economist as a brilliant man capable of solving problems from his armchair by dint of superb intellect*. What got undervalued in this was the importance of the mundane grunt work of careful fact-gathering.
Reinhart and Rogoff's errors, I suspect, reflect a culture which prizes brilliance - and no-one doubts that Rogoff is brilliant - over dull pedantry.
When I started work, I realized that the job of the practical economist was not so much about theorizing but more concerned with gathering and understanding data
Para começar, o que falhou aqui foi, exactamente, um estudo empírico, em que os autores fartaram-se de recolher e processar dados e estatísticas; e toda a ideia do "se a dívida ultrapassa 90% do PIB, o crescimento económico reduz-se radicalmente" é do mais empirista que há - do ponto de vista lógico/dedutivo, realmente há razões para pensar que muita dívida pública pode prejudicar o crescimento económico (largamente pelo mecanismo "muita dívida e muitos juros da dívida levam a altos impostos e/ou à expectativa de altos impostos, desincentivando a produção"), mas não há nenhuma razão para o ponto de inflexão (onde a dívida afecta significativamente o crescimento) ser nos 90%, em vez de, digamos, nos 70%, nos 85%, nos 150% ou nos 230%. E sobretudo rácios "mágicos" envolvendo uma variável stock (como a dívida pública) e uma variável fluxo (como o PIB) parecem-me sempre coisas algo arbitrárias.
E suspeito que estudos empíricos estão mais sujeitos a este género de "pequenos grandes "erros que os lógico-dedutivos: basta haver um erro em alguns dados para o resultado dar mal; é verdade que um raciocinio abstracto também está sujeito a erros (nomeadamente de erros de raciocinio), e sobretudo quando o raciocinio abstracto é formalizando matemáticamente (atravéz de cálculos algébricos cheios de letrinhas e de sinais de derivação) está sujeito a erros de sinais e coisas parecidas muito similares aos erros que os estudos empíricos podem ter - mas as esses erros são muito mais fáceis detectar: para alguém perceber um argumento abstracto, tem que seguir os passos do argumento (seja uma explicação verbal ou um cálculo algébrico), logo em pouco tempo se detecta qualquer erro. Em compensação, para perceber um argumento "empírico" não é necessário conhecer realmente os dados, nem ir refazer os cálculos e as regressões que os autores estimaram, basta ler "calculamos dados de X países de 1938 a 1985 e chegamos à conclusão que..." e normalmente assume-se que os cálculos foram bem feitos (na verdade, o próprio facto de dar muito mais trabalho analisar dados do que raciocínios leva a que os leitores de estudos empricios tenham mais a atitude de "não vale a pena estar a maçar-me a ver se isto está certo; se autores consagrados dizem que fizeram estas contas e o resultado deu este, deve estar correcto").
Um ponto final - acho um pouco peculiar ir buscar Keynes como o exemplo da atitude "racionalista" na economia: a mim até me parece que, durante muito tempo, até para aí os anos 70/80, se os keynesianos tinham um defeito até seria de excessivo empirismo ("numa recessão, um aumento da procura nominal leva a um aumento da produção e não a um aumento de preços - não sabemos explicar bem porquê, mas décadas de história económica demonstram isso"; e a primeira versão da chamada curva de Philips - segundo a qual haveria uma relação inversa entre inflação e desemprego - era puro empirismo);creio que só a partir dos anos 80 (quando começaram a perder influência na academia) é que os keynesianos começaram a procurar explicações lógico-dedutivas para coisas como a rigidez dos preços e salários nominais (nomeadamente o facto de tanto pensar em novos preços como efectivamente mudá-los ter custos - nem que seja de imprimir novos menus - e por isso poder ser vantajoso para as empresas mudar os preços só de vez em quando).
No comments:
Post a Comment