Largamente sobre outro assunto, Krugman escreve "Corporate profits have soared as a share of national income, but there is no sign of a rise in the rate of return on investment. How is that possible? Well, it’s what you would expect if rising profits reflect monopoly power rather than returns to capital."
É possível; talvez até bastante provável. Mas também há outra maneira (e até mais simples) da proporção dos lucros no rendimento nacional aumentar sem a taxa de lucro aumentar (ou até diminuir):
lucros/capital = [lucros/produto]*[produto/capital]
Assim, se o stock de capital aumentar mais depressa que o produto (ou seja, se o rácio produto/capital diminuir), podemos ter ao mesmo tempo aumento da parte do capital no rendimento nacional e manutenção ou até redução na taxa de rentabilidade do capital.
Alterando ligeiramente a fórmula acima:
lucros/capital = [lucros/salários]*[salários/capital]
lucros/capital =[lucros/salários]/[capital/salários]
Transformando em linguagem fora de moda:
taxa de lucro = taxa de mais valia / composição orgânica do capital
Ou seja, com a substituição do trabalho por máquinas (ou talvez por imobilizado incorpóreo, como patentes e afins?) no processo de produção, aumentando o que alguém chamou "composição orgânica do capital", podemos ter ao mesmo tempo aumento da parte dos lucros no rendimento (por outras palavras: "aumento da taxa de mais-valia", "pauperização relativa dos trabalhadores") sem que a taxa de lucro aumente (ou até diminua?).
Não estou a dizer que seja exatamente este mecanismo a ocorrer, mas não me parece que possa ser excluido à partida.
[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]
Monday, February 23, 2015
Revisitando a "quebra tendencial da taxa de lucro"
Publicada por Miguel Madeira em 10:52