Através de João Pereira da Silva, cheguei a este artigo[pdf] de Christos Laskos, John Milios and Euclid Tsakalotos (este último é o atual ministro das finanças grego), onde os autores (que imagino representem algo muito próximo do pensamento dominante no governo grego) basicamente defendem a posição "europeísta revolucionária" contra as posições a favor da saída do euro da "ala esquerda" do Syriza (nomeadamente de Stathis Kouvelakis e Costas Lapavitsas[pdf])
Os autores parecem-me marxistas ortodoxos do século XIX (considerando que o fundamental é a luta de classes e que as fronteiras nacionais são pouco mais que uma distração, e também com alguma desconfiança face ao Estado); já os que eles criticam parecem-me marxistas-leninistas do século XX (isto é, aquilo em que a maior parte das pessoas pensa quando houve a palavra "marxismo"), defendendo a ligação entre a luta anti-capitalista e as lutas de libertação nacional.
Algo que dá que pensar - alguma imprensa internacional noticiou a nomeação de Tsakalotos dizendo isto:
"European Monetary Union has created a split between core and periphery, and relations between the two are hierarchical and discriminatory," he wrote in a paper on the website of the Alliance for Workers' Liberty, a British socialist group.O paper é este texto (já agora, a AWL é uma organização semi-trotskista britânica, que considera que a URSS era "coletivista burocrática", ao contrário tanto dos trotskistas clássicos - que acham que era um "estado operário deformado" - como do Socialist Workers Party britânico - que acha que era "capitalista de estado"). E o que é relevante aqui é que não é Tsakatolos a dizer isso - é uma citação de Lapavitsas et al.[pdf], que Tsakatolos se dedica a criticar nos parágrafos seguintes, considerando ser uma ideia inspirada pela "teoria de dependência" (os autores parecem considerar a teoria da dependência errada, achado-a contraditória com o crescimento económico da China e outros países do Extremo-Oriente; acho que eles estão a ser muito rápidos a jogar essa teoria fora - na verdade, creio que a atual crise do euro e as análises que têm sido feitas delas até tem muito material para uma síntese entre a teoria da dependência e a macroeconomia mais mainstream). O que terá levado a imprensa a apresentar Tsakatolos como defendendo a posição oposta à que ele realmente defende nesse debate? O estilo gráfico do artigo, sem nada que à primeira vista permita distinguir citações de trechos originais não ajuda, mas suspeito que parte da culpa está nas espetativas que o século XX criou acerca do que alguém apresentado como um "marxista ortodoxo" é suposto acreditar.
Algo que me parece mais difícil de conciliar com as teses deste texto (que anda quase todo à volta de dizer que o conflito é trabalhadores contra capitalistas e não países periféricos contra países do centro) é a participação de Tsakatolos num governo de coligação com os nacionalistas de direita Gregos Independentes.
Uma nota final: os acontecimentos da última semana são capazes de estar a dar razão à outra facção.
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