Sinceramente, acho ridículo (talvez com uma exceção), a respeito da
questão da renegociação da dívida, vir invocar que a Alemanha ainda deve
dinheiro das indemnizações da II (ou mesmo da I) Guerra Mundial.
Para
começar essa dívida já foi perdoada pelos países supostamente credores,
logo a Alemanha já não deve nada por aí (vir agora falar de dívidas que
já foram perdoadas seria como se agora se conseguisse renegociar a
dívida grega mas daqui a umas décadas voltassem a pedir o dinheiro).
Falar
disso (das dívidas perdoadas) é relevante em abstrato, como defesa do
principio que em certos momentos o melhor que há a fazer é perdoar
(total ou parcialmente) dívidas (ou juros); mas falar nisso como se se
quisesse vir agora buscar mesmo esse dinheiro acho que não tem grande
lógica.
Além disso, "indemnizações de guerra" não são
dívidas a sério - não passam de um tributo que os vencedores impunham
aos vencidos no fim das guerras; e isso aplica-se sobretudo à suposta dívida da Alemanha a Portugal, resultante de "indemnizações" de uma guerra em que Portugal se meteu largamente porque quis.
Qual a exceção que referi acima? Durante a II Guerra Mundial, os alemães
exigiram da Grécia um "empréstimo forçado", em que o Banco Central
grego imprimiu uns milhares ou milhões de dracmas que "emprestou" ao
exército alemão (creio que foi esse dinheiro que os soldados alemães
gastaram durante a ocupação). Neste caso, haverá mesmo uma dívida -
trata-se mesmo de um empréstimo que a Alemanha (quando estava na mó de
cima) contraiu junto da Grécia (não de um valor que os vencedores
decidiram que o vencido teria que pagar, como no caso das indemnizações
propriamente ditas). De qualquer forma, mesmo neste caso, se não se aplica a segunda objeção, continua a aplicar-se a primeira.
[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]
Monday, February 09, 2015
Indemnizações de guerra?
Publicada por Miguel Madeira em 22:57