No Expresso, Sandra Maximiano pergunta se "A corrupção veste mais saias ou calças?":
[U]m estudo realizado por Swamy e co-autores, com dados para vários países, refere que a existência de mais mulheres no parlamento coincide com menores níveis de corrupção. (...) será que uma sociedade como maior igualdade de género leva a níveis menores de corrupção ou são maiores níveis de corrupção que impedem as mulheres de atingirem os mesmos cargos e direitos que os homens?Há outra hipótese, que é haver um terceiro fator que estimula a corrupção e ao mesmo tempo dificulta a progressão das mulheres; e eu até imagino o que poderá ser esse fator - uma cultura que valorize fortemente a família alargada, a vizinhança, a aldeia natal, (ou a tribo ou o clã, no caso de sociedades com tribos e clãs) etc.; esse género de cultura é muito favorável à corrupção (sobretudo à "pequena corrupção", aquela que vive mais da troca de favores do que da troca de favores por dinheiro; mas quando a "pequena corrupção" domina, é um saltinho para se chegar à grande); e também não é particularmente favorável à emancipação feminina (ou, de uma forma geral, a roturas com as convenções sociais tradicionais).
Pelo contrário, culturas que vivem mais à volta dos pólos "individuo" (ou, quando muito, "família nuclear") e "humanidade" (ou "bem público", ou o que lhe chamarmos) tendem a ter menos "pequena corrupção" e também maior autonomia feminina (e também juvenil, p.ex. - seria interessante um estudo comparando a corrupção com o hábito de dar mesadas aos filhos: quase que apostava que as sociedades onde predomina a mesada serão menos corruptas do que aquelas onde predomina o "pai, preciso de dinheiro para [descrição da despesa que o filho vai fazer]").
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