No post anterior escrevi que não é muito claro o que quer dizer "acabar com a austeridade"; a principal razão é que o próprio conceito de austeridade é algo ambíguo.
Só existe uma política que toda a gente concorda que é austeridade:
- reduzir o deficit através da redução da despesa pública
Fora isso, há montes de situações que (muitas vezes ao serviço do interesse da retórica) que podem ou não ser austeridade.
- Reduzir o deficit via aumento de impostos é austeridade? Do ponto de vista do efeito sobre a procura agregada a diferença não é muita (ainda que se pode argumentar que reduzir o consumo público reduz um bocadinho mais a procura do que cortar subsídios ou subir impostos); de um ponto de vista ético pode fazer uma grande diferença, caso se considere que impostos são similares a roubo. Na prática parece-me que tanto keynesianos e "austerianos" saltam entre as duas definições conforme mais jeito der (se a economia está em recessão, o keynesiano vai procurar uma definição de austeridade que diga que há uma política de austeridade; se a economia estiver em expansão, vai procurar uma definição que diga que não há austeridade - e o "austeriano" vai fazer o contrário)
- Se se reduzir os impostos e/ou aumentar a despesa pode-se dizer que já não há austeridade? Ou a austeridade só acaba quando se regressar ao nível que se estava antes de começar a política de austeridade? Há quem diga que os efeitos macro-económicos das politicas orçamentais dependem mais da variação do saldo orçamental do que do valor em si (reduzir o deficit/aumentar o superavit - deprime a economia; aumentar o deficit/reduzir o superavit - estimula a economia), pelo que se poderia argumentar que qualquer politica de relaxamento orçamental é uma politica expansionista (se for assim, talvez nem exista o conceito de "reduzir a austeridade")
Wednesday, February 18, 2015
O que é austeridade?
Publicada por Miguel Madeira em 23:13
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